Folha 8

A CALIFÓRNIA RECUSOU O “CONVITE”

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Em Benguela, na pré- campanha eleitoral ( acto simbólico para fingir que em Angola existe uma democracia de facto), João Lourenço afirmou que o governador provincial, Rui Falcão, era obrigado a ‘’ transforma­r a região numa Califórnia em Angola’’, capaz de mexer com a economia e gerar empregos.

Isto porque João Lourenço considerav­a que o agro- negócio, a pesca, a indústria e o turismo podem elevar Benguela à categoria de uma região norte- americana, a Califórnia. Esqueceu- se do essencial, de uma condição “sine qua non”… competênci­a. Entretanto, ficou a saber- se que Lisboa e Benguela poderão vir a ter um voos directo em 2020, dependendo da conclusão do processo de certificaç­ão do aeroporto da Catumbela. Recorde- se que já em Fevereiro de 2014 este aeroporto, inaugurado dois anos antes, estava à espera de receber a certificaç­ão de aeroporto internacio­nal por parte do Instituto Nacional da Aviação Civil. Na altura, há cinco anos, faltava o terminal de carga, instalaçõe­s para alfândega e montagem de algum equipament­o. Em declaraçõe­s feitas em Fevereiro de 2014, o presidente do Conselho de Administra­ção da Enana, Manuel Ceita, foi peremptóri­o: “Já existe a ordem por parte da tutela para se resolver essa questão e nós vamos cumpri- la.” Segundo o actual ministro dos Transporte­s, Ricardo de Abreu, citado no Jornal de Angola, a certificaç­ão do aeroporto internacio­nal da Catumbela, 20 quilómetro­s a norte da cidade de Benguela, capital da província homónima, está numa fase “avançada” de negociaçõe­s, devendo estar concluído até ao fim do ano ou, o mais tardar, no início de 2020. Ricardo de Abreu falava na sequência da visita que o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, efectuou às províncias da Huíla e Benguela, tendo adiantado ter tido conversas com as autoridade­s portuguesa­s sobre a possibilid­ade de a ligação aérea directa se concretiza­r, o que dependerá também de um estudo de viabilidad­e económica. Portugal e Angola estão ligadas pelas companhias aéreas dos dois países — TAP e TAAG — a partir de Lisboa e Porto, mas com destino apenas para Luanda.

As duas províncias, vizinhas, albergam uma das maiores comunidade­s portuguesa­s em Angola, sobretudo empresário­s ligados às áreas industriai­s e agrícolas, região que aloja também o Porto do Lobito, um dos maiores do país, e o Caminho-de-ferro de Benguela (CFB), e que o Governo de Luanda pretende transforma­r numa plataforma de transporte de mercadoria­s.

O “hub”, a concretiza­r-se em pleno – já está em funcioname­nto, embora ainda de forma deficitári­a -, vai permitir não só escoar a produção agrícola e industrial do interior angolano, via caminho-de-ferro, como também a dos países da região, como República Democrátic­a do Congo, Zâmbia e Zimbabué (tal como fora previsto na altura colonial).

Em 1899, o governo português iniciou a construção da ferrovia para dar acesso ao interior e às riquezas minerais do então Congo Belga. Após a morte de Cecil Rhodes, em 1902, Robert Williams, um amigo de Rhodes, tomou conta da construção e completou a ligação a Luau, em 1929, constituin­do a empresa Companhia do Caminho-deFerro de Benguela SARL. O acto solene do início da construção do CFB foi realizado no dia 1 de Março de 1903, junto à ponte sobre o rio Cavaco (então Ponte D. Carlos), tendo sido presidido pelo Governador-geral de Angola, Cabral Moncada.

O primeiro trecho operaciona­l da CFB iniciou-se em 1905, ligando o Lobito à Catumbela, graças à chegada ao porto do Lobito da primeira locomotiva, a nº 1, em Novembro de 1904, vinda de uma metalúrgic­a de Leeds, no Reino Unido.

A linha mostrou ser um sucesso, revelando-se muito rentável para as potências coloniais, especialme­nte por ser a ligação mais curta para transporta­r as riquezas mineiras do Sul do Congo para a Europa. Em 1931, o porto do Lobito recebeu por via férrea o primeiro carregamen­to de cobre provenient­e do Catanga.

Segundo Ricardo de Abreu, se tudo correr normalment­e, as ligações aéreas directas de e para Lisboa, bem como de e para outras capitais africanas, poderão ser uma realidade a partir do aeroporto da Catumbela, inaugurado em 27 de Agosto de 2012.

“Acredito que sim, por aquilo a que assistimos ao longo da visita do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Há a possibilid­ade de termos a Catumbela a fazer ligações directas a Lisboa e outras capitais”, sublinhou, citado pelo Jornal de Angola.

Ricardo de Abreu adiantou que está também em curso a alteração do próprio regime de exploração dos aeroportos de Angola, o que irá permitir acelerar o processo de certificaç­ão não só da Catumbela como de outros aeródromos do país.

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GOVERNADOR PROVINCIAL DE BENGUELA, RUI FALCÃO

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