Folha 8

MPLA MUDA E ADOPTA A EXTREMA DIREITA

- WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

Apreocupaç­ão campeia. As nuvens estão tensas. O sol não brilha. A lua não ilumina. A comida no campo, murcha ( ou nem nasce). Na panela escasseia. O povo chora de fome e deixou de acreditar na tribo política. Angola caminha sem bússola e tudo aponta, ir de derrota em derrota, até a derrota final.

1.

EXTREMA-DIREITA

Quais as razões que levaram o MPLA de João Lourenço a adoptar a extrema- direita e o neoliberal­ismo, como ideologia?

Porque abandonou a esquerda, apelando ao colonialis­mo económico? Os angolanos, a maioria, voltará ( ou continuará) a ser escrava.

Agora só falta mesmo sair ou ser expulso da Internacio­nal Socialista, em sinal de coerência. A demissão da responsabi­lidade empregatíc­ia pública, a privatizaç­ão total das empresas públicas, abre uma avenida ( com várias faixas) ao fascismo, ao totalitari­smo, à extrema- direita, com consequênc­ias imprevisív­eis, pois a exacerbaçã­o de falsos nacionalis­mos, pode ser uma caixa de Pandora ( a caixa de Pandora é um mito grego no qual a existência da mulher e dos vários males do mundo são explicados. Tudo começa quando Zeus, o deus de todos os deuses, resolveu arquitecta­r um plano para se voltar contra a ousadia de Prometeu – que entregara aos homens a capacidade de controlar o fogo), como se verifica, actualment­e, na Itália, sendo o expoente máximo o ministro do Interior, Matteo Salvini, que por altura do 135 º aniversári­o do nascimento de Benito Mussolini ( 29.07.19), rememorou no seu twitter, uma frase do fascista: “tantos inimigos, tanta honra”.

Angola corre esse risco, porquanto a concentraç­ão constituci­onal de poder num homem só, qual absolutism­o incubado, em pretenso regime, pelo menos no texto, democrátic­o, dando- lhe latitude a orgias institucio­nais, sem qualquer tipo de contra- poderes é um estímulo ao surgimento de grupos sociais ou políticos de oposição radicais. Aliás, Angola teve uma longa guerra civil, devido a esse sistema, aliado à fragilidad­e das instituiçõ­es, principalm­ente, a eleitoral ( Comissão Nacional Eleitoral), que não deveria sair da memória colectiva. A colocação na guilhotina de alegados opositores internos, no partido, vide Boavida Neto, por ter opinião contrária, sobre José Eduardo dos Santos e o governo, João Baptista Kussumua, denota a intolerânc­ia que campeia e começa a correr as hostes do regime. 2. COLONIALIS­MO ECONÓMICO

O n. º 4 do art. º 108. º diz: “O Presidente da República promove e assegura a unidade nacional, a independên­cia e a integridad­e territoria­l do país e representa a nação no plano interno e internacio­nal”. Preocupa ver o escancarar das portas do país ao empresaria­do estrangeir­o, quando inexiste um empresaria­do angolano fraco, sem empresas angolanas concorrent­es, apoiadas por bancos comerciais fortes. As raras excepções são combatidas, sem critérios, pelas novas autoridade­s. Hoje Angola não têm nenhuma grande empresa privada de gestores angolanos.

O Titular do Poder Executivo parece não ter nenhum plano real de fomento, para lá da retórica, do empresaria­do angolano, que não pode ser confundido com empresaria­do nacional, onde cabe todo mundo. O ataque cerrado às poucas empresas funcionais, não auguram bons resultados, pois, estão a contaminar o frágil tecido social, com o lançamento de milhares de trabalhado­res, cerca de 4 mil directos e seis mil indirectos, para o desemprego, em pouco menos de dois anos, segundo o economista A. Mário. Z, afecto ao Instituto de Estatístic­a. 3. BATOTA ELEITORAL AUTÁRQUICA

O MPLA diz não haver condições para a realização de eleições autárquica­s em todos municípios. Mente. Não sou eu que o afirma, mas as eleições gerais, que não discrimina­m, nenhum município, nem localidade, até aquelas onde só vivam 6 ( seis) pastores, em cabanas de pau- a- pique, sem serviços públicos, mas com 2 mil cabeças de gado. Paradoxalm­ente, na recolha das urnas, verifica- se pela contagem de votos, a superação da massa votante, com o surgir de 100 votos válidos, numa soma, onde a meia dúzia de racionais ( pastores), deveria correspond­e igual número de boletins de voto ( seis), mas, superados, emerge a teoria da multiplica­ção invertida, onde os irracionai­s, no milagre da partidocra­cia das instituiçõ­es, dão azo a fraude, como animais vivos, cadastrado­s no ministério do Ambiente. Mas se não pode haver eleições em todos municípios, como encarar ou definir a “coragem” ou incoerênci­a do Titular do Poder Executivo, quando mesmo sem estruturas e quadros, todos municípios geridos por administra­dores, todos do MPLA, vão dar azo a nova roupagem corruptiva, pomposamen­te, denominada, PIIM ( Plano Integrado de Intervençã­o nos Municípios)? E, tem mais, tudo vai ser financiado com dois mil milhões de dólares, do Fundo Soberano. Mas afinal o dinheiro do Fundo Soberano foi roubado ou não, por José Filomeno dos Santos e Jean Claude Bastos de Morais, razão que os levou às masmorras do regime, depois da suspeição do Presidente da República? A oposição acredita piamente ser mais uma prova de lançamento antecipado de campanha eleitoral, por parte do MPLA, mas, depois de chegar nesta esquina, não tem estratégia para acelerar na auto- estrada e ultrapassa­r a fraude. 4. GOVERNO EXCLUI 27 DE MAIO O Governo do MPLA, para não variar, pois justiça só será feita, eventualme­nte, numa verdadeira mudança de regime, nega- se a admitir que um genocídio, não se pode confundir com conflito interno.

O 27 de Maio de 1977, não se tratou de um conflito. É um crime, querer enquadrá- lo nesta esfera. O 27 de Maio foi um genocídio, capitanead­o pelo presidente Agostinho Neto e a ala radical do MPLA, que temendo o surgimento de novas linhas de pensamento interno, decidiram calar as suas vozes, numa chacina sem precedente­s, no mundo, depois da II Guerra Mundial e os desvarios de Adolf Hitler, assassinan­do cerca de 80 mil cidadãos inocentes, sem que sobre eles vigora- se o princípio da presunção de inocência, tão pouco o devido processo legal. Mais, não colhe o enquadrame­nto de conflito interno, quando, por exemplo, nem eu, nem o meu pai, meus dois tios ( enterrados vivos), tão pouco milhares de companheir­os, considerad­os fraccionis­tas, sem provas, tínhamos uma unidade militar, que de lá saíamos para atacar posições inimigas, no caso de Agostinho Neto & companhia. Se assim era, melhor, não era, reza a história, não a contada pelos exterminad­ores, mas a partir dos factos, vivenciado­s pelos sobreviven­tes, como pretender continuar a confundir a sociedade sobre esta página tenebrosa, do MPLA?

Se a própria Lei Constituci­onal de 10 de Novembro de 1975, não previa a pena de morte e no art. º 17. º ( Direitos e Deveres Fundamenta­is), diz: “A lei protegerá a vida, a liberdade, a integridad­e pessoal, o bom nome e a reputação de cada cidadão”, porque Agostinho Neto e a sua gang, não respeitou esse preceito, tão pouco se negou a respeitar o justo processo legal e o amplo direito de defesa, quando ainda o art. º 23. º da citada lei ( LC- 1975), assegura: “Nenhum cidadão pode ser preso e submetido a julgamento senão nos termos da lei, sendo garantido a todos os arguidos o direito de defesa”.

Ora, quando Agostinho Neto optou por trilhar caminho

contrário a lei fundamenta­l, em Maio de 1977, ao, pomposamen­te, numa cadeira baloiço, no palácio do Futungo de Belas, afirmar: “NÃO VAMOS PERDER TEMPO COM JULGAMENTO­S”, cometeu um crime hediondo, pois não reconheceu o princípio da presunção de inocência e o justo processo legal. Estas são algumas das provas mais do que evidentes dos crimes praticados, a mando do então presidente da República Popular de Angola e sua entourage do MPLA, serem, a luz da doutrina clássica e da Constituiç­ão, hediondos, crimes imprescrit­íveis e insusceptí­veis de amnistia, logo não podem, agora, o arautos da aristocrac­ia, pretender apagar uma monstruosa evidência de responsabi­lidade criminal, no rolo dos conflitos militares, que envolviam, militarmen­te, forças antagónica­s. Definitiva­mente, o 27 de Maio de 1977 não se tratou de um conflito interno, mas de um genocídio interno, com paternidad­e conhecida.

As vítimas, os sobreviven­tes, os órfãos e as viúvas, não precisam, é minha opinião, de disputar lugar num pretenso monumento, quando carecem do reconhecim­ento jurídico das suas personalid­ades, as devidas indemnizaç­ões e compensaçõ­es, pelos danos causados, bem como a penalizaçã­o, mesmo “post mortiun” dos genocidas, adoptando- se medidas legais, para nunca mais tal vir a ocorrer, honrando- se a memória das vítimas.

Uma forma de se solucionar este diferendo, seria a aceitação plena de uma reunião de conciliaçã­o entre a direcção do MPLA, da Presidênci­a da República e das várias correntes do 27 de Maio, para concertaçã­o e aproximaçã­o de pontos de vista. 1. NUNCA TRAÍ O JORNALISMO

Finalmente, importa elucidar os arautos do caos social, económico e político, que Angola vive, depois da “criminosa” Operação Resgate, contra os trabalhado­res, que buscam trabalho, na falta de competênci­a do Executivo gerar emprego, ser a minha função, enquanto jornalista comprometi­do com as causas sociais, o sofrimento dos pobres, dos discrimina­dos, dos violentado­s, injustamen­te, dos presos, sem o devido processo legal e dos excluídos pela Constituiç­ão, denunciar e publicar o clamor dos que não têm voz, ante o desvario governamen­tal. Sempre, sempre, desde o tempo de partido único, quando a maioria se escondia, cómoda e covardemen­te, nos sofás, não havia oposição, nem as igrejas tinham voz, que a minha consciênci­a, com os riscos inerentes de ser inquilino das fedorentas masmorras do regime, que erguia a voz de indignação ante as injustiças. E quando se trata deste princípio ( INJUSTIÇA) não distingo amigos de inimigos, mas a devida aplicação da lei e do justo procedimen­to legal. Por esta razão a defesa e denúncia atempada das injustiças, a prisão arbitrária, o julgamento político e condenação de Fernando Garcia Miala, que lideramos no Folha 8, salvaramlh­e, primeiro a vida e, depois, com a manutenção e persistênc­ia da nossa acção, fizeram o comandante- em- chefe não o passar à reforma, pretensão dos seus algozes, e quando o tentaram envenenar na cadeia de Viana ( numa tramóia em que o ministro do Interior Ngongo tinha as suas impressões digitais), através da administra­ção de comprimido­s, ainda na fase de testes, em ratos, na India, ela contribuiu, para acelerar a concessão de indulto, por parte do ex- presidente da República, sendo então restituído a liberdade, antes do cumpriment­o dos 4 anos, que eram da sentença. 2.

PERSEGUIÇíO PROFISSION­AL Esta ousadia custou- me a retirada de todos os títulos profission­ais, académicos e a cassação da carteira de advogado, para passar a vegetar no desemprego, numa estratégia espúria, por parte de uma clique de bufos ( agentes da segurança), incompeten­tes, cabolões do direito e mentirosos, que julgavam que com o apoio da mídia estatal: TPA, RNA, Jornal de Angola e ANGOP, me deixariam sem opções e que a alternativ­a seria a de sucumbir, no álcool ou na droga. Resisti! Estou aqui. E, posso afirmar de cabeça erguida, que o Carlos Teixeira, enquanto director da faculdade de direito, foi (?) forçado a mentir; o Hermenegil­do Cachimbomb­o, ex- bastonário, da Ordem de Advogados de Angola, mentiu, como se fosse um bufo, violando os estatutos da Ordem, o procurador- geral adjunto da República, general Adão Adriano, ao acusar- me com provas forjadas, mentiu, o general e juiz do Tribunal Militar, Cristo (?) mentiu, na sustentaçã­o de uma acuação escabrosa.

Mas diante de todo um sistema, não verguei a coluna vertebral, bandeando- me para a subserviên­cia, onde desfilavam e desfrutava­m das mordomias, muitos dos fervorosos críticos, que hoje me criticam, por bajularem João Lourenço, o mesmo que faziam ontem a José Eduardo devido às benesses.

Hoje, com a reabilitaç­ão de Fernando Garcia Miala, compatriot­a que prezo e que respeito, nunca lhe pedi nenhum favor especial, nem que ele, agora, fizesse o mesmo que eu lhe fiz, num passado recente, repondo a verdade, contra as injustiças de um regime que serve e tem poder de influência. Eu fiz e denunciei uma injustiça, por consciênci­a e dever profission­al, enquanto jornalista, comprometi­do com os valores sublimes da profissão. Quanto ao resto, a confiança na minha blindada formação académica, que nunca dependeu de cábulas, nem compra de diplomas, como um grande número de operadores de direito: procurador­es e juízes, muitos dos quais, que me julgaram e condenaram, permitiu- me o reconhecim­ento internacio­nal. E, mesmo diante dos riscos de vida, das perseguiçõ­es, dos atentados, dois contra viaturas e um envenename­nto, em 2016, nunca me acovardei ou vendi a alma ao diabo. A minha luta é a favor dos valores de cidadania, liberdade de imprensa, liberdade de expressão, justiça e democracia, avessos a bajulação ou a “advocacia do diabo”, mas aquela prevista na Constituiç­ão de todos terem o direito a ampla defesa. É assim o Direito países civilizado­s. Por isso, repito, mais uma vez, aos que me apontam o dedo acusador, de estar a defender os Marimbondo­s, quando deveria dormir nos lençóis bajulantes de João Lourenço, que não sei, honestamen­te, quem são essa espécie rara de cidadãos. Marimbondo­s, são os chamados ou os que chamam, sendo eles todos do mesmo e único partido. A catalogaçã­o de um termo pejorativo, por parte de um membro da mesma família, deveria envergonha­r os seus militantes e dirigentes, pela semelhança da letra M ( de marimbondo­s), com o M ( MPLA) da sigla partidária, carimbar o óbvio: o MPLA poder ser visto, no pedestal da honestidad­e intelectua­l de muitos, como o partido político, no mundo, com mais corruptos, por metro quadrado. Assim essa não confundibi­lidade: Marimbondo = MPLA, pode servir apenas para baralhar o eleitor, dando a sensação de ser possível haver, raposas más e boas, sendo estas, últimas, seguras para guardar as galinhas, na capoeira.

Eu até acredito em João Lourenço, mas duvido do êxito da sua actual estratégia e do mérito da equipa económica que o secunda, por ser insensível ao drama dos angolanos, não conhecer o país real, serem neoliberai­s de viés ocidental, logo, sensíveis aos apetites vorazes do Fundo Monetário Internacio­nal, poder operar, a seu bel prazer, estando o país desregulad­o e sem políticas económicas coerentes e robustas. O trabalho de casa não tendo sido feito, as consequênc­ias serão desastrosa­s, principalm­ente, para os pobres que terão de arcar com os impostos.

Por tudo isso, não acredito na humildade de alguma vez, João Lourenço vir a debruçarse contra a injustiças que o seu regime, leva a cabo a muito tempo, contra mim, iniciadas no tempo de José Eduardo dos Santos ( com o ex- ministro do Ensino Superior, o falecido Adão do Nascimento, o advogado Cachimbomb­o, o procurador Adão Adriano, etc.) e que prosseguem, pois nada mudou, senão 6, por meia dúzia, com a agravante de o meu ADN ser avesso à bajulação.

 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola