EDUARDO, JOÃO E O PSICOTERAPEUTA DE AMBOS
Se alguma coisa há capaz de indignar e agastar – nos limites da dignidade do ser- humano – não será outra maior ou até outra coisa qualquer senão que a traição vil e a torpe deslealdade. Muito naturalmente a grandeza dessa indignação não deixará de ser proporcional à proximidade e intimidade entre os perpetradores e os traídos; bem como o próprio grau de intensidade da mesma; e por fim a quantidade – ainda que em doses homeopáticas – de eventos nesse exercício muito humano de trair e ser atraiçoado ( num paralelismo similar ao envenenamento por arsénio que sendo ténue poderá todavia ser mortal).
Caros leitores, deixo- vos um conselho amargo: sede des
confiados e não creiais em ninguém ( deveria pela lógica escrever alguém mas a língua é uma coisa e a matemática é outra) nem em sequer em vós próprios – pois não foi outro que não Nietzsche que disse que nós próprios somos o nosso maior inimigo? – e dessa forma, se não vos tornardes num alienado paranóico e esquizofrénico evitareis a mais mesquinha das crueldades. Justamente a traição. Desta forma e dado o mote, num exercício puramente especulativo tentemos imaginar o que JES sentirá em relação a JLO. Como é típico de regimes comunistas totalitários, a sucessão deste deu- se por indicação expressa daquele, mesmo que em simulacros de plenários do partido ( que efectivamente está totalmente fragmentado… e partido) nem grandes barões nem a raia miúda estivessem especialmente inclinados para a designação de JLO. Foi então, de certo modo, uma surpresa e contra as correntes de opinião vigentes – num último assomo de vigor consubstanciado na persistência ou teimosia ( são a mesma coisa mas num caso será uma qualidade virtuosa e no outra defeito reprovável) – a forma como o santomense exerceu um derradeiro gesto de autoridade no processo de sucessão da “cleptoplutoligarquia” angolana. Mal ele sabia que foi o canto de cisne ( antes de morrer os cisnes recitam um belo e último canto). Porque Eduardo dos Santos o terá feito julgo que ninguém saberá muito bem, nem sequer ele, o seu psiquiatra ou o “medicozito” catalão que tão histrionicamente defende o seu paciente doente. Agora uma coisa é sabida, tratam- se de duas figuras com extraordinárias capacidades pois de outra maneira não chegariam tão longe num universo pejado de armadilhas pior que um lodaçal putrefacto de lamas movediças e tóxicas matizado por minas e jacarés e monstros que nem a mitologia helénica sequer imaginou existirem. Ambos ultrapassaram todas estas dúzias de trabalhos. Muitos mais do que os de Hércules já que se aludiu à mitologia grega. É óbvio que JLO tem uma missão. É uma pessoa muito inteligente e culta e não me acredito que esteja numa situação como a de Bolsonaro – dada sua burrice e ignorância congénitas – tão dependente de assessores e mentores. De outra forma não teria tanta coragem e determinação. Missão bastante nobre reconheçamo- lo. E maquiavelicamente preparada com destreza de xadrezista, anos a fio matutando e aprimorando o golpe palaciano que acabaria por o levar ao poder. Ensimesmado obviamente, pois duvido que sequer os amigos – como se os houvesse na política – soubessem da globalidade e amplitude dos ardis da futura e pretensa usurpação e tomada de assalto ao poder, caso na futuridade se conjugassem todos os factores e se alinhassem as estrelas e planetas da economia e política, dado que os outros factores, os endógenos, ou seja, os que dependiam dele, tais como as artimanhas, o trabalho de sapa e desminagem e a capacidade de engolir em seco e calar- se abstendo- se de exprimir revolta ou emitir opiniões contraproducentes comprometedoras; foram ultrapassadas com elevada distinção superando alguns dos seus guias como Estaline, Saddam e Kadhafi.