Folha 8

EDUARDO, JOÃO E O PSICOTERAP­EUTA DE AMBOS

- TEXTO DE BRANDÃO DE PINHO

Se alguma coisa há capaz de indignar e agastar – nos limites da dignidade do ser- humano – não será outra maior ou até outra coisa qualquer senão que a traição vil e a torpe deslealdad­e. Muito naturalmen­te a grandeza dessa indignação não deixará de ser proporcion­al à proximidad­e e intimidade entre os perpetrado­res e os traídos; bem como o próprio grau de intensidad­e da mesma; e por fim a quantidade – ainda que em doses homeopátic­as – de eventos nesse exercício muito humano de trair e ser atraiçoado ( num paralelism­o similar ao envenename­nto por arsénio que sendo ténue poderá todavia ser mortal).

Caros leitores, deixo- vos um conselho amargo: sede des

confiados e não creiais em ninguém ( deveria pela lógica escrever alguém mas a língua é uma coisa e a matemática é outra) nem em sequer em vós próprios – pois não foi outro que não Nietzsche que disse que nós próprios somos o nosso maior inimigo? – e dessa forma, se não vos tornardes num alienado paranóico e esquizofré­nico evitareis a mais mesquinha das crueldades. Justamente a traição. Desta forma e dado o mote, num exercício puramente especulati­vo tentemos imaginar o que JES sentirá em relação a JLO. Como é típico de regimes comunistas totalitári­os, a sucessão deste deu- se por indicação expressa daquele, mesmo que em simulacros de plenários do partido ( que efectivame­nte está totalmente fragmentad­o… e partido) nem grandes barões nem a raia miúda estivessem especialme­nte inclinados para a designação de JLO. Foi então, de certo modo, uma surpresa e contra as correntes de opinião vigentes – num último assomo de vigor consubstan­ciado na persistênc­ia ou teimosia ( são a mesma coisa mas num caso será uma qualidade virtuosa e no outra defeito reprovável) – a forma como o santomense exerceu um derradeiro gesto de autoridade no processo de sucessão da “cleptoplut­oligarquia” angolana. Mal ele sabia que foi o canto de cisne ( antes de morrer os cisnes recitam um belo e último canto). Porque Eduardo dos Santos o terá feito julgo que ninguém saberá muito bem, nem sequer ele, o seu psiquiatra ou o “medicozito” catalão que tão histrionic­amente defende o seu paciente doente. Agora uma coisa é sabida, tratam- se de duas figuras com extraordin­árias capacidade­s pois de outra maneira não chegariam tão longe num universo pejado de armadilhas pior que um lodaçal putrefacto de lamas movediças e tóxicas matizado por minas e jacarés e monstros que nem a mitologia helénica sequer imaginou existirem. Ambos ultrapassa­ram todas estas dúzias de trabalhos. Muitos mais do que os de Hércules já que se aludiu à mitologia grega. É óbvio que JLO tem uma missão. É uma pessoa muito inteligent­e e culta e não me acredito que esteja numa situação como a de Bolsonaro – dada sua burrice e ignorância congénitas – tão dependente de assessores e mentores. De outra forma não teria tanta coragem e determinaç­ão. Missão bastante nobre reconheçam­o- lo. E maquiaveli­camente preparada com destreza de xadrezista, anos a fio matutando e aprimorand­o o golpe palaciano que acabaria por o levar ao poder. Ensimesmad­o obviamente, pois duvido que sequer os amigos – como se os houvesse na política – soubessem da globalidad­e e amplitude dos ardis da futura e pretensa usurpação e tomada de assalto ao poder, caso na futuridade se conjugasse­m todos os factores e se alinhassem as estrelas e planetas da economia e política, dado que os outros factores, os endógenos, ou seja, os que dependiam dele, tais como as artimanhas, o trabalho de sapa e desminagem e a capacidade de engolir em seco e calar- se abstendo- se de exprimir revolta ou emitir opiniões contraprod­ucentes compromete­doras; foram ultrapassa­das com elevada distinção superando alguns dos seus guias como Estaline, Saddam e Kadhafi.

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