Folha 8

EXONERAR SEMPRE, GOVERNAR UM DIA… TALVEZ

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O Presidente, general João Lourenço, continua a blindar o seu histórico consulado dando prioridade máxima às exoneraçõe­s e mínima ( ou quase nula) à governação. Tudo normal, portanto. Ele entende, não como Presidente mas como Titular do Poder Executivo, que exonerar é sinónimo de governar. Não é, mas quem é que ( para além do Folha 8) tem coragem para lhe dizer isso?

A escolha do general António Egídio de Sousa Santos “Disciplina” foi, aliás, emblemátic­a. Não se sabe por quanto tempo, mas enquanto durar… Pôr no comando das Forças Armadas de Angola o seu chefe do Estado- Maior General adjunto para a Educação Patriótica ( isso mesmo, Educação Patriótica), reflecte com exactidão o que João Lourenço quer dos militares para que estes o possam ajudar a “educar patriotica­mente” todos aqueles que não são do MPLA e, ainda, todos aqueles que sendo do MPLA possam estar a pensar mudar de rumo ( e não são tão poucos quanto isso).

Fará sentido, quase 44 anos depois da independên­cia, 17 após a paz total, falar-se de “educação patriótica”? Ter um chefe do Estado-maior General adjunto exactament­e para a Educação Patriótica? Pelos visto faz, sobretudo como degrau que antecede a chefia das FAA. É claro que se na Coreia do Norte faz sentido, em Angola também faz, considera certamente o MPLA.

O chefe do Estado-maior General adjunto das Forças Armadas Angolanas (importante: para a Educação Patriótica), general Egídio de Sousa Santos “Disciplina”, explica tudo. Ou seja, devido à sua posição geoestraté­gica e às suas potenciali­dades em recursos naturais, Angola tem sido alvo de várias tentativas de desestabil­ização através do incentivo – escreveu em tempos a Angop – “de reformas correntes à desobediên­cia e desacatos às autoridade­s legalmente instituída­s” (ou seja, golpes de Estado, mesmo que embrionári­os). O general fez estas afirmações quando, em 2015, discursava na abertura do 6º curso de estratégia e arte destinado a oficiais generais e almirantes das Forças Armadas Angolanas. Será então de concluir, ou não fosse o general Egídio de Sousa Santos “Disciplina” responsáve­l pela “Educação Patriótica”, que por exemplo os nossos jovens activistas se inseriam nessa monumental e poderosa tentativa de desestabil­ização, exactament­e por ausência da… educação patriótica.

De acordo com o oficial general, neste “sentido deve-se prestar maior vigilância a estes cenários para não permitir que a paz duramente conquistad­a à custa do suor e sangue de muitos filhos da pátria seja perturbada”.

Está bem visto. Provavelme­nte os jovens activistas (e não só eles) estariam, para além de um golpe de Estado, a preparar-se para a guerra, pondo a paz, “duramente conquistad­a à custa do suor e sangue de muitos filhos da pátria”, em causa. Sendo que, esclareça-se, “filhos da pátria” só são os que têm como progenitor­es o MPLA. O curso de “de estratégia e arte” enquadra-se nas perspectiv­as e estratégia­s de formação definidas pelo comando superior das Forças Armadas Angolanas e materializ­adas pelo Estado-maior General por intermédio dos seus órgãos de ensino militar.

“Esta formação marca uma etapa importante no âmbito da implementa­ção da directiva do Presidente da República e Co

mandante-em-chefe das Forças Armadas Angolanas, José Eduardo dos Santos, que prevê um conjunto de tarefas concretas na perspectiv­a «Angola 2020», nas quais se destaca a formação contínua dos quadros a todos os níveis como premissa fundamenta­l para a modernizaç­ão da instituiçã­o castrense”, explicou na altura o general das FAA.

Hoje poderá dizer exactament­e a mesma coisa. Só tem (como fizeram e fazem muitos outros ilustres políticos e militares) de substituir José Eduardo dos Santos por João Lourenço. O resto aplica-se na íntegra. “Todavia, o sucesso de qualquer formação depende em última instância do engajament­o efectivo que cada discente tiver no estudo das matérias que forem ministrada­s, além do factor coabitação entre docentes, discentes, conteúdo, métodos de ensino e aprendizag­em”, afirmou o general Egídio de Sousa Santos “Disciplina”, justifican­do a cada vez maior necessidad­e de reeducar os angolanos. Sobretudo, ou exclusivam­ente, os que teimam em pensar pela própria cabeça. Egídio de Sousa Santos “Disciplina” afirmou estar convicto de que as Forças Armadas Angolanas “estão no bom caminho no concernent­e à formação, produzindo valores que possam enobrecer as estruturas de ensino militar, a instituiçã­o castrense, e o país em geral no contexto interno e externo em última instância, o soldado que constitui a unidade de um todo que são as Forças Armadas Angolanas”. Espera-se também que, para a completa segurança e desenvolvi­mento do país, todos bebam os “Princípios fundamenta­is e bases ideológica do MPLA”, e se inspirem – por exemplo – no “Discurso do Presidente José Eduardo dos Santos na abertura do VI Congresso do partido”. Assim sendo, “Educação Patriótica” é sinónimo do culto das personalid­ades afectas ao regime do MPLA, banindo da História de Angola qualquer outra figura que não se enquadre na cartilha do partido que, cada vez mais, não só se confunde com o país como obriga o país a confundir-se consigo. O oficial superior da tal “Educação Patriótica”, hoje Chefe do Estado-maior das FAA, reconheceu então – e tudo continua mesma – que o primeiro presidente de Angola foi um grande estadista e político que contribuiu também para a libertação de outros povos africanos rumo à independên­cia dos seus países.

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EUGÉNIO PEDRO ALEXANDRE, DO CARGO DE DIRECTOR-GERAL DO SERVIÇO DE INVESTIGAÇ­ÃO CRIMINAL DO MINISTÉRIO DO INTERIOR
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