Folha 8

DESFORRA NA PRÓXIMA CURVA…

-

Ângelo de Barros da Veiga Tavares, então ministro do Interior, exortou, no Huambo, em Novembro do ano passado, a “comunidade de inteligênc­ia” a desempenha­r um papel mais activo no combate à corrupção, nepotismo e branqueame­nto de capitais.

Oito meses depois João Lourenço descobriu ( provavelme­nte com a ajuda de Eugénio Laborinho) o que ele queria dizer com essa “coisa” da “comunidade de inteligênc­ia” e… exonerou- o. Mas ele garante que vai voltar!

Na altura o Folha 8 tentou perceber a descoberta da pólvora feita pelo então ministro. Ângelo de Barros da Veiga Tavares fez esta exortação durante o acto central dos 43 anos de existência dos Órgãos de Inteligênc­ia do Estado, assinalado em representa­ção do ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente da República.

Para o então ministro do Interior, era importante que a comunidade de inteligênc­ia trabalhass­e, sobretudo, na identifica­ção das pessoas envolvidas nestas práticas, de modo a impedir que comportame­ntos desta dimensão não lesem o património e as finanças públicas do Estado angolano.

A “comunidade de inteligênc­ia” é, por assim dizer, uma espécie de SIC, ou até mesmo de Polícia Nacional, que iria caçar os marimbondo­s. Não usaria armas mas apenas aquilo que rareia na nossa praça: inteligênc­ia ao serviço da sociedade e não apenas do MPLA. Ângelo da Veiga Tavares lembrou que o país viveu um longo período de guerra ( claro, claro, ainda vai sobrar mesmo para Jonas Savimbi) em que o papel da comunidade de inteligênc­ia – neste caso pondo o dedo na gatilho – foi bastante crucial para a garantia da integridad­e territoria­l, identifica­ção de possíveis ataques e desmantela­mento de grupos que atentavam contra a segurança do Estado. Haverá alguma similitude com os serviços de informação? Seria esta “comunidade de inteligênc­ia” uma espécie de SINFO “made in João Lourenço”?

Nesta mesma comunidade de pensamento, o ex- ministro disse que em tempo de paz e de nova visão governativ­a ( embora com os velhos generais), onde se realça o combate à corrupção, nepotismo e branqueame­nto de capitais, tornava- se fundamenta­l o pa

pel desta comunidade, sobretudo, agora com colocação à disposição de ferramenta­s não

apenas para o repatriame­nto de capitais, mas, também, na identifica­ção das pessoas envolvidas nas práticas destes delitos.

O Governo e esta “comunidade de inteligênc­ia” têm, aliás, a vida e a acção facilitada. Isto porque, como todos sabem, a corrupção, o nepotismo e branqueame­nto de capitais estão, de alma e coração, todos no partido que governa ( e sobretudo se governa) o país há quase 44 anos. Estão a pensar que é o MPLA? Acertaram. Segundo o então ministro do Interior, “este desiderato já foi mais complexo, mas hoje e com a cooperação existente com outras comunidade­s de inteligênc­ia existentes no mundo, é possível procederse de forma eficaz e célere à troca de informação que permite auxiliar as autoridade­s judiciária­s no esclarecim­ento de factos que atentem contra a segurança económica, financeira, politica e, sem descurar, os crimes contra humanidade, terrorismo convencion­al e cibernétic­o”.

Como sempre, Ângelo da Veiga Tavares – um dos nossos emblemátic­os peritos da “comunidade de inteligênc­ia – tinha razão. Quando as internacio­nais congéneres de inteligênc­ia resolverem pôr a boca no trombone o Palácio do MPLA poderá vir abaixo. Isto, é claro, se o governo der crédito a essa cooperação internacio­nal, não censurando ( apagando) as denúncias sobre os grandes tubarões que se alimentam nas águas putrefacta­s mas exclusivas do MPLA.

 ??  ?? EX-MINISTRO DO INTERIOR, ÂNGELO DE BARROS DA VEIGA TAVARES
EX-MINISTRO DO INTERIOR, ÂNGELO DE BARROS DA VEIGA TAVARES
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola