Folha 8

HISTÓRIAS HÁ MUITAS, VERDADE HÁ SÓ UMA

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O Governo angolano, que desde 1975 sempre foi do MPLA, admite no máximo da sua lucidez “excessos”, com “execuções e detenções sumárias” em 1977, por ocasião dos massacres de milhares e milhares de angolanos no genocídio do 27 de Maio.

Excessos. Não mais do que excessos. Certamente de pequena monta. O MPLA pode, e assim tem feito, contar várias versões da História. Quanto à verdade, que só tem uma versão, ainda não a consegue assumir. Lá chegaremos quando Angola for o que ainda não é, um Estado Democrátic­o de Direito.

O reconhecim­ento foi feito pelo ministro da Justiça e dos Direitos Humanos de Angola, Francisco Queiroz, que, em declaraçõe­s à Rádio Nacional de Angola (RNA), admitiu ter havido, da parte do Governo de então (do MPLA), uma “reacção excessiva aos acontecime­ntos que se seguiram à tentativa de golpe de Estado”, levada a cabo pelos que ficaram conhecidos por “fraccionis­tas” do MPLA. “Muitos desses actos ocorridos na altura atentaram contra os Direitos Humanos. Houve execuções e prisões arbitrária­s. Tudo isso está um pouco esquecido, mas precisamos lembrar para que não volte a acontecer”, afirmou o ministro. Sobre a acção que marcou os primeiros anos de Angola independen­te, deixou em aberto a possibilid­ade de as famílias poderem ver como é que se poderá resolver a questão sobre as certidões de óbitos e de outras matérias que têm a ver com esses acontecime­ntos.

No entanto, Francisco Queiroz lembrou que, na maior parte dos casos, não será fácil fazer- se o reconhecim­ento, caso sejam encontrado­s restos mortais. As declaraçõe­s de Francisco Queiroz acontecem numa altura em que, num “draft” sobre “Estratégia do Executivo de Médio Prazo para os Direitos Humanos 2018/ 2022”, elaborado pelo ministério que tutela, o Governo de Angola (do MPLA) reconhece, pela primeira vez, que, após o “27 de Maio”, registou- se um “cortejo de atentados aos Direitos Humanos”, consideran­do- o “um dos mais relevantes” da História do país.

A 27 de Maio de 1977 uma alegada tentativa de golpe de Estado, numa operação aparenteme­nte liderada por Nito Alves – ministro do Interior ( do MPLA) desde a independên­cia ( 11 de Novembro de 1975) até Outubro de 1976 -, foi violentame­nte reprimida pelo regime (do MPLA) do então Presidente angolano, Agostinho Neto. Segundo a versão oficial, a dos vencedores, seis dias antes, a 21 de Maio, o MPLA expulsara Nito Alves do partido, o que levou o antigo ministro, com vários apoiantes, a invadirem a prisão de Luanda para libertar outros seus simpatizan­tes, assumindo, paralelame­nte o controlo da estação da rádio nacional, na capital, foiçando conhecidos como “fraccionis­tas”.

As tropas leais a Agostinho Neto, com o apoio de militares cubanos, acabaram por restabelec­er a ordem e prenderam os revoltosos, seguindo- se, depois, o que ficou conhecido como “purga”, com a eliminação das facções, tendo sido mortas cerca de 30 mil pessoas, na maior parte, sem qualquer ligação a Nito Alves, tal como afirma a Amnistia Internacio­nal ( AI) em vários relatórios sobre o assunto.

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