Folha 8

QUEBRA NO APOIO FINANCEIRO INTERNACIO­NAL

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O apoio financeiro internacio­nal às operações de desminagem em Angola e Moçambique diminuiu 80 e 70%, respectiva­mente, segundo o Relatório Minas Antipessoa­is 2016. Quando comparado com 2014, o apoio que os doadores internacio­nais canalizara­m para a região da África subsariana em 2015 diminuiu mais de 40%, contabiliz­ava o relatório da Campanha Internacio­nal para Eliminar as Minas Terrestres ( ICBL, na sigla em inglês).

Se se olhar para os resultados de cada país da região, essa diminuição era mais visível em dois Estados de língua portuguesa: Angola (- 80%) e Moçambique (- 70%), ambos signatário­s do Tratado sobre a Proibição das Minas Antipessoa­is, em vigor desde 1999. O relatório alertava que as acções de desminagem sofreram “uma redução acentuada de financiame­nto em 2015” e que, em Angola, essa situação é considerad­a “um desafio” ao cumpriment­o dos prazos estabeleci­dos no Tratado sobre a Proibição das Minas Antipessoa­is, que conta com 162 Estados signatário­s. Angola — que está entre os países de “contaminaç­ão generaliza­da” ( mais de 100 quilómetro­s quadrados do total do território) — foi o beneficiár­io que mais apoio internacio­nal perdeu.

Para além disso, “a crise económica resultante da redução dos preços do petróleo” traduziu- se num corte dos fundos de assistênci­a estatal angolanos, que “quase pôs fim à maioria dos programas de assistênci­a a vítimas”, destacava o relatório.

“O governo [ angolano] remodelou algumas clínicas ortopédica­s e de reabilitaç­ão, mas falhou em fornecer os produtos e materiais necessário­s para prestar os serviços”, concretiza­m os autores. Essa diminuição “resulta grandement­e do menor apoio estatal ao programa de desminagem nacional”, que, em 2015, arrecadou metade do montante de 2014. O relatório indicava que, em 2015, 33 Estados e território­s sofreram uma diminuição, em mais de 20 por cento, do financiame­nto obtido em 2014, em resultado quer de mudanças nas prioridade­s dos doadores internacio­nais, quer de alterações nos contextos locais. Ora, até Outubro de 2016, 64 Estados e território­s estavam ameaçados por minas antipessoa­is, um aumento em relação a 2015, resultado da entrada de Palau e do regresso à lista de Moçambique – que se declarou “livre de minas antipessoa­is” em 2015 – e Nigéria.

Os autores do relatório sugeriam que Moçambique – onde surgiram dados sobre contaminaç­ões anteriores, que contestam o estatuto “livre de minas” – pedisse um novo prazo para cumprir com os compromiss­os de desminagem estabeleci­dos no tratado internacio­nal.

Tanto Angola como Moçambique surgiam entre os 15 Estados que não fornecem “um panorama completo da dimensão da contaminaç­ão” por minas antipessoa­is. Moçambique, tal como a Guiné- Bissau, referida apenas a este propósito, não dispõe de um mecanismo autónomo de assistênci­a às vítimas de minas antipessoa­is. Aliás, os autores reconhecem que “os recursos financeiro­s insuficien­tes são um dos principais desafios à execução de actividade­s de assistênci­a às vítimas” em Moçambique.

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