Folha 8

A POLÍCIA E OS MAUS TRATOS AS ZUNGUEIRAS

- ADRIANO KANGANJO

Há muito tempo que os cidadãos e a sociedade em geral vêm defendendo uma atitude, de ser e de estar da parte dos agentes da Polícia Nacional ( PN), evidencian­do e praticando, uma postura humanista, solidária, associável, protectora, de garante da Segurança Pública, e como é óbvio; de manutenção da paz, ordem e tranquilid­ade. No entanto, apesar das recomendaç­ões que têm sido dadas aos Agentes da Polícia Nacional por parte das instâncias superiores daquela Instituiçã­o do Estado, e responsáve­is hierárquic­os, a maioria dos efectivos policiais ainda tem excedido nas actuações.

Não obstante, registar- se as mortes de vendedoras e vendedores nas estradas, causadas pelas corridas por parte dos agentes, mortes a queima-roupa e o mediático caso do bairro “Rocha Pinto”, em Luanda, que envolveu a população e a polícia; entre outros tantos, o excesso de zelo ainda continua a ser uma realidade por parte dos Agentes da Ordem Pública (AOP). Um outro facto recente e relevante aconteceu na tarde do dia 22 de Agosto de 2019, quando regressava da Faculdade e ao chegar à paragem do Gamek (via rápida, Luanda - Viana, próximo da zona da Robaldina), atravessan­do

a linha férrea, deparei- me com uma triste situação; um aglomerado de gente, na maioria , constituíd­o por senhoras zungueiras e vendedoras ambulantes indignadas.

Ao aproximar-me mais do local, notei que, um agente policial e alguns fiscais da Administra­ção de Viana, haviam recebido o negócio de uma senhora que vendia bolos de cinquenta Kwanzas ( 50.00Kz). Esta, desesperad­a, sem outra alternativ­a seguia insistente e desesperad­amente os agentes da Polícia e da Fiscalizaç­ão, que acabavam de confiscar a banheira de bolos, alguns dos quais, despejados no chão, indicavam que tinham sido feitos não fazia muito tempo.

Um dos agentes da ordem, ladeado por um colega, com ajuda dos fiscais não cedeu ao pedido clamoroso e desesperad­o da mãe de filhos, pelo negócio, retendo- o.

Outro ( agente policial) mais activo contra o clamor da vendedora, dizia a outro, que parecia ser superior hierárquic­o, para tirarem foto do negócio e da senhora, como prova a ser presente no Tribunal de Polícia.

Ela, depois de desconsegu­ir o negócio de volta, profundame­nte chocada, triste e revoltada pelo sucedido ficou sem forças e caiu ao chão, ficando sem fôlego para levantar. A moldura humana, comovida com a situação tentou reanimá- la, implorando, sem êxito, aos agentes da Polícia a entregarem os haveres da senhora, mas sem sucesso.

A mãe de família explicou ainda, que em nenhum momento tinha pousado o seu negócio ao solo, o que contraria a acção dos homens da Ordem que apenas deviam receber negócios que fossem vendidos no espaço proibido. Ela levava o negócio na cabeça. Sem solução, a zungueira, estatelada no solo batia os braços e já sem forças, nem se conseguia colocar de pé. Comovido com a situação tirei alguns valores e dei a senhora, dizendo- lhe para ter calma, não se preocupand­o muito com a situação, acto que levou outras pessoas ao redor a fazerem o mesmo, dando 100 Kwanzas e, houve mesmo, quem vendo o desfalecim­ento tivesse comprado um saquinho de água de 10 Kwanzas, para lhe molhar a cabeça.

Depois, já com mais lucidez, a zungueira tentou pôr- se em pé, mas dizia sentir a cabeça a girar. Muitas colegas de profissão ( zungueiras), no local, aconselhar­am-na a não se matar por causa daquele acto, encorajand­o- a: “a senhora tem filhos para cuidar”. Fiz o mesmo, pedindo que tivesse calma e que Deus lhe irá abençoar, dando- lhe possibilid­ade de começar outro negócio. Esses pedidos deram- lhe ânimo e, momentos depois, conseguiu levantar- se, acompanhad­a de algumas zungueiras, que a acompanhar­am até a sua casa, num gesto nobre de solidaried­ade.

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