Folha 8

ALÉM DA NOITE DE JOÃO TALA

O escritor angolano João Tala regressa ao universo literário com a novela “Além da noite” uma obra contemporâ­nea, mesclada de pomérios na fronteira do imaginário e do realismo. A obra será lançada a 3 de Setembro no auditório Pepetela do Centro Cultural P

- TEXTO DE NVUNDA TONET

ALÉM DA NOITE”, segundo o autor, “é uma obra que constituíd­a por duas novelas curtas, num cenário de contexto pós- guerra, vivido nos subúrbios (musseques) de Luanda. Num estilo entre o realismo, o fantástico e, quiçá, o surrealism­o”. O personagem principal, de seu nome Samuel, vai desfiando memórias, que cruzam tempos e factos, passados e presentes, evocando pessoas, sentimento­s e afectos.

Diz o narrador “Chamo-me Samuel, igual ao meu pai que me pôs o próprio nome. Não falei meu nome antes porque ninguém se importa comigo, ademais circulando na feira ou sentado no barengue do Teixeira. São todos Kambas de ocasião, não perguntam o nome, família ou o nosso emprego. Nasci no Lwena no começo da década 80. Meus pais são daqui mesmo, com minha mãe já falecida”. As várias mulheres da sua vida ocupam um lugar de destaque na obra. A sua mãe Negra, “uma mulher de aspecto solto e com uma retinta aparência mais negra que o negro ( ela adorava essa insinuação). Não tinha rugas de velha, mas os cabelos estavam mais embranquec­idos. A Negra – assim o seu qualificat­ivo preferido – chegava entusiasma­da, mas fatigada pela travessia num milénio de ressaibos, cheio de décadas ríspidas”. A Joana João do botequim do António Teixeira, sua primeira paixão, a Famélia Kafundanga, amor da sua vida, “cantora de semba ainda bonita e harmoniosa só que mais velha, fatigada com a história do país e sem mais aquele toque musical que morreu no confronto com o tempo”. Kavila, a nora escolhida pela mãe Negra para lhe dar os filhos de amanhã, “foi como um achado”. João Tala vai destilando ao longo da narrativa alguma desilusão pessoal e colectiva “meu caminho é o tempo de qualquer noite porque tenho uma vida parda. Sou o gato da noite. Sempre ando de pensamento­s escuros, sou o resíduo da tropa e desperdice­i mil combates (…). Percorria o Rangel, o Marçal, a Cuca e o Sambizanga – bairros de pobreza – com raiva dele ou a que os outros depositava­m nele, ajudando a gritar os desesperos dos passamento­s angolanos….uma voz mais preta do que o luto dos desalentad­os (…),” dedilha o escritor.

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