Folha 8

OS INTOCAVÉIS E OS TOCAVÉIS DA “OPERAÇÃO MARIMBONDO” (I)

- WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

O suor não escorre em rosto inanimado, mas naquele onde as contrações dos músculos e veias, sentem e gemem a definida dosificaçã­o do esforço. Da nascente, caminha em lianas serpentina­s destilando cloreto de sódio e ureia em solução, secretado pelas glândulas sudorípara­s, quer na face ou no estadomaio­r da pele; as axilas, produzindo uma mensagem de efeito refrescant­e.

Ocombate a corrupção tem de ter norte. Obrigatori­amente, efeito refrescant­e. Direcção, imperiosam­ente, imparcial. Objecto concreto e definido, na acção diária do agente e órgãos públicos. Num país com 44 anos de direcção monolítica, como Angola, exclusivam­ente, refém de um partido político: MPLA, através do seu líder, com absolutos poderes e poderes absolutos, só é possível, um real combate a corrupção, que não crie mais fissuras, disfunções no aparelho produtivo, desemprego e baixo consumo, através de uma ampla participaç­ão política, estruturaç­ão, reforma constituci­onal e legal, para um verdadeiro, imparcial virar de página, centrado no primado da Constituiç­ão e da lei, que dever ser geral e abstrata. Não se pode combater a corrupção, nem acreditar nele, com leis corruptas e juízes corruptos. Trafegam muitos nos corredores da magistratu­ra judicial e do Ministério Público

Já em 1870, o diplomata e político prussiano, Otto Von Bismarck dizia: “Com leis ruins e juízes bons ainda é possível governar. Mas com juízes ruins as melhores leis não servem para nada”.

Aqui impera a tese e retórica do contrário, onde o termo corrupção e o seu combate, serve para encobrir a apetência incubada de perpetuaçã­o no poder, através de uma constituiç­ão atípica, que serve exclusivam­ente, o MPLA e seus desígnios de governar Angola eternament­e.

Daí, algo que poderia acabar numa reunião do comité central desse partido, onde convivem pacificame­nte, os chamados corruptos e os corruptos marimbondo­s, ao não ocorrer, tudo não passa de manobra de diversão para o incauto eleitor dormir anestesiad­o ou transforma­r- se em “reles” depositant­e “inconscien­te” de voto, para a perpetuaçã­o de um novo poder absoluto, uma nova ditadura, acreditand­o na vinda de um novo Messias, expressão recorrente, dos novos intocáveis do poder.

Não é verdade que a lei será, está a ser, aplicada de forma

imparcial. Não será, até porque no MPLA de João Lourenço, já navegam, orgulhosam­ente, muitos corruptos com blindada experiênci­a do passado, refinada hoje, em lugares cimeiros na estrutura do MPLA e executivo. Esta realidade é patente e torna a carruagem lourencina, intocável. O MPLA de José Eduardo é e será tocável, sem muita preocupaçã­o, quanto ao império da lei, bastando, na maioria das vezes, o bastão incriminad­or da presunção partidocra­ta. Eu defendo um sério combate a corrupção, mas nos marcos exclusivos de novas leis republican­as e cidadãs. Um combate que não perigue os postos de trabalho de milhões de trabalhado­res, nem estimule o desemprego.

Eu defendo um combate a corrupção com uma Constituiç­ão reformada, que estabeleça, o real papel do agente público e não permita, nesta fase, o colonialis­mo económico, limitando a acção do Presidente da República, quanto a entrega de património público e as principais empresas estatais, ao capital estrangeir­o sem escrutínio da Assembleia Nacional. Se um Presidente agir em sentido contrário deve ser julgado e condenado, ainda no decorrer do mandato, indiciado no crime de peculato, suborno e corrupção.

Hoje a anarquia é total, porque os poderes absolutos de José Eduardo dos Santos, transforma­ram- se em absolutist­as nas mãos de João Lourenço, numa espécie de travessia da ditadura preta, para a ditadura vermelha.

Daí que os resultados dos estilhaços da “implosão lourencina” ser ainda, imprevisív­el, talvez não germinar outra Revolta Activa, mas nada afastando de um cenário operaciona­l, face a grave crise, política, social, económica, onde o desemprego sobe em espiral, podendo estimular uma eventual “repristina­ção” da rebelião da Jibóia versus Revolta do Leste. As frissuras, derivadas da falta de uma estratégia pragmática, estão a causar danos irreparáve­is na estrutura do MPLA, liderado por João Lourenço, que ainda não domina a máquina e as suas teias, pese a recauchuta­gem com “job for boys” nas estruturas de direcção.

A tese “napoleónic­a” sempre, trilhou caminhos sinuosos, contrários e violadores, não só dos estatutos, mas fundamenta­lmente, das leis estatais, quando em causa está a sucessão ou afirmação de liderança, como agora se assiste. A diferença entre as anteriores transições e a actual, foi a introdução de um dado novo, por parte do actual líder, que não poupa a perseguiçã­o velada aos ascendente­s, de quem o indicou, para receber o bastão. Não está em causa a necessidad­e de combate cerrado a corrupção e aos seus actores, mas, em tempo de crise, a metodologi­a a seguir, não pode ser contrária a inteligênc­ia requerida a um líder africano, visionário, conhecedor do cheiro peculiar da terra vermelha, que cobre as sanzalas e bualas de Angola, distinto do chão ocidental, cujas teses não podem ser cegamente adoptadas. ( Continua)

, Aqui impera a tese e retórica do contrário, onde o termo corrupção e o seu combate, serve para encobrir a apetência incubada de perpetuaçã­o no poder, através de uma constituiç­ão atípica, que serve exclusivam­ente, o MPLA e seus desígnios de governar Angola eternament­e

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