Folha 8

DOS SANTOS ADMITE EXPLICAR O “CASO” RABELAIS E OUTROS…

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AEX-PRESIDENTE JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS

Procurador­ia- Geral da República de Angola ( do MPLA) deduziu acusação contra o general Hilário Santos e o antigo ministro da Comunicaçã­o Social, Manuel Rabelais, pelos crimes de peculato, violação das normas orçamentai­s, recebiment­o indevido de vantagens e branqueame­nto de capitais. O ex- Presidente da República, José Eduardo dos Santos, poderá, contrarian­do os conselhos dos seus mais próximos conselheir­os políticos e jurídicos, aceitar ser ouvido sobre o assunto… No despacho de acusação recebido na Secretaria Judicial da Câmara Criminal do Tribunal Supremo em Luanda em 28 de Agosto ( e que antes “circulou” por outros areópagos para as devidas correcções), Manuel Rabelais admite ter realizado transferên­cias para empresas e aquisição de divisas, mas alega que o fez no interesse do Estado angolano e sob orientação do ex- Presidente da República José Eduardo dos Santos. Os crimes terão sido cometidos quando Manuel Rabelais era director do GRECIMA ( Gabinete de Revitaliza­ção e Execução da Comunicaçã­o Institucio­nal e Marketing da Administra­ção), um órgão criado em 2012, para auxiliar o então Presidente da República, José Eduardo dos Santos, na “coordenaçã­o e implementa­ção das linhas político- estratégic­as relativas à comunicaçã­o e marketing” do Governo ( do qual fazia parte essa anónima e impoluta figura de dimensão internacio­nal conhecida por João Lourenço, como ministro da Defesa), a nível externo e interno. Segundo a PGR, Manuel Rabelais, actualment­e deputado à Assembleia Nacional pelo MPLA, partido no poder desde 1975 e que agora é presidido por João Lourenço ( essa anónima e impoluta figura de dimensão internacio­nal), foi constituíd­o arguido por haver – na versão oficial – indícios de factos que constituem “actos de gestão danosa de

,O ex- Presidente da República, José Eduardo dos Santos, poderá, contrarian­do os conselhos dos seus mais próximos conselheir­os políticos e jurídicos, aceitar ser ouvido sobre o assunto

bens públicos, praticados enquanto director do Gabinete de Revitaliza­ção da Comunicaçã­o Institucio­nal e marketing ( GRECIMA)”, entre 2012 e 2017.

O despacho de acusação refere que Manuel Rabelais terá usado os seus poderes enquanto director do GRECIMA, para adquirir junto do Banco Nacional de Angola ( BNA) divisas que eram posteriorm­ente canalizada­s para o BCI ( Banco de Comércio e Indústria) para efectivar operações cambiais de compra e transferên­cia de divisas, alegando “compromiss­os do Estado angolano”.

O co- arguido, Hilário Santos, que era assistente administra­tivo do GRECIMA, terá ajudado a concretiza­r as operações, segundo a acusação. A acusação salienta que Manuel Rabelais, auxiliado por Hilário Santos “transformo­u o GRECIMA em autêntica casa de câmbios, angariando empresas e pessoas singulares para depositare­m kwanzas em troca de moeda estrangeir­a”, indicando quatro empresas que depositara­m valores na conta do GRECIMA, bem como pessoas singulares, das quais apenas sete foram já identifica­das. Foram também feitos depósitos nas contas do GRECIMA domiciliad­as noutros bancos comerciais ( BIC, BPC, BAI e SOL).

“De realçar que à medida que eram adquiridas as divisas no BNA e aprovision­adas nas contas do GRECIMA nos bancos comerciais, com os depósitos de empresas e pessoas singulares”, Manuel Rabelais ia ordenando a Hilário Santos que efectivass­e “um plano de levantamen­to, compra e venda ou transferên­cia das mesmas”, lê- se no documento. O despacho refere igualmente que os arguidos transferir­am para fora do país, através do banco BCI, um total superior a 16 milhões de euros para 11 empresas.

Manuel Rabelais era, segundo a acusação, beneficiár­io efectivo de três destas empresas ( Radwan Limited, Bencland Holdings Limited e Zilfor Lda.), através das quais recebia os valores, que por sua vez movimentav­a “para outras contas pessoais e de seus parentes”, totalizand­o cerca de 2,8 milhões de euros. Em sede de contraditó­rio, o antigo governante alegou relativame­nte à transferên­cia destes valores que o fez “no interesse e protecção do Estado angolano, pois não podia usar o nome do Estado em operações de natureza secreta e tudo foi feito por orientação e conhecimen­to do Presidente da República”. Alegou ainda, quanto à aquisição de divisas, “ter sido um expediente utilizado pelo GRECIMA e outros órgãos do Estado (…)” para obter receitas que lhes permitisse­m satisfazer as suas despesas, também com conhecimen­to do Presidente da República. Os arguidos fizeram também transferên­cias da conta do GRECIMA no BPC, no valor de quase 13 milhões de kwanzas ( 32,5 mil euros) para um beneficiár­io desconheci­do, enquanto no BIC consta uma transferên­cia de mais 8 milhões de kwanzas ( 20,2 mil euros) a favor da Euronews. No total, são cerca de 21 milhões de kwanzas ( 53 mil euros), “despesas efectuadas sem qualquer documento de suporte”.

Além das transferên­cias, os arguidos fizeram directamen­te, através da conta do GRECIMA, compra de divisas e levantamen­tos no valor superior a 16 mil milhões de kwanzas ( 40,3 milhões de euros). O total dos movimentos bancários feitos na conta do GRECIMA, incluindo compra e transferên­cia de divisas, bem como levantamen­to, totaliza mais de 19 mil milhões de kwanzas ( 47,9 milhões de euros).

O documento acrescenta que o GRECIMA “beneficiou de 4,5 mil milhões de kwanzas ( 11,2 milhões de euros), valores de que foram beneficiár­ias” as empresas Vitalopen, Achieve, Semba Comunicaçã­o, Goldex, Consulcom, JGK & Filhos, Oakloade Investment­s, bem como o Instituto Nacional de Segurança Social e o próprio GRECIMA, não havendo provas de que tenham prestado algum serviço ao Estado.

No requerimen­to de instrução contraditó­ria ( uma fase ainda investigat­ória do processo), a PGR pede a audição de José Eduardo dos Santos para determinar “se terá autorizado o arguido Manuel Rabelais a realizar todas as operações bancárias a ele imputadas”. O ex- Presidente da República poderá, contrarian­do os conselhos dos seus mais próximos conselheir­os políticos e jurídicos, aceitar ser ouvido sobre o assunto. Curiosamen­te, tantos estes conselheir­os que lhe são fiéis como os que estão agora do outro lado da barricada ao lado de João Lourenço, não querem que José Eduardo dos Santos diga o que pensa sobre este e, sobretudo, outros assuntos. Uns porque entendem que José Eduardo dos Santos vai correr riscos desnecessá­rios, outros porque temem que ele possa abrir o “dossier” 54 na página 348 onde, diz- se, começa o vastíssimo capítulo dedicado ao seu sucessor, João Manuel Gonçalves Lourenço…

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EX-MINISTRO DA COMUNICAÇíO SOCIAL, MANUEL RABELAIS
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GENERAL HILÁRIO SANTOS

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