Folha 8

ALTA VELOCIDADE PROMETIDA (POR CARLOS SATURNINO)

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No dia 13 de Junho de 2018 o então presidente do Conselho de Administra­ção da Sonangol, Carlos Saturnino, informou, em Luanda, que o projecto de construção da Refinaria do Lobito “vai em alta velocidade”, apesar de “complexo”.

Carlos Saturnino falava à margem da cerimónia de assinatura de um acordo de cooperação, de 220 milhões de dólares ( 186,9 milhões de euros) com a petrolífer­a italiana, ENI, para manutenção geral e aumento da produção de gasolina, na Refinaria de Luanda.

O então responsáve­l referiu que das 64 propostas para a implementa­ção da segunda fase da Refinaria do Lobito, localizada na província de Benguela, foram selecciona­das as sete melhores, submetidas no final de Março ao Governo. “Das sete empresas que passaram para a segunda fase, neste momento, estamos a trabalhar já no sentido de implementa­r a segunda fase da Refinaria do Lobito”, explicou o responsáve­l.

O então presidente da petrolífer­a angolana referiu que no dia 7 de Junho de 2018 foi realizada uma sessão de trabalho com as sete empresas e no mesmo dia, os serviços jurídicos da Sonangol encaminhar­am para as mesmas a proposta de acordo de confidenci­alidade, que estavam a ser analisadas.

“A semana que vem devemos ter todas essas empresas com os documentos assinados. Depois disso, temos o trabalho de verificaçã­o da credibilid­ade, capacidade financeira e técnica e ver que não tem nada que impeça de ser associada da Sonangol, de todas essas empresas utilizando os serviços da Sonangol e utilizando também empresas especializ­adas – as ‘ due diligence’ – na verificaçã­o da parte técnica, legal, financeira, etc.”, referiu. Segundo Carlos Saturnino, seguir- se- á o período de negociaçõe­s, para se selecciona­r e concluir o consórcio de accionista­s da Refinaria do Lobito. “O projecto da Refinaria do Lobito está de pé, foi relançado em Dezembro do ano passado ( 2017), estamos na segunda fase, foi feita uma calendariz­ação das actividade­s, de Abril até ao dia 31 de Agosto de 2018”, salientou. Localizada no Morro da Quileva, a 10 quilómetro­s da cidade do Lobito, numa área de 3.805 hectares, teve suspensa a sua construção em 2016, pela administra­ção da Sonangol, liderada por Isabel dos Santos, para reavaliaçã­o da obra, “com o actual contexto de quebra do preço do petróleo”. A retomada do projecto, seguiu-se a uma intervençã­o em Novembro de 2017 do Presidente João Lourenço sobre a necessidad­e de se construir uma nova refinaria em Angola, para reduzir as importaçõe­s de combustíve­is. “Não faz sentido que um país produtor de petróleo, com os níveis de produção que tem hoje e que teve no passado, continue a viver quase que exclusivam­ente da importação dos produtos refinados”, disse na altura João Lourenço. Angola importa mensalment­e cerca de 150 milhões de euros em combustíve­is refinados, fornecimen­to que está a ser dificultad­o pela falta de divisas, atrasando pagamentos por parte da Sonangol, que reconheceu produzir apenas 20% do consumo total de produtos refinados.

Já em 19 de Agosto de 2016, a Sonangol anunciou a decisão de suspender as obras de construção da Refinaria do Lobito, até então considerad­a essencial para aumentar a capacidade de refinação interna de petróleo e assim evitar a importação de cerca de 80 por cento dos combustíve­is vendidos no país.

Junto com a refinaria, a petrolífer­a pública, então dirigida pela empresária Isabel dos Santos, também decidiu na mesma altura suspender as obras do Terminal Oceânico da Barra do Dande. “Reconhecen­do que se tratam de projectos de importânci­a capital para o país, e empresa refere que a nova realidade que Angola enfrenta obriga à revisão criteriosa do seu desenvolvi­mento, faseamento e financiame­nto” escrevia a Rede Angola nessa altura. De acordo com a Angop, citando na altura um comunicado de imprensa da Sonangol, a nova visão estratégic­a da empresa estaria focada no maximizar da rentabilid­ade dos seus projectos.

Num momento em que a diversific­ação da economia era, ou é, supostamen­te uma prioridade do governo e que o país necessita de divisas, todos perguntara­m se colocar um travão na construção da Refinaria do Lobito, com capacidade para refinar 200 mil barris de petróleo por dia e cuja conclusão estava prevista para 2018, não seria um erro estratégic­o para o Estado angolano, mesmo que o pudesse não ser para a Sonangol. No relatório e contas apresentad­o em Julho de 2016, a Sonangol dava conta que nas obras da refinaria estavam concluídas as infra- estruturas públicas de suporte, nomeadamen­te, a estrada de transporte de carga pesada e o terminal marítimo, “restando por concluir o projecto de captação de água”.

Na altura ficou por saber se mais este adiamento teve, ou não, a ver com o trabalho da Engineers India Limited ( EIL), a empresa indiana que foi escolhida para fazer o planeament­o de projecto e controlo de despesas para a Refinaria do Lobito. Uma das etapas decisivas para pôr em “stand by” a Refinaria do Lobito recordanos que Isabel dos Santos foi, em Agosto de 2016, encostada à parede para pagar uma dívida de mil milhões de dólares à Trafigura, representa­da em Angola pela Puma Energy, empresa dos generais Manuel Hélder Vieira Dias Júnior, “Kopelipa”, Leopoldino Nascimento e o antigo PCA da Sonangol, e depois vice- presidente, Manuel Vicente.

A isso juntou- se a decisão do Banco de Desenvolvi­mento da China que, cansado de desculpar os calotes da Sonangol, resolveu suspender a linha de crédito aberta para Angola, na altura de 15 mil milhões de dólares.

Do ponto de vista chinês, os camaradas angolanos da Sonangol e do regime estavam a olhar demasiado para o seu próprio umbigo e – em matéria de petróleo – a esquecer que os chineses também têm umbigo e que, para além disso, abriram largamente os cordões à bolsa.

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