Folha 8

O QUE INTERESSA É O FIADO SEJA DA CHINA OU DO JAPÃO

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Os investidor­es estrangeir­os em África devem ter cuidado para não sobrecarre­garem os países anfitriões, disse o primeiro- ministro japonês, Shinzo Abe, no encerramen­to da cimeira sobre África que decorreu em Tóquio, numa alusão aos gigantesco­s projectos chineses. Pequim não gostou. Para João Lourenço, desde que o fiado não pare, tanto faz que seja Deus ou o Diabo a assinar o cheque.

João Lourenço não ouviu a crítica. Na altura em que primeiro- ministro do Japão, Shinzo Abe, discursava, o Presidente de Angola falava ao telefone com o seu homólogo chinês Xi Jinping que lhe terá dito qualquer coisa do tipo ( fiado é connosco).

“Ao prestar assistênci­a a África, devemos levar em consideraç­ão o ónus da dívida do país que recebe essa ajuda e garantir que esse ónus não se torna excessivo”, disse Shinzo Abe durante uma conferênci­a de imprensa de final da Cimeira Internacio­nal de Tóquio sobre o Desenvolvi­mento Africano ( Ticad), que juntou mais de 50 países do continente, em Yokohama, nos subúrbios da capital japonesa.

Numa declaração final divulgada anteriorme­nte, os participan­tes na cimeira, co- organizada pela ONU, Banco Mundial e União Africana, desde 1993, enfatizara­m a importânci­a de investimen­tos “acessíveis” e “de qualidade”. A China, que antecedeu o Japão, com a sua própria conferênci­a sobre desenvolvi­mento em África, já ultrapasso­u os montantes prometidos: de 60 mil milhões de dólares ( 54,2 milhões de euros) em novos fundos durante a cimeira China- África, no ano passado, exactament­e o dobro dos compromiss­os assumidos na anterior, em 2016. O projecto de infra- estruturas “Novas Rota da Seda”, lançado em 2013 por Pequim para ligar a Ásia, Europa e África à China, foi acusado de favorecer empresas e trabalhado­res chineses em detrimento das economias locais, de aumentar a dívida os países anfitriões e de ignorar os direitos humanos e o meio ambiente.

“Se os países parceiros estão profundame­nte endividado­s, isso dificulta os esforços de todos para entrar no mercado”, disse Shinzo Abe aos líderes africanos.

O porta- voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Geng Shuang, reagiu rapidament­e, defendendo Pequim e consideran­do tratar- se de uma “especulaçã­o irracional”.

Abe aproveitou a oportunida­de da cimeira para promover modelos de financiame­nto e seguros de instituiçõ­es japonesas apoiadas pelo governo japonês, que privilegia­m investimen­tos de “qualidade”. Nos próximos três anos, o Japão também prevê formar especialis­tas em risco financeiro e gestão de dívida pública em 30 países de África em risco financeiro, disse Shinzo Abe.

Tóquio prefere destacar- se mostrando disponibil­idade para acompanhar os investimen­tos com o “desenvolvi­mento de recursos humanos”, nas palavras usadas por um diplomata encarregad­o da Ticad.

“O Japão lançou o processo Ticad em 1993 e, desde então, continua a apoiar o desenvolvi­mento centrado no ser humano, respeitand­o a iniciativa africana. A ideia de que os recursos humanos estão no centro do desenvolvi­mento, é a experiênci­a dos japoneses”, disse Shinzo Abe, em resposta a uma pergunta sobre a particular­idade dos investidor­es japoneses em comparação com os da China, Europa ou Estados Unidos. A sétima edição da Ticad, que decorreu durante três dias, centrou- se no investimen­to do sector privado e não na ajuda pública ao desenvolvi­mento.

Por exemplo, um acordo preliminar foi assinado entre o governo da Costa do Marfim e a gigante japonesa de automóveis Toyota para a possível criação de uma fábrica de montagem de veículos naquele país africano, mas o projecto não foi detalhado.

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PRIMEIRO-MINISTRO JAPONÊS, SHINZO ABE

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