O QUE INTERESSA É O FIADO SEJA DA CHINA OU DO JAPÃO
Os investidores estrangeiros em África devem ter cuidado para não sobrecarregarem os países anfitriões, disse o primeiro- ministro japonês, Shinzo Abe, no encerramento da cimeira sobre África que decorreu em Tóquio, numa alusão aos gigantescos projectos chineses. Pequim não gostou. Para João Lourenço, desde que o fiado não pare, tanto faz que seja Deus ou o Diabo a assinar o cheque.
João Lourenço não ouviu a crítica. Na altura em que primeiro- ministro do Japão, Shinzo Abe, discursava, o Presidente de Angola falava ao telefone com o seu homólogo chinês Xi Jinping que lhe terá dito qualquer coisa do tipo ( fiado é connosco).
“Ao prestar assistência a África, devemos levar em consideração o ónus da dívida do país que recebe essa ajuda e garantir que esse ónus não se torna excessivo”, disse Shinzo Abe durante uma conferência de imprensa de final da Cimeira Internacional de Tóquio sobre o Desenvolvimento Africano ( Ticad), que juntou mais de 50 países do continente, em Yokohama, nos subúrbios da capital japonesa.
Numa declaração final divulgada anteriormente, os participantes na cimeira, co- organizada pela ONU, Banco Mundial e União Africana, desde 1993, enfatizaram a importância de investimentos “acessíveis” e “de qualidade”. A China, que antecedeu o Japão, com a sua própria conferência sobre desenvolvimento em África, já ultrapassou os montantes prometidos: de 60 mil milhões de dólares ( 54,2 milhões de euros) em novos fundos durante a cimeira China- África, no ano passado, exactamente o dobro dos compromissos assumidos na anterior, em 2016. O projecto de infra- estruturas “Novas Rota da Seda”, lançado em 2013 por Pequim para ligar a Ásia, Europa e África à China, foi acusado de favorecer empresas e trabalhadores chineses em detrimento das economias locais, de aumentar a dívida os países anfitriões e de ignorar os direitos humanos e o meio ambiente.
“Se os países parceiros estão profundamente endividados, isso dificulta os esforços de todos para entrar no mercado”, disse Shinzo Abe aos líderes africanos.
O porta- voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Geng Shuang, reagiu rapidamente, defendendo Pequim e considerando tratar- se de uma “especulação irracional”.
Abe aproveitou a oportunidade da cimeira para promover modelos de financiamento e seguros de instituições japonesas apoiadas pelo governo japonês, que privilegiam investimentos de “qualidade”. Nos próximos três anos, o Japão também prevê formar especialistas em risco financeiro e gestão de dívida pública em 30 países de África em risco financeiro, disse Shinzo Abe.
Tóquio prefere destacar- se mostrando disponibilidade para acompanhar os investimentos com o “desenvolvimento de recursos humanos”, nas palavras usadas por um diplomata encarregado da Ticad.
“O Japão lançou o processo Ticad em 1993 e, desde então, continua a apoiar o desenvolvimento centrado no ser humano, respeitando a iniciativa africana. A ideia de que os recursos humanos estão no centro do desenvolvimento, é a experiência dos japoneses”, disse Shinzo Abe, em resposta a uma pergunta sobre a particularidade dos investidores japoneses em comparação com os da China, Europa ou Estados Unidos. A sétima edição da Ticad, que decorreu durante três dias, centrou- se no investimento do sector privado e não na ajuda pública ao desenvolvimento.
Por exemplo, um acordo preliminar foi assinado entre o governo da Costa do Marfim e a gigante japonesa de automóveis Toyota para a possível criação de uma fábrica de montagem de veículos naquele país africano, mas o projecto não foi detalhado.