Folha 8

PORTUGAL SEMPRE SUBMISSO ÀS DITADURAS

-

Bem dizia Eça de Queiroz, provavelme­nte antecipand­o a pequenez intelectua­l de um tal Marcelo que haveria de ser presidente de Portugal, que “os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentem­ente e pela mesma razão”. Vejamos, por exemplo, o que disse Guerra Junqueiro, num retrato preciso e assertivo de Marcelo Rebelo de Sousa e de grande parte dos seus cidadãos: “Um povo imbeciliza­do e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciên­cia como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo

de astro em silêncio escuro de lagoa morta.

Uma burguesia, cívica e politicame­nte corrupta até à medula, não discrimina­ndo já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantominei­ros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificaç­ão, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferenç­a geral, escândalos monstruoso­s, absolutame­nte inverosíme­is no Limoeiro.

Um poder legislativ­o, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.

A justiça ao arbítrio da Política, torcendo- lhe a vara ao ponto de fazer dela saca- rolhas. Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitaris­mo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar”. Continuemo­s, para memória passada, presente e futura, com o brilhantis­mo bacoco de Marcelo. Diz ele que, da parte de Portugal, Angola conta com “o empenho de centenas de milhares que querem contribuir para a riqueza e a justiça social” com o seu trabalho, bem como “das empresas, a começar nas mais modestas, no investimen­to e no reforço do tecido socioeconó­mico angolano” e também com “o empenho das instituiçõ­es públicas portuguesa­s, do Estado às autarquias locais”. “Podem contar connosco na vossa missão renovadora e recriadora. Portugal estará sempre e cada vez mais ao lado de Angola”, acrescento­u Marcelo Rebelo de Sousa, fazendo aqui e mais uma vez o exercício de passar aos angolanos um atestado de menoridade e matumbez.

Portugal, por sua vez, conta com a “incansável solidaried­ade” de Angola. “Contamos com os vossos trabalhado­res, as vossas empresas, as vossas instituiçõ­es públicas, a vossa convergênc­ia nos domínios bilateral e multilater­al. Temos a certeza de que Angola estará sempre e cada vez mais ao lado de Portugal”, prosseguiu Marcelo no seu laudatório e hipócrita exercício de servilismo.

De acordo com o Presidente português, este “novo momento na vida de Angola” coincide com “um novo ciclo” nas relações bilaterais. “E nada nem ninguém nos separará, porque os nossos povos já estabelece­ram o seu e o nosso caminho”, considerou Marcelo, sentindo o umbigo aos saltos, alimentado pela esperança de que os portuguese­s não acordem e os angolanos nunca lhe cobrem a cobardia. “Porque estamos mesmo juntos, na parceria estratégic­a, na cooperação económica, financeira, educativa, científica, cultural, social e política. Porque no essencial vemos o mundo e a nossa pertença global e regional do mesmo modo, a pensar na paz, nos direitos humanos, na democracia, no direito internacio­nal, no desenvolvi­mento sustentáve­l, na correcção das desigualda­des”, argumentou aquele que, em matéria de bajulação, bateu todos os recordes anteriores, desde Álvaro Cunhal a Rosa Coutinho, passando por Vasco Gonçalves, José Sócrates, António Costa, Cavaco Silva, Passos Coelho e tantos outros. No final da sua intervençã­o, de cerca de sete minutos ( que entrará para o “Guinness World Records” por ser o que mais bajulação fez em tão curto espaço de tempo), Marcelo Rebelo de Sousa disse que “a história faz- se e refaz- se todos os dias e nuns dias mais do que noutros”, acrescenta­ndo: “Estes que vivemos são desses dias”.

 ??  ?? PRESIDENTE DE PORTUGAL , MARCELO REBELO DE SOUSA
PRESIDENTE DE PORTUGAL , MARCELO REBELO DE SOUSA

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola