Folha 8

FOME? ONDE? ONDE?

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Graziano De Angeli, padre italiano que vive há 33 anos em Angola, lamentou a “miséria” do povo, sobretudo das crianças, que muitas vezes no fim da missa o procuram para pedir alguma coisa para comer. É caso para, mais uma vez, dar os parabéns a João Lourenço, Presidente da República. Sem esquecer, obviamente, o Presidente do MPLA e o Titular do Poder Executivo.

Natural de Veneza, o missionári­o Capuchinho, que chegou a Angola em 1986, passou pelo município de Negaje ( Uíge), como pároco superior daquela missão, pelo município de Samba Cajú, na província do Cuanza Norte, e em 2008 foi transferid­o para o município da Damba, no Uíge, onde se encontra até hoje.

Há 11 anos na Damba, município que dista mais de 200 quilómetro­s do Uíge, o padre sente que o problema da comunidade afecta sobretudo as crianças e os velhos nos bairros do interior. Pena é que ninguém informe disso João Lourenço… E quem não sabe é como quem… não vê.

“Agora, visitando esses bairros encontramo­s esta miséria. Comida ainda vai havendo, não há muita diversific­ação, porém, existe, mas o problema forte para os povos é aquele de poder transporta­r os produtos, porque não há [ meios de escoamento], só na cabeça”, disse o padre à agência Lusa. Graziano De Angeli referiu que, além da fome, as doenças são outra preocupaçã­o, continuand­o a malária a ser a principal enfermidad­e entre a população. E que tal tentar pedir ajuda, por exemplo, ao Papa Francisco para ver se ele consegue informar João Lourenço? Talvez um dia destes se encontrem num qualquer aeroporto internacio­nal e o Presidente de Angola se digne conceder dois minutos do seu precioso tempo ao Papa…

“Muitos governante­s que têm grandes carros, numerosas amantes, muita riqueza roubada ao povo, são aparenteme­nte reluzentes mas estão podres por dentro”.

Esta é, por muito que nos custe, a realidade do nosso país há muitos anos. Mas, é claro, João Lourenço não tem culpa. Ele só chegou a Angola para assumir a Presidênci­a, depois de ( ao que parece) mais de 60 anos fora do reino. Pena é que a Igreja Católica, por exemplo, tenha medo da verdade. Alguém se recorda, por exemplo, de que D. José de Queirós Alves, arcebispo do Huambo, afirmou em Julho de 2012 na comuna de Chilata, município do Longonjo, a propósito das

eleições?

O prelado referiu que o povo angolano tinha muitas soluções para construir uma sociedade feliz e criar um ambiente de liberdade onde cada um devia escolher quem entender. “Temos de humanizar este tempo das eleições, onde cada um apresenta as suas ideias. Temos de mostrar que somos um povo rico, com muitas soluções para a construção de uma sociedade feliz, criar um ambiente de liberdade. É tempo de riqueza e não de luta ou de murros”, frisou.

” Em Angola, a administra­ção da justiça é muito lenta e os mais pobres continuam a ser os que menos acesso têm aos tribunais”, afirmou em 2009 ( nada de substancia­l mudou até agora), no mais elementar cumpriment­o do seu dever, D. José de Queirós Alves, em conversa com o então Procurador- Geral da República do MPLA, João Maria Moreira de Sousa. D. José de Queirós Alves admitia também ( tudo continua na mesma) que ainda subsiste no país uma mentalidad­e em que o poder económico de meia dúzia se sobrepõe à justiça. O arcebispo pediu maior esforço dos órgãos de justiça no sentido das pessoas se sentirem cada vez mais defendidas e seguras: “O vosso trabalho é difícil, precisam ter atenção muito grande na solução dos vários problemas de pessoas sem força, mas com razão”. Importa ainda recordar, a bem dos que não têm força mas têm razão, que numa entrevista ao jornal português “O Diabo”, em 21 de Março de 2006 ( 13 anos depois tudo continua na mesma), D. José de Queirós Alves disse que “o povo vive miseravelm­ente enquanto o grupo ligado ao poder vive muito, muito bem”. Nessa mesma entrevista ao Jornalista João Naia, o arcebispo do Huambo considerou a má distribuiç­ão das receitas públicas como uma das causas da “situação social muito vulnerável” que se vive Angola. D. Queirós Alves disse então que, “falta transparên­cia aos políticos na gestão dos fundos” e denunciou que “os que têm contacto com o poder e com os grandes negócios vivem bem”, enquanto a grande massa populacion­al faz parte da “classe dos miseráveis”.

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