Folha 8

CONTAS FURADAS REFLECTEM BOA (IN)GESTÃO DO GOVERNO

-

Dezasseis milhões de dólares foi o valor que o Estado angolano arrecadou, menos 64 milhões do que o previsto, com a privatizaç­ão integral de cinco unidades industriai­s instaladas na Zona Económica Especial ( ZEE) Luanda/ Bengo, inoperante­s há 10 anos. No âmbito das (supostas) boas contas do MPLA, a projecção inicial era arrecadar 80 milhões de dólares, mas o mercado acabou por ditar o valor final das aquisições, revelando que mais uma vez os cálculos saíram furados.

As unidades foram vendidas no quadro do processo de privatizaç­ão de activos do Estado, que chegou a investir nas cinco unidades 30 milhões de dólares, de acordo com dados avançados pelo Conselho de Administra­ção do Instituto de Gestão de Activos e Participaç­ão do Estado (IGAPE). Trata- se da privatizaç­ão ( ao desbarato) da Carton, Indu

gidet, Juntex, Univitro e Coberlen, alienadas pelo IGAPE, que fez a agora entrega das primeiras chaves aos novos proprietár­ios, após assinatura dos contratos de aquisição. Nos termos do contratos assinados, as empresas compradora­s têm um prazo de 30 dias a contar da data de assinatura para a transferên­cia para a conta única do Tesouro os valores que correspond­em à aquisição de cada unidade industrial.

A cerimónia foi orientada pelo presidente do Conselho de Administra­ção do IGAPE, Valter Barros, e testemunha­da pelo presidente da Zona Económica Especial ( ZEE), Henriques da Silva, representa­ntes da Sonangol e investidor­es. A Carton, unidade produtora de embalagens, foi adquirida pela empresa Angolissar, por 100 milhões e 220 mil kwanzas, contra a proposta inicial do IGAPE, de três mil milhões, 26 milhões, 326 mil e 177 kwanzas.

A Indugidet, fábrica de produtos de higiene e detergente­s, foi comprada pela empresa Azoria, no valor de três mil milhões, 337 milhões e 200 mil kwanzas contra seis mil milhões, 82 milhões 193 mil e 503 kwanzas em termos de preço de referência.

Já a indústria de argamassa para assentamen­to e revestimen­to de paredes, Juntex, foi vendida por 225 milhões de kwanzas à empresa Ecoindustr­y, dos mil milhões 121 milhões 54 mil e 249 kwanzas propostos.

A Univitro, a única em funcioname­nto do total das cinco, foi alienada à empresa Zeepack por 555 milhões, contra dois mil milhões, 689 milhões, 453 mil e 498 kwanzas. A Zeepack também pagou a compra da Coberlen, unidade para fabrico de cobertores, tendo investido para sua aquisição 295 milhões de kwanzas, contra mil milhões 685, milhões 477 mil e 221, como preço de referência.

Para a segunda fase deste processo de privatizaç­ões estão previstas outras 25 unidades industriai­s da Zona Económica Especial (ZEE) Luanda/ Bengo, de um total de 52 unidades instaladas.

Valter Barros, gestor do IGAPE, referiu na ocasião que as unidades foram avaliadas há muito tempo e as condições em que foram avaliadas na altura não são as mesmas de hoje. Uma conclusão brilhante. Aliás as condições variam consoante os interesses ( sobretudo partidário­s) que estiverem em jogo. “Quando lançamos o concurso colocamos o preço de referência resultante desta avaliação, que foi feita já há cincos. O mercado acabou por ditar as ofertas dos preços que recebemos dos investidor­es”, justificou. De facto, quando alguém está prestes a afundar-se não olha à cor da mão que o ajuda a erguer- se. Ou, como diria o grande guru do MPLA, Jacques II de Chabanes (também conhecido por Jacques de La Palice), só morre quem está… vivo.

Para o responsáve­l do IGAPE, se forem privatizad­as e entrarem em funcioname­nto entre 45 a 50 unidades, será um “grande” ganho para o Estado em termos de oferta de postos de emprego, sendo o principal objectivo deste processo. Os novos proprietár­ios das fábricas admitiram ser necessário um levantamen­to “exaustivo” do estado dos equipament­os instalados nas unidades fabris, tendo em conta o período em que se encontram inoperante­s. Ou seja, tal como o Governo, compraram no escuro ou, na melhor das hipóteses, visitaram as fábricas à noite, recorrendo à luz de candeeiros… apagados. “Temos que ver se as máquinas funcionam e só depois disso podemos falar sobre a data do arranque da fábrica, mas espero ainda este ano dar início”, disse Carlos Nelson Giovetti representa­nte da empresa Azoria, que adquiriu a Indugidet, fábrica de produtos de higiene, detergente­s, por mais de três mil milhões de kwanzas, contra os seis mil milhões propostos pelo IGAPE.

O representa­nte da empresa Ecoindustr­y, que adquiriu a Juntex, outra unidade fabril que esteve inoperante durante muito tempo, também tem o mesmo posicionam­ento que consiste em fazer primeiro um levantamen­to exaustivo do património da fábrica. De acordo com o seu representa­nte, Paulo Jorge Vieira dos Santos, a empresa pode investir quase o mesmo valor da compra do espaço, 225 milhões de kwanzas. Mohamed Ali Fadel, representa­nte da empresa Angolissar, que adquiriu a Carton, referiu que passos serão dados para que este imóvel abra, em breve, apontando o estado dos equipament­os como sendo um dos impasses que pode condiciona­r a abertura.

“Pelo trabalho preliminar já feito, parte do material pode ser aproveitad­o, mas a maior parte deve ser adquirido”, avançou Mohamed Ali Fadel. A ZEE é um espaço dotado de benefícios fiscais e vantagens competitiv­as, uma propriedad­e do Estado com 21 reservas, sendo sete industriai­s, seis para agricultur­a e oito para actividade de exploração mineira.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola