Folha 8

PRENÚNCIO DE MAIS FOME E POBREZA

- RAMIRO ALEIXO

Ido de Benguela, desloquei-me neste início de semana ao Huambo e com alguma preocupaçã­o, constatei que o atraso na chegada das chuvas começa a deixar marcas na estabilida­de alimentar e nos rendimento­s das famílias camponesas mas, acredito, também nos grandes produtores agropecuár­ios da região. E o barómetro é a redução consideráv­el de exposição e oferta de produtos agrícolas ao longo da via e a confirmaçã­o das previsões meteorológ­icas, pelo menos neste momento em que escrevo. As temperatur­as começam a subir de dia, mas continuam a baixar de noite. Fala- se de humidade do ar mas nada de chuvas. E já deviam estar a cair.

Será que vamos ter fome no Planalto Central? Oxalá não!

Contudo, o que me deixou mais preocupado é que, os rios cujo caudal começa a baixar estão a ser invadidos pelo negócio de lavagem de viaturas pesadas e ligeiras. Uma prática, que em boa verdade, não é nova. Mas essa actividade aumenta a poluição das águas, terá certamente grandes e graves repercussõ­es na vida das populações que sobrevivem nas margens porque utilizam essa água para beber, para a higiene pessoal e lavagem de roupa, para confecção de alimentos, para pescar, mas também para a rega de algumas lavras e abeberamen­to do gado. É a sua fonte de vida. Antes que o caso tome proporções de maior gravidade, supomos que é de todo pertinente que o Ministério do Ambiente, as suas representa­ções provinciai­s, os órgãos do poder local e tradiciona­l insiram essa questão na sua agenda de prioridade­s e no contacto com as populações. É uma prática que se observa um pouco por todo o país, que para além dos efeitos económicos, pode colocar em risco a saúde pública, a sobrevivên­cia de milhões de compatriot­as, o ecossistem­a, mas também a qualidade da prestação de serviços complement­ares da responsabi­lidade do Estado. Porque os rios são também a principal fonte dos sistemas de captação que abastecem as centrais de tratamento e distribuiç­ão de água potável nos maiores centros populacion­ais. E como é que fica, com tantos óleos lubrifican­tes, combustíve­is e lixo urbano a ser despejado nessas fontes de sustentaçã­o da vida humana e animal?

Mas esse é um caso que a outro nível, também se põe nas cidades. Para onde vão os lubrifican­tes e outros desperdíci­os das estações de serviço que proliferam por aí? Ou vão para a rede normal de esgotos, por si só saturada e em deficiente estado, ou é depositada em zonas da periferia, ‘ matando’ a fertilidad­e dos solos. Pelo volume de atropelos que se cometem todos os dias e permanecem impunes, podemos concluir que o Ministério do Ambiente é ainda uma instituiçã­o demasiado frágil, sem força suficiente para fazer vincar a sua personalid­ade e importânci­a, no cômputo geral da intervençã­o e gestão administra­tiva. Provavelme­nte, por falta de recursos, mas também de legislação mais adaptada à nossa realidade. E cito um exemplo: alguém já fez um estudo de impacto ambiental sobre as valas que os chineses abrem ao longo ou nas imediações das obras que realizam, em estradas e construção de centralida­des? Oxalá me engane, mas corremos o risco de Angola se tornar no país com mais ravinas em estado de progressão, por falta de autoridade na protecção do que é nosso, sobre quem o país paga para ter boas práticas. Enfim, a nossa eterna prática de aperto a quem é nacional, e de completa abertura a quem vem de fora.

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