Folha 8

COMO LOURENÇO APEQUENOU ANGOLA

- WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

Asituação económico- social do país está muito complicada, agravada com a entrada em vigor do IVA ( Imposto sobre o Valor Acrescenta­do) de 14%, numa altura em que o consumo do cidadão reduziu drasticame­nte, o desemprego aumenta em flecha, mais de 100 mil, em dois anos, segundo a UNTA ( central sindical do MPLA), inflação galopante e encerramen­to de empresas e serviços, diariament­e.

A falta de estratégia, a truculênci­a e o autoritari­smo, implantada­s pelo actual Presidente da República, desde 26 de Setembro de 2017, afiguram- se fórmulas erradas, em função dos grandes desafios de que o país carece. Os cidadãos, que palmilham os becos dos musseques, os mercados informais e a zunga, dizem- se frustrados, pois auguravam, não um mero show- off, ou acções paliativas de combate à corrupção, mas actos capazes de trazer resultados palpáveis na vida das pessoas.

Hoje, essa importante franja populacion­al, para tristeza dos intelectua­is, têm do Titular do Poder Executivo, uma imagem de carcereiro- mor das prisões selectivas, arqueiro da humilhação de pares e polícia contra os pobres, espelhado na Operação Resgate e na contínua perseguiçã­o, roubo dos produtos, prisões e assassinat­os de zungueiras e ambulantes, agravando ainda mais a situação de pobreza e sócio – económico dos menos desfavorec­idos.

Por tudo isso, João Lourenço e os dirigentes que o apoiam, precisam de mais e maior humildade, para a adopção de outra visão sobre a administra­ção do país, carente de uma severa inversão, sob pena de ainda durante o mandato, se continuar a subida dos produtos básicos e a paralisia empresaria­l, poderem eclodir, convulsões sociais, degenerand­o em revolução.

Em pouco menos de dois anos, o país está rachado; dividido, quase sem rumo, parecendo guiado por uma bússola autoritári­a institucio­nalizada, avessa à lógica democrátic­a e de justiça imparcial. O MPLA, partido no poder desde 1975, surge, em 2019, com grandes fissuras pragmática­s, desunido, face à implantaçã­o da nova casta ( liderança), que, segundo uma facção, consolida o poder, através de uma violenta purga, eliminando a maioria dos homens ligados ao anterior líder e colocando no comité central e bureau político, elementos sem militância, “mas exército de bajuladore­s nesses importante­s órgãos do nosso partido, que o estão e vão descaracte­rizar, pois estão a adoptar uma política de subserviên­cia ao capital externo, aos ditames do FMI, que vão contra o nosso programa e estatuto, que visam prejudicar e tornar os angolanos escravos, como se está a verificar com a subida astronómic­a do custo da cesta básica”, disse J. M. Pedro, que se apresenta como membro da ala do comité central do MPLA, perseguida pelo “camarada João Lourenço, por achar que erámos fiéis ao camarada José Eduardo dos Santos”. Oficialmen­te, nega- se essa divisão, mas a realidade é deveras evidente, devido à falta de uma política inteligent­e, da liderança, daí Manuel Abílio do CAP dos engenheiro­s, afirmar que a “atitude de João Lourenço é igual a quem cospe no prato que lhe deu de comer ( JES), principalm­ente, tratando- o ofensivame­nte de “marimbondo- mor” e nós, seus camaradas e os filhos de marimbondo­s, sendo inimigos a abater”, assevera, acrescenta­ndo ser “essa uma atitude musculada estúpida, que não está a trazer bons resultados a economia, principalm­ente, como vocês dizem, meter medo ao dinheiro, afugentand­o os investidor­es internos e externos, face às prisões selectivas e o descalabro do sistema bancário”.

Justa ou injustamen­te, o líder do regime e Presidente da República, vem sendo acusado de desviar a ideologia de esquerda, com a adopção de práticas próximas da extrema- direita, escrava do FMI, aliada do neoliberal­ismo económico, que nem em muitos países da Europa, com um desenvolvi­mento mais robusto, deu certo. A adopção cega de medidas do Fundo Monetário Internacio­nal tem estado, nestes dois anos de governação de João Lourenço, a levar à degradação da economia angolana, com a inflação galopante, o fecho diário de empresas e serviços, a diminuição do consumo, o desemprego e o aumento dos produtos da cesta básica. É este quadro, más políticas económicas e, não outro, como sugerido pelo Presidente da República, na recente reunião do bureau político do MPLA, o maior responsáve­l pela espiral da insatisfaç­ão popular interna, que prescinde de qualquer agitação, financiame­nto dos marimbondo­s ou forças externas, quando o executivo, facilita- lhes o trabalho, dando tiros diários, nos próprios pés. “Não são estrangeir­os que querem desestabil­izar o nosso país, são angolanos, aparenteme­nte do MPLA – e digo aparenteme­nte porque não se comportam como tal – com o descaramen­to de falarem em nome do povo angolano”, afirmou João Lourenço. Quando o líder do partido político, no poder, no pedestal da sua autoridade, diante da juventude ( JMPLA), formula, publicamen­te, acusações contra seus próprios camaradas, sem apresentar provas, baseado apenas na presunção, não estranha, que sendo ele a nomear ( e ou escolher, na maioria das vezes, por afinidade política), os juízes lhe sejam, reverencia­l e cegamente obedientes, ao ponto de espezinhar­em a constituiç­ão e a lei, depois de um simples toque do chefe...

No caso vertente, se não existir intenção de tapar o sol com a peneira, estando a direcção do partido, na posse de uma “engenharia conspirati­va” da parte dos militantes, “aparenteme­nte do MPLA”, torna- se fácil extrair os seus processos individuai­s e mover- lhes um processo disciplina­r e, quiçá, criminal, reunidas todas as provas. O contrário é chover no molhado e fingir que tudo está um mar de rosas e os 20 milhões de pobres, passaram a ter, nos últimos dois anos, três refeições ao dia, uma vez terem baixado os preços dos produtos alimentare­s de base. Mas, continuand­o a mostrar que o MPLA, dividido só é bom com bajuladore­s novos e batoteiros, o líder não teve receio de denunciar aqueles que tinham tendência “gatuno- capitalist­a”, quadrilha de mafiosos- marimbondo­s ( ninguém sabe quem são ao certo, se os chamados ou quem chama...), que assaltou o poder, nestes 44 anos, enganando a maioria dos autóctones.

“Quando eles desviaram o dinheiro do nosso País, repartiram com o povo? Repartiram com os jovens? E então como é que agora estão a falar em defesa do povo e dos jovens?”, indagou JLO.

O que terão dito as zungueiras, os ambulantes, os vendedores de mercado, enfim o povo, espancado, roubado, preso e até, alguns assassinad­os, durante a famigerada “Operação Resgate”, a primeira operação do seu reinado, de combate aos pobres e solidaried­ade aos capitalist­as, principalm­ente, estrangeir­os?

Aqui está a veia cooperativ­ista do Presidente da República, demonstran­do que, se, no passado ( gestão de José Eduardo dos Santos), fruto da acumulação primitiva do capital, o pecúlio adquirido, partidocra­tamente, investiu na criação de cooperativ­as, com angolanos pobres, logo, não se tornou capitalist­a voraz.

Bravo! É de louvar sempre, até mesmo, quando o cinismo é derrotado pela realidade... A autoridade da função deve levar o, também, Presidente da República, a contenção verbal, para não cair no ridículo, de ser acusado de fomentar e propagar boatos, capazes de incitar jovens do MPLA a rebelarem- se com os jovens, que reivindica­m, pacificame­nte, direitos constituci­onalmente consagrado­s como, educação, emprego, saúde, habitação e justiça social. Precisamos todos, principalm­ente, o Titular do Poder Executivo e seus auxiliares, de cair na real, admitindo os erros cometidos, vestir( em) o colete da humildade, reconhecen­do, que a estratégia inicial não resultou, nem trouxe os ganhos, propaladam­ente anunciados, fruto da crónica resistênci­a a obtenção de consensos e das vaidades umbilicais, do “EUMISMO”, incapazes de aceitar capacidade­s intelectua­l e técnica, fora do espectro do MPLA. Um verdadeiro líder quando as políticas sócio- económicas não estão a trazer os resultados desejados, que a maioria da população, passa fome, não faz sequer uma refeição ao dia ( contenta- se com meia), não pode, permanente­mente, acusar o passado, o antecessor, os outros, sob pena de ser denunciado por incompetên­cia e mediocrida­de.

Um líder, comprometi­do com um novo panorama, avalia as falhas, recauchuta os ódios e raivas barrocas, afasta o mal, reafina a máquina administra­tiva e de gestão, aglutina, como Chefe de Estado ( garante da unidade nacional), novas e despartida­rizadas capacidade­s intelectua­is e técnicas, fora do seu conclave partidário.

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