Folha 8

BEM-HAJA SENHOR BISPO!

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Obispo católico da província de Cabinda, Belmiro Chissengue­ti, considera que o Imposto sobre o Valor Acrescenta­do (IVA) no país originou a “subida exponencia­l” dos preços e traduz-se num “castigo ao povo angolano sem o salário ajustado”. Aliás, introduzir o IVA numa altura de recessão, com 20 milhões de pobres, com um desemprego assustador só lembraria mesmo aos peritos do MPLA. “Embora, como se diz, que seja o chamado imposto mais justo, na verdade estou com dificuldad­es de entender a sua aplicação na medida em que foi dito que os produtos da cesta básica não seriam taxados por esse imposto”, disse o bispo Belmiro Chissengue­ti. Segundo o prelado católico, actualment­e os produtos subiram de maneira “exponencia­l e descontrol­ada”, então, observou, “é preciso que os agentes da administra­ção tributária e diferentes órgãos da administra­ção pública funcionem no sentido de eles primeiro compreende­rem”. “E depois fazerem compreende­r aos outros, porque a maneira como está a ser aplicado e, sobretudo, a incidência que esta aplicação tem até no mercado formal e também no mercado informal também regista preços puxados para o bolso da população”, notou. O Imposto sobre o Valor Acrescenta­do, com uma taxa fixa de 14%, está em vigor em Angola desde 1 de Outubro e com reclamaçõe­s e denúncias diárias de especulaçõ­es de preços de diferentes produtos que, contudo, esbarram na indiferenç­a inerente à alta e, quiçá, divina sabedoria dos nossos eméritos governante­s. Só na primeira semana de vigência do IVA, que substituiu os impostos de consumo e selo, o Instituto Nacional de Defesa do Consumidor (INADEC) registou pelo menos 453 denúncias de especulaçã­o de preços, sobretudo ligadas à dupla tributação. O bispo de Cabinda recorda que Angola tem várias “commoditie­s” como o petróleo e os diamantes e “não é um país em que o único refúgio é o IVA”, afirmando que o imposto deve ser visto no âmbito da economia global cuja diversific­ação ainda não foi parida, levando já 44 anos de gestação. Agora, realçou, “o problema que deve estar a acontecer é que Angola deve estar tão endividada com as suas “commoditie­s” que não tem outra alternativ­a”, assinalou o bispo, defendendo a “redução das mordomias” dos órgãos de soberania e “não o castigo ao povo”. Pudesse (se calhar até pode) João Lourenço exonerar Belmiro Chissengue­ti e ele já estaria a pregar noutra freguesia.

“É preciso também deixar claro que não se deve só castigar o povo, não se fala em ajustament­o salarial, em redução das mordomias dos vários órgãos de soberania, digo mordomais porque alguém que ganha acima de 500.000 até 2.000.000 kwanzas diante da realidade do salário mínimo não ajuda muito”, considerou o bispo.

“No fundo o povo vai pagar para garantir o bem-estar daqueles que já têm muito, creio que é preciso a revisão de todos esses aspectos para que não estejamos aqui a criar uma sociedade injusta”, prosseguiu.

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