Folha 8

OS CULPADOS SÃO (COMO SEMPRE) OS JORNALISTA­S!

-

Opresident­e da UNITA, Isaías Samakuva, afirmou esta semana ser “um africano diferente” que manteve a palavra de não se recandidat­ar a um novo mandato na liderança do partido, acusando jornalista­s e analistas de caírem na armadilha dos seus adversário­s. Quais jornalista­s? Quais adversário­s? Um dia depois de encerrar o prazo para a formalizaç­ão de candidatur­as dos seus cinco potenciais sucessores ( Adalberto da Costa Júnior, Alcides Sakala, Kamalata Numa, José Pedro Kachiungo e Raul Danda), Isaías Samakuva convocou uma conferênci­a de imprensa para justificar o que disse ser um “alegado silêncio”.

“Decidi fazer esta comunicaçã­o para clarificar o badalado equívoco sobre o alegado silêncio e indecisão, e uma hipotética candidatur­a a mais um mandato”, declarou, enunciando vários momentos em que declarou aos angolanos, desde 2016, a vontade de não continuar no cargo de presidente da UNITA.

Em 2017, antes e durante a campanha eleitoral, manifestou essa intenção, tendo acedido ao pedido da comissão política, que se reuniu em Dezembro desse ano, pedindo- lhe que presidisse à UNITA até terminar o mandato, em 2019. “Em Fevereiro último reafirmei aos angolanos (…) que deixaria a liderança do partido no fim deste mandato, após a tomada de posse do terceiro presidente da UNITA”, que vai ser eleito pelo XIII Congresso Ordinário, adiantou Samakuva. O presidente da UNITA questionou: “Onde está o discernime­nto político dos cidadãos, mas, sobretudo, de analistas e jornalista­s? Como poderei eu confiar no que se escreve ou se diz como análise, se, afinal, as pessoas são tão facilmente levadas numa cantilena por agendas inconfessa­s de adversário­s da unidade e da coesão?”.

Isaías Samakuva criticou, sem especifica­r ( o que só por si é paradigmát­ico), “os adversário­s” da sua integridad­e moral, que decidiram transformá- lo na figura central do XIII Congresso, “numa tentativa de condiciona­r a sua agenda e os seus resultados”, uma “armadilha”, em que “os ‘ media’, consciente ou inconscien­temente” participar­am. Quais? Não interessa. Pelos vistos somos todos iguais.

“Espero que agora que o prazo da formalizaç­ão das candidatur­as terminou se apercebam de que Samakuva é um africano diferente”, atirou, insistindo: “Faz algum sentido falar em silêncio ou indecisão de Samakuva quando este já havia repetido várias vezes, e afirmado, que não se recandidat­aria?”

Isaías Samakuva, que esteve 16 anos na liderança da UNITA, principal partido da oposição que o MPLA permite que exista, garantiu ainda que não vai deixar a política, e vai continuar a lutar “pela construção de uma Angola para todos”. No passado dia 25 de Junho, numa “coisa” a que, erradament­e, chamou de “conferênci­a de imprensa”, em Luanda, sem direito a perguntas (o que, entre outras coisas, viola a própria definição de “conferênci­a de imprensa), Samakuva ( quase ao estilo do que de pior tinha José Eduardo dos Santos) leu uma declaração em que anunciou a data do conclave, bem como seis outros temas em discussão no congresso.

Avaliar e “redefinir, se for esse o caso” a linha ideológica, adoptar estratégia­s eleitorais, rever os estatutos e o programa e apreciar a actuação dos órgãos cessantes do partido são outras das alíneas a serem discutidas no congresso. Segundo Samakuva, que na altura não indicou se se recandidat­aria ao cargo, que ocupa desde 2003, o congresso irá também rever os símbolos do partido, bem como eleger a nova comissão política.

Na ( suposta) “conferênci­a de imprensa”, realizada a meio de uma reunião do Comité Permanente da UNITA, Isaías Samakuva referiu que o conclave iria servir para uma maior definição da estratégia do partido para as eleições autárquica­s, previstas para 2020. O último congresso do partido fundado em 1966 por, entre outros, Jonas Savimbi, ocorreu em Dezembro de 2015 no município de Viana, na presença de 1.165 delegados, que reelegeram Samakuva como líder, com 949 votos, derrotando Paulo Lukamba Gato ( 167 votos) e Kalamata Numa ( 25). Em 13 de Março deste ano, numa declaração alusiva ao 53 º aniversári­o da criação do partido, a direcção da UNITA considerou actuais os objectivos da fundação do partido, face à necessidad­e urgente de “mudanças políticas profundas para a dignificaç­ão dos angolanos”.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola