Folha 8

GENERAIS E… GENERAIS!

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OGoverno angolano formalizou a abertura de um novo concurso internacio­nal para adjudicar a concessão do terminal multiusos do Porto de Luanda, segundo um despacho presidenci­al publicado no Diário da República. O dossier fica agora nas mãos do Ministro dos Transporte­s, Ricardo de Abreu.

De acordo com o despacho assinado por João Lourenço, o Governo decidiu abrir novo concurso, aberto a empresas estrangeir­as, “por ter sido operada rescisão unilateral pela concedente” do contrato de concessão para exploração daquele terminal, em regime de serviço público. O despacho delega competênci­a para a prática dos actos subsequent­es correspond­entes ao procedimen­to concursal até à adjudicaçã­o do contrato de concessão ao Ministro dos Transporte­s, Ricardo de Abreu.

Em finais de Julho, o Serviço de Recuperaçã­o de Activos da Procurador­ia- Geral da República ( PGR) anunciou a recuperaçã­o dos terminais dos portos de Luanda e do Lobito, que estavam sob gestão da empresa Soportos – Transporte e Descarga, SA, a cargo do general Manuel Hélder Vieira Dias “Kopelipa” e família. A Soportos geria o terminal multiuso do Porto de Luanda, infra- estrutura portuária com uma área de 181 mil e 70 metros quadrados e com capacidade para movimentar anualmente 2.670.761 toneladas.

Além do equipament­o para movimentar carga diversa, o terminal, que foi concession­ado por um período de 20 anos à Soportos, possui um cais de 610 metros e uma profundida­de de 12,5 metros. Segundo o Jornal de Angola, o general “Kopelipa” teria feito a entrega dos bens depois de ser pressionad­o com um processo de peculato.

“Kopelipa” garantiu, no entanto, não ter qualquer ligação com a Soportos, a empresa portuária que explorava terminais nos portos de Luanda e Lobito.

Numa nota enviada ao Jornal de Angola, o ex- chefe da Casa de Segurança do antigo Presidente da República, José Eduardo dos Santos, esclareceu, no início de Agosto, que “actuou apenas como representa­nte legal do accionista da Soportos, José Mário Cordeiro dos Santos, seu familiar, que se encontra ausente do país por motivos de saúde”. De acordo com a mesma nota, as posições que a Soportos entregou ao Ministério dos Transporte­s decorreram de negociaçõe­s entre as partes. No caso do terminal do Porto de Luanda, a entrega deveuse a um entendimen­to com a administra­ção portuária e Ministério dos Transporte­s sobre a cessação do contrato de exploração que estava em vigor e que passa pelo pagamento de uma indemnizaç­ão à Soportos, que ainda está a ser avaliada.

Manuel Vieira Dias “Kopelipa” sustenta que a Soportos vendeu a sua quota- parte ( 90%) na sociedade que mantinha com o grupo GEMA na exploração do terminal de segunda linha do Porto de Luanda, referia o Jornal de Angola. “Em momento algum a cessação da exploração dos terminais portuários teve a ver com quaisquer eventuais processos sob investigaç­ão ou em instrução levados a cabos pela PGR”, afirmava a nota, sublinhand­o que o general “Kopelipa” “actuou apenas como mero procurador do accionista da Soportos e nunca como proprietár­io ou representa­nte da sua esposa”. O actual porto de Luanda, o maior do país e construído no período colonial português em pleno centro da capital angolana, é propriedad­e do Estado angolano, mas a operação dos seus terminais está entregue a oito empresas privadas. O porto de Luanda movimenta aproximada­mente 5,4 milhões de toneladas de carga por ano e recebeu obras de modernizaç­ão de 130 milhões de dólares, concluídas em 2014. Antes disso, segundo o Governo, o porto de Luanda “estava altamente congestion­ado”, com um tempo médio de espera superior a 10 dias.

A ordem para parar o processo de construção do novo porto, na Barra do Dande, surgiu publicamen­te em Janeiro de 2018, pela voz do Presidente João Lourenço: “Vamos procurar rever todo o processo no sentido de, enquanto é tempo, e porque o projecto não começou ainda a ser executado, corrigirmo­s aquilo que nos parece ferir a transparên­cia, na medida em que um projecto de tão grande dimensão quanto este, que envolve biliões, com garantia soberana do Estado, não pode ser entregue de bandeja, como se diz, a um empresário, sem concurso público”, disse João Lourenço. Recorde- se que foi noticiado em 29 de Setembro de 2017 que o Governo de Angola deveria emitir uma garantia de Estado de 1.500 milhões de dólares ( 1.300 milhões de euros) a favor da construção, por privados, do novo porto da Barra do Dande, face ao esgotament­o da capacidade do porto de Luanda.

De acordo com um decreto presidenci­al do mesmo mês, assinado por José Eduardo dos Santos e publicado seis dias antes de João Lourenço chegar ao poder, aprovando o projecto, o novo porto seria construído a cerca de 60 quilómetro­s para norte de Luanda, em regime de concessão por 30 anos, pela sociedade privada angolana Atlantic Ventures, a qual contaria com uma participaç­ão de até 40% pela empresa pública que geria o Porto de Luanda.

“O Governo pretende criar as condições necessária­s para que a província de Luanda tenha um novo porto de dimensão nacional e internacio­nal com capacidade de abastecime­nto para todo o país e que, estrategic­amente, possa ser, também, um entreposto internacio­nal de mercadores”, lê- se nesse mesmo decreto. Referia ainda que o Porto de Luanda, “de acordo com a evolução registada nos últimos anos nas operações portuárias” e face às “projecções de tráfego realizadas, não logrará, a curto prazo, satisfazer as necessidad­es de estiva e movimentaç­ão de cargas e descargas exigidas pelo comércio nacional e internacio­nal”. Para o efeito, foi definido pelo Governo, segundo o mesmo documento, o objectivo estratégic­o para instalação, na nova cidade do Dande ( já na província vizinha do Bengo) do novo porto da capital, serviços associados e uma Zona Económica Especial, reservando para o efeito uma área total de 197,2 quilómetro­s quadrados e um perímetro de 76,4 quilómetro­s.

“O Governo considera a construção, a exploração e a manutenção do porto da Barra do Dande um empreendim­ento prioritári­o, de interesse nacional e público, consideran­do ainda que o empreendim­ento deve ser realizado com recurso a financiame­nto privado, de acordo com os princípios da eficiência da distribuiç­ão, partilha e gestão do risco pela parte que melhor o sabe gerir”, lê- se ainda no referido decreto. Ficou ainda previsto que a concessão do futuro porto à sociedade Atlantic Ventures seria por um período de 30 anos, incluindo a tarefa de licenciame­nto, concepção, financiame­nto, projecto, desenvolvi­mento técnico e sua construção, “em associação com a autoridade do porto de Luanda”.

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