UM POUCO DE MEMÓRIA, POR FAVOR
Dizem alguns que “quem vai para o mar avia- se em terra”. Em Angola, quem vai para os negócios avia-se no MPLA. Que o diga ( recorde- se entre outros) o general (da UNITA) “Black Power”.
Outros generais das FALA também se aviam no MPLA mas, devido à filantropia do regime, nem sequer tiveram necessidade de abandonar a UNITA. No entanto, experiente como é e não vá um dia destes o Diabo tecê- las, “Black Power” passou-se com armas e bagagens para o lado dos donos do país.
Jonas Savimbi deve estar a dar voltas e voltas na campa. Afinal, ao contrário do que juraram muitos dos seus generais, mais vale ser escravo e comer lagosta do que livre e alimentar- se de mandioca.
No seio do Galo Negro todos parecem esquecer que a UNITA, por incapacidade dos seus mais altos dirigentes, assinou a sua própria certidão de óbito logo a seguir à morte de Jonas Savimbi, no dia 21 de Fevereiro de 2002. E se a assinou com a morte em combate do seu líder, já a tinha rubricado quando alguns dos seus generais não só passaram para o outro lado, como aceitaram dirigir a caça a Jonas Savimbi. Foi o caso do general Geraldo Sachipengo Nunda. Não adianta por isso continuar a dizer que a vitória seguinte começa com a derrota anterior. Isso faria sentido se o Mais Velho ainda andasse por cá. Como não anda e como os seus discípulos o que querem é apenas lagosta, ao povo que se alimenta da mandioca só resta passar também para o outro lado, mesmo ficando do mesmo lado… Apesar de todas as enorme aldrabices do MPLA, as eleições acabaram sempre por derrotar em todas as frentes não só a estratégia mas a sua execução, elaboradas pelos “generais” da UNITA.
Esperando ( santa ingenuidade!) que a Direcção da UNITA, esta ou qualquer outra, prefira ser salva pela crítica do que assassinada pelo elogio, de vez em quando ainda muitos pensam que é possível ver o Galo Negro voar. E quando se está numa de quimeras… logo aparece um “Black Power” a puxar os crentes para a realidade. Mas, se calhar, nunca mais voará. Com tantos “generais” que apenas sabem levantar o braço e içar um pano branco, com tantos generais que passaram, mesmo que camufladamente, para o outro lado, é de crer que o Galo Negro já nem sequer existe enquanto tal. As hecatombes eleitorais, as passadas e as que se aproximam, mostraram que a UNITA não estava mesmo preparada para ser governo e queria apenas assegurar alguns tachos e continuar a ser o primeiro dos últimos.
O sacrificado povo angolano, mesmo sabendo que foi o MPLA que o pôs de barriga vazia, não viu nem vê na UNITA a alternativa válida que durante décadas lhe foi prometida, entre muitos outros, por Paulo Lukamba “Gato” de forma sincera e indestrutível.
Terá sido para ver esta UNITA que Jonas Savimbi lutou e morreu? Não. Não foi. E é pena que os seus ensinamentos, tal como os seus erros, de nada tenham servido aos que, sem saberem como, herdaram o partido e a ribalta da elite angolana.
É pena que os que sempre tiveram a barriga cheia nada saibam, nem queiram saber, dos que militaram na fome, mas que se alimentaram com o orgulho de ter ao peito o Galo Negro, como também foi, entre outros, o caso de Paulo Lukamba “Gato”.
Se calhar também é pena que todos aqueles que viram na mandioca um manjar dos deuses estejam, como parece, rendidos à lagosta dos lugares de elite de Luanda.
Por último, se calhar também é de lamentar que figuras sem passado, com discutível presente, queiram ter um futuro à custa da desonra dos seus antepassados que deram tudo o que tinham, incluindo a vida, para dignificar os Angolanos. É que, ao contrário do Mais Velho, na UNITA há muitos que preferem ser escravos com lagosta na mesa do que livres embora procurando mandioca nas lavras.