Folha 8

OLGA TOKARCZUK E PETER HANDKE SÃO OS LAUREADOS DO PRÉMIO NOBEL DA LITERATURA

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Depois de um ano sem Prémio Nobel da Literatura, a Academia Sueca anunciou finalmente, os laureados das edições 2018 e 2019: Olga Tokarczuk e Peter Handke. Para a Academia Sueca, o austríaco Peter Handke é um autor cujo “trabalho influencio­u com a sua ingenuidad­e linguístic­a explorou a periferia e a especifici­dade humana.”

Quanto à edição de 2018 do Nobel da Literatura, marcada por um dos piores escândalos na instituiçã­o, a vencedora é Olga Tokarczuk. Para a Academia Sueca, a polaca Olga Tokarczuk tem “uma narrativa imaginativ­a que com a sua paixão enciclopéd­ica representa a travessia das fronteiras como uma forma de viver.”

A autora tem o seu livro “Viagens” traduzido em Portugal e, por coincidênc­ia, no próxima dia 14 de Outubro, o seu mais recente livro, intitulado Conduz o Teu Arado Sobre os Ossos dos Mortos. Olga Tokarczuk, a Nobel de 2018, foi finalista do National Book Award 2018 e venceu o Man Booker 2018 com o romance Viagens, onde relata a história do regresso do coração de Chopin a Varsóvia pela sua irmã. O grande tema do romance é o corpo em movimento, não apenas através do espaço, mas também do tempo, e repete a grande interrogaç­ão desde há séculos: de onde vimos? Para onde vamos?, neste caso, para onde regressamo­s? A recepção ao livro foi muito boa e a revista The New Yorker caracteriz­ou- o como dono de uma visão “perspicaz que transforma o mundo, assim como o seu livro altera as formas convencion­ais de escrita.”

Protestos em Dezembro para Peter Handke em Estocolmo

Se a escolha de Olga Tokarczuk repara a ausência de escritoras na lista de 110 nomes maioritari­amente masculinos e agrada à espuma dos dias das redes sociais - apesar da sua importante escrita -, já Peter Handke é um nome inesperado devido ao seu passado polémico, mostrando que a Academia Sueca não pretende jogar apenas no terreno do politicame­nte correto após ter concedido o Nobel a Bob Dylan. Recorde- se que muitos leitores se afastaram do autor, e este dos seus leitores, quando Handke fez um discurso no funeral do criminoso de guerra, o sérvio Slobodan Miloševi , em 2006. Handke, que tem antepassad­os eslovenos, foi muito criticado pela sua participaç­ão no funeral e pelas suas posições anti- Nato e a favor da Sérvia, mesmo que recebesse no mesmo ano o prémio Heinrich Heine, alegadamen­te devido às suas posições políticas. No entanto, em 2014, ao receber outro prémio, o Ibsen Internacio­nal, os protestos em Oslo foram bem visíveis. Decerto que a cerimónia de entrega do Nobel em Dezembro irá contar com vários protestos públicos contra Handke e o seu episódio Miloševi .

Numa entrevista à imprensa em 2009, Peter Handke confirmava o que a Academia Sueca rectificou: “A literatura tem sido toda a minha vida”, mas interrogav­a- se “sobre se a literatura me tornou uma pessoa melhor... Um pouco melhor, não muito, mas um bocadinho. É suficiente, talvez”. Referiu que “qualquer autor que escreva um livro, mesmo um livro pequeno, mesmo uma só página que nos abra o mundo, é um bom escritor”. Quanto a prémios disse: “Eu não sou uma boa pessoa para prémios, gosto de prémios para os outros, disso gosto. Mas sinto- me muito estranho, não é bom para mim. Eu gosto quando um leitor me escreve uma carta. Esse é que é o meu tipo de recompensa”.

Guarda- costas para proteger Olga Tokarczuk

As posições políticas fortes também existem em Olga Tokarczuk e numa entrevista no ano passado a escritora afirmou que “fui muito ingénua ao pensar que a Polónia era capaz de debater as zonas escuras da nossa História”. Daí que ao regressar à Polónia após ter recebido o prémio literário Man Booker, ao regressar a casa, tenha tido vários guarda- costas a tomar conta de si. Tokarczuk é considerad­a uma das mais destacadas escritoras do seu país e é rotulada de “feminista vegetarian­a” que se insurge contra “um país reaccionár­io e patriarcal”.

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