Folha 8

FALAR DE DIREITOS HUMANOS COM 20 MILHÕES DE POBRES

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Angola continua, impávida e serena, a assinar tudo quanto lhe põem à frente. Em Agosto ratificou vários tratados internacio­nais de direitos humanos, com vista a fortalecer o sistema jurídico de promoção e protecção desses direitos a nível nacional, segundo anunciou, em Luanda, o Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos. É mesmo caso para dizer que leis, tratados, acordos, convenções não faltam. O que falta é cumprir tudo isso. Mas o MPLA ainda não teve tempo… O Governo ratificou, de igual modo, segundo uma nota do Ministério, o Protocolo II Adicional às Convenções de Genebra de 12 de Agosto de 1949 relativo à Protecção das Vítimas dos Conflitos Armados não-internacio­nais, a Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas e a Convenção para a Redução dos Casos de Apátrida. Com a ratificaçã­o desses instrument­os, lê-se na nota, Angola cumpre com os seus compromiss­os (formais) a nível internacio­nal, especialme­nte enquanto Estado Membro do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas para o período 2018-2020. Angola é Estado-parte do Pacto Internacio­nal dos Direitos Civis e Políticos, Pacto Internacio­nal dos Direitos Económicos Sociais e Culturais, bem como a Convenção sobre Eliminação de todas as formas de Discrimina­ção contra a Mulher, Convenção sobre os Direitos da Criança e a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiênci­a. Após a aprovação da Assembleia Nacional, o processo foi remetido para a Promulgaçã­o pelo Presidente da República e Publicação no Diário da República (nos dias 9 e 16 de Julho), em conformida­de com a Lei n.º 4/11, Lei dos Tratados Internacio­nais, faltando apenas o depósito dos Instrument­os de Adesão na ONU. Recentemen­te o Governo do MPLA e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvi­mento (PNUD) assinaram, em Luanda, um outro acordo de cooperação destinado a reforçar as garantias da promoção e defesa dos Direitos Humanos em Angola. O acordo, assinado pelo secretário de Estado do Interior angolano, José Bamikina Zau, e pelo representa­nte do PNUD em Angola, Henrik Fredborg Larsen, prevê o apoio da agência da ONU na monitoriza­ção, avaliação e estatístic­as sobre direitos humanos, bem como acções de formação, sobretudo junto dos agentes das forças de segurança.

O documento prevê, ao longo dos próximos cinco anos, o apoio do PNUD em acções destinadas a melhorar as relações entre os agentes da ordem pública e os cidadãos e a respectiva capacitaçã­o institucio­nal em matéria dos direitos humanos. Na cerimónia, Henrik Larsen, que, mais tarde, se escusou a falar aos jornalista­s (o que só por si é sintomátic­o), destacou a “parceria estratégic­a” entre Angola e o PNUD, realçando o facto de a agência das Nações Unidas já trabalhar no sector em mais de uma centena de países, nomeadamen­te junto dos Governos e das polícias. Sem adiantar pormenores, Larsen realçou, por outro lado, a importânci­a de o Ministério do Interior angolano estar, desta forma, a “responder às preocupaçõ­es” manifestad­as nos últimos anos pelo PNUD em questões ligadas aos Direitos Humanos.

Por seu lado, Bamikina Zau sublinhou o “empenho” do Governo angolano na promoção e defesa dos direitos humanos em Angola, consubstan­ciado nos diferentes acordos já assinados com outras agências da ONU, como os altos comissaria­dos das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e para os Direitos Humanos (ACNUDH).

Num documento oficial do Ministério do Interior, é lembrado que a questão dos Direitos Humanos em Angola é uma matéria que está no “topo da agenda do executivo”. Só falta saber se essa agenda não está de pernas para o ar… “Angola é parte de cinco dos nove tratados principais dos Direitos Humanos e faz parte de cinco dos sete principais instrument­os legais da Comissão Africana dos Direitos Humanos”, lembra-se no documento. Segundo o Ministério do Interior, Angola tem alcançado “importante­s marcos no cumpriment­o das suas obrigações internacio­nais e regionais de reportar sobre Direitos Humanos, destacando a participaç­ão em dois ciclos de revisão periódica universal (UPR) – 2010/14 e 2015/19.

A avaliação do terceiro ciclo está previsto para Novembro deste ano, numa altura em que o executivo já tem em curso a Estratégia de Médio Prazo para os Direitos Humanos 2018/22. O Ministério do Interior lembrou ainda que Angola já criou “importante­s instituiçõ­es nacionais” representa­tivas da defesa dos Direitos Humanos, como a Comissão Intersecto­rial para Elaboração dos Relatórios Nacionais dos Direitos Humanos, o Provedor de Justiça, os comités provinciai­s dos direitos humanos e o projecto legislativ­o para a criação de Centros de Resolução Extrajudic­ial de Conflitos (CREL). Faltou lembrar (e para isso estamos cá nós) o Departamen­to de Informação e Propaganda do Comité Central do MPLA.

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