PARA OS SIPAIOS A PALAVRA DO REI É (SEMPRE) SAGRADA
Os dois principais partidos da oposição que o MPLA ainda permite que exista em Angola criticam asperamente o discurso do presidente João Lourenço no Parlamento mas a bancada do governo disse ter sido um discurso de “esperança”. Esperança que nasceu em 1975 e continua a não ser mais do que isso… esperança!
Durante o discurso os deputados da UNITA mostraram muitas vezes um cartão amarelo mas isso não foi contudo divulgado pela televisão que transmitia o discurso e que, com essa “singela” censura, deram razão aos deputados do MPLA quando falam de “esperança”. Esperança, é claro, que um dia Angola seja o que ( ainda) não é: um Estado de Direito. “Nós exibimos várias vezes o cartão amarelo ao Presidente, mas infelizmente o país não viu o que significa que ainda estamos num estado de censura dentro da Assembleia Nacional o que é mau”, disse o chefe da bancada parlamentar da UNITA Adalberto da Cosa Júnior. A UNITA tem razão. Importa, contudo, não esquecer que os funcionários dos meios de comunicação do Estado/ MPLA são assalariados do Governo e que, se quisessem ( e alguns até quereriam) cumprir a sua missão informativa estariam a caminho do desemprego. Quanto ao discurso em si, Adalberto Costa Júnior diz que não convenceu. “O presidente exibiu estatísticas com as quais não estamos de acordo”, disse o deputado para quem João Lourenço não forneceu “uma visão estratégica sobre o país”. Também, reconheça- se, a missão deste discurso ( como muitos outros) é apenas satisfazer o umbigo da maioria dos autómatos da bancada do MPLA que, como sempre, aplaudem tudo quanto o chefe diz, mesmo que ele diga que para esses deputados serem burros só lhes faltam as… penas. O presidente “citou inúmeros actos mas na realidade Angola está mal em casa, nas empresas, o cidadão está pior e o presidente não falou da revisão constitucional ficou aquém das expectativa”, acrescentou ( e bem) Adalberto da Costa Júnior. Por sua vez o deputado eleito pela CASA- CE, Leonel Gomes, disse que João Lourenço está a ser enganado. “Alguém continua a enganar o presidente”, disse o deputado.
“Os que estão próximos de João Lourenço devem ser mais realistas para ajudar o presidente”, disse Leonel Gomes para quem “os mesmos que ontem diziam que o país tem rumo hoje são os mesmos a crucificar José Eduardo dos Santos”.
“Dizer que a estrada Lukala- Saurimo está realizada não é verdade pois as obras estão paradas, o país tem que ser real e não fictício”, acrescentou. No contraponto, o deputado do MPLA Diógenes de Oliveira elogiou a intervenção do presidente da República, João Lourenço, tal como o fez quando o titular era José Eduardo dos Santos. “Foi um discurso profundo, transversal e tocou em todos sectores e de forma analítica”, disse o deputado, reverencialmente amorfo, mostrando que o mais importante para o MPLA é “assassinar” o seu líder com elogios e não salvá- lo pela crítica. Tudo normal, portanto.
“Ficou a esperança de que estamos numa fase boa e esperança de tempos melhores pelas medidas levadas a cabo”, acrescentou.