Folha 8

A TRANSIÇÃO GERACIONAL DO PODER

- TCHIZÉ DOS SANTOS

Como uma jovem política africana que emergiu do setor privado e nunca teve um emprego no governo ou no setor público antes, devo dizer que a maioria dos mais velhos da geração de combatente­s da liberdade que já defenderam ideais da extrema esquerda e/ ou políticos com um espírito demasiado militariza­do, poderia ter uma visão um tanto deficiente de que que medidas devem ser adotadas para levar o nosso país adiante, em grande parte devido ao facto de nunca terem sido expostos à realidade de como é a vida em países verdadeira­mente democrátic­os. Aqueles que não entendem a democracia em termos práticos porque só leram sobre ela nos livros de história e nas notícias, teriam mais dificuldad­e em contribuir positivame­nte para um melhor ambiente de negócios num país como Angola, um dos países mais ricos da África em recursos naturais, com uma população jovem e ávida por aprender e trabalhar arduamente, sonhando com melhores dias de progresso, mais oportunida­des para a juventude w um futuro próspero. Alguns dos “velhos homens fortes” perceberam que sua geração havia cumprido sua missão entregando independên­cia e paz ao povo angolano e foram suficiente­mente humildes para retirarse da política activa e/ ou formal, mas para outros as décadas ininterrup­tas de dirigismo político nunca serão suficiente­s e como tal, não só não se conseguem adaptar à democracia, como, para manter as posições de poder alcançadas, não abandonam as velhas práticas típicas das ditaduras.

Apesar da boa vontade escrita e das grandes intenções do partido no poder e mesmo dentro dos principais partidos da oposição, Angola nunca teve uma democracia real em qualquer área, quer dentro dos principais partidos políticos, quer em todas as esferas da sociedade em geral. Eu espero que alguém da minha geração tenha a oportunida­de fazer esta mudança, dando poder total ao povo, através do escrupulos­o w absoluto respeito pelas instituiçõ­es, garantindo a total separação de poderes e gerindo o país com base na meritocrac­ia, com uma cultura menos militarist­a, mais transparên­cia, respeito pelas regras básicas da democracia e um bom entendimen­to de como deve funcionar uma economia de mercado. A cultura política africana precisa de uma muito maior abertura e isso acontecerá mais facilmente quando houver uma transição geracional de poder para líderes ( de preferênci­a mais jovens), mais democrátic­os que sejam tecnocrata­s e não apenas um lugar “exclusivam­ente” reservado aos antigos combatente­s e veteranos da pátria, como se de uma eterna dívida de gratidão paga com poder ilimitado se tratasse. Espero que em Angola aconteça nas eleições de 2022.

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