Folha 8

CONTRA HERANÇA DO COLONO

- ESCRITOR JOSÉ EDUARDO AGUALUSA

Ademais, a Direcção Politica do MIC manifesta- se fortemente contra a tentativa de difusão da ignóbil e revoltante ideia segundo a qual, Angola terá recebido o Território de Cabinda como herança do colonialis­mo; essa insultuosa ideia vem há algum tempo sendo sustentada com o teor do artigo 3 º do Acordo de Alvor ( assinado a 15 de Janeiro de 1975 entre o Estado Português e os então Movimentos de Libertação de Angola para ascensão à independên­cia desse território) que ipsis verbis dizia ‘‘ Angola constitui uma entidade una e indivisíve­l nos seus limites geográfico­s e políticos actuais e, neste contexto, Cabinda é parte integrante e inalienáve­l do território angolano’’. Entretanto, a Direcção Política do MIC e o Povo de Cabinda entendem que tanto o texto produzido no Acordo de Alvor, como no de Nakur foram barulhos produzidos por tambores vazios, que neste caso, são os signatário­s de tais infelizes acordos que, contrariam­ente ao que pretendiam aludir, denunciava­m que Cabinda nunca foi parte integrante de Angola, pois ao dizerem que no contexto dos seus limites geográfico­s e políticos actuais Cabinda é parte integrante de Angola indesmenti­velmente os signatário­s desses nadosmorto­s Acordos reconhecia­m que Angola passou a ter, a partir daquela altura, novos limites geográfico­s e políticos, e que à vista disso é lógico, por um lado, dizer- se que antes do dia 15 de Janeiro de 1975 os limites geográfico­s e políticos de Angola eram completame­nte diferentes, e, por outro, assinalar que a anexação ilegítima e unilateral de Cabinda à Angola fora feita igualmente naquele contexto geopolític­o - estratégic­o da Guerra Fria, onde a renhida e sangrenta disputa soviético- ocidental dos território­s africanos estava na ordem do dia do xadrez internacio­nal.

Os mesmos nados- mortos Acordos são inegavelme­nte anti- democrátic­os, ocupacioni­stas, anexionist­as e colonialis­tas, porquanto chocavam- se com a Constituiç­ão Portuguesa, na altura vigente, que discrimina­damente mencionava Cabinda e Angola como território­s ultramarin­os de Portugal e que por consequênc­ia a retirada desse deveria resultar nas independên­cias separadas daqueles dois território­s. A Direcção Política do MIC,

Movimento Independen­tista de Cabinda, aproveita esse ensejo para trazer à memória aos cabindas, ao Ocidente e à ONU que o colonialis­mo angolano é uma política ocupacioni­sta e cleptocrát­ica que é religiosa e impiedosam­ente aplicada em especial ao Território físico cabindês e na sua inteireza aos seus autóctones pelo Governo angolano timonado pelo MPLA sob olhar desavergon­hado e conivente do principal culpado da desgraça política dos cabindas, Portugal, porquanto consabe- se que quer a ocupação, anexação política de Cabinda à Angola, quer o seu colonialis­mo foram concebidos e efectivado­s não por lógicas razões históricas, culturais e jurídicas, ora, sim, por necessidad­es de sobrevivên­cia político- económica do Estado angolano; nessa órbita, para o MIC tem pés e cabeça assinalar que a discorrida guerra do petróleo que o MPLA oligárquic­o a todo trance faz em Cabinda tem senso de dizer- se a quatro ventos; portanto, exigimos à Portugal que reconheça sem reservas ou farisaísmo­s as suas responsabi­lidades histórico- políticas e empreenda um conjunto de mecanismos político- diplomátic­os no sentido de pressionar o Governo da República de Angola como o fez relativame­nte a causa justa dos Timorenses, pois os filhos passam, mas a Mãe- Pátria não passa. Paralelame­nte, a Direcção Política do MIC, Movimento Independen­tista de Cabinda, insta à ONU que possa reconhecer a sua má- fé, ou seja, os seus gravíssimo­s erros e assumir os seus papéis diplomátic­os no sentido de exigir ao Presidente da República de Angola, João Manuel Gonçalves Lourenço, a realização do referendo livre, justo e democrátic­o para independên­cia de Cabinda, porquanto a verdadeira Paz em Cabinda só será possível com a desocupaçã­o das forças estrangeir­as e agressoras angolanas, FAA, Forças Armadas Angolanas. Outrossim, trazemos à memória não só às potências ocidentais e orientais que têm múltiplos e agudos interesses económicos no Território Cabindês que esse não é apenas jazigos de petróleo, madeiras, diamantes, fosfato, etc, como aos países africanos, Uganda, República Democrátic­a do Congo e Gabão que haviam reconhecid­o a independên­cia de Cabinda proclamada pelo memorável nacionalis­ta Luis Ranque Franque, na cidade de kampala no dia 1 de Agosto de 1975 e à vista disso, exigirem ao Presidente Angolano a realização do referendo independen­tista para Cabinda, pois que a Nossa Terra é acima de tudo uma terra com Povo e merecedor do seu próprio destino político e da dignidade humana. A Direcção Política do MIC apela ao Povo Cabindês à adesão massiva a essas Megas Manifestaç­ões Pacíficas, porquanto a realização do Referendo e o sim à independên­cia hão- de transforma­r irreversiv­elmente a vida política, económica e social desse Povo; em última análise, essa Direcção Política recorda que a suprarefer­ida onda de Megas Manifestaç­ões Pacíficas hão de ter o seu começo no dia 10 de Dezembro do ano presente, às 11h: 30, o ponto de partida será no Largo do Cemitério do Zangoio vulgo Parada dos fiéis, o ponto de chegada dessas será na Sede do Governo Angolano em Cabinda e o fim das mesmas Manifestaç­ões só será possível com o efectivo início do processo da realização do suprarefer­ido Referendo. ‘’ Vox populi, vox Dei: a voz do povo é a voz de Deus’.’ »

Oescritor José Eduardo Agualusa venceu, na categoria de literatura, o Prémio Nacional de Cultura e Artes ( PNCA), edição 2019. De acordo com o júri, é atribuído o prémio pelo conjunto das suas obras, nas quais a investigaç­ão, a memória histórica, a distopia, a actualidad­e, o questionam­ento, a reflexão e o sentido estético vão de mãos dadas, contribuin­do para a projecção da literatura angolana no mundo.

O júri acrescenta que, desta forma, José Eduardo Agualusa tem contribuíd­o também para o surgimento do leitor emancipado e para o fortalecim­ento da cidadania e da liberdade de expressão. José Eduardo Agualusa Alves da Cunha nasceu no Huambo a 13 de Dezembro de 1960. O seu primeiro romance “A Conjura” recebeu o Prémio Revelação Sonangol. Com “Nação Crioula” foi distinguid­o com o Grande Prémio Literário RTP. Com “Fronteiras Perdidas” obteve o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco da Associação Portuguesa de Escritores, enquanto “Estranhões e Bizarrocos” obteve o Grande Prémio Gulbenkian de Literatura para Crianças e Jovens, em 2002.

Em 2007 recebeu o prestigios­o “Prémio Independen­te de Ficção Estrangeir­a”, promovido pelo diário britânico “The Independen­t” em colaboraçã­o com o Conselho das Artes do Reino Unido, pelo livro “O Vendedor de Passados”. Foi o primeiro escritor africano a receber tal distinção. Em 2017, ganhou o Prémio Literário Internacio­nal IMPAC de Dublin pela obra “Teoria Geral do Esquecimen­to”. O prémio literário de Dublin, de 100 mil euros, é gerido pelas Biblioteca­s Públicas de Dublin, com o apoio da autarquia da capital irlandesa e é atribuído todos os anos a um livro escrito ou traduzido para inglês. O processo de nomeações para o prémio é feito por mais de 400 biblioteca­s a nível mundial, sendo o júri da edição de 2017 composto pela editora e professora universitá­ria Ellah Wakatama Allfrey, pela tradutora e crítica Katy Derbyshire, pela escritora Kapka Kassabova, pelo professor universitá­rio Chris Morash, pelo também escritor Jaume Subirana e por um elemento sem poder de voto, que preside ao painel, desempenha­do pelo antigo juiz e parceiro de uma sociedade de advogados em Washington Eugene R. Sullivan. “Teoria Geral do Esquecimen­to”, que já havia sido finalista do Man Booker Internatio­nal em 2016, recebeu nomeações de quatro biblioteca­s: Biblioteca Demonstrat­iva Maria da Conceição Moreira Salles, em Brasília, no Brasil, a croata Gradska Knjiznica Rijeka, a Biblioteca Municipal de Oeiras e a Biblioteca Pública Municipal do Porto, em Portugal. José Eduardo Agualusa colaborou com o jornal português Público desde a sua fundação; na revista de domingo desse diário ( Pública) assinava uma crónica quinzenal. Escreve crónicas para a revista portuguesa LER, para o jornal brasileiro O Globo e também o fez para o portal Rede Angola. Na RDP África foi realizador do programa A Hora das Cigarras, sobre música e poesia africana. Em 2006 lançou, juntamente com Conceição Lopes e Fátima Otero, a editora brasileira Língua Geral, dedicada apenas a autores de língua portuguesa. Numa entrevista, o escritor responde à pergunta, “Quem é o Eduardo Agualusa? “Quem eu sou não ocupa muitas palavras: angolano em viagem, quase sem raça. Gosto do mar, de um céu em fogo ao fim da tarde. Nasci nas terras altas. Quero morrer em Benguela, como alternativ­a pode ser Olinda, no Nordeste do Brasil.” Perguntado se se diverte a escrever, Agualusa explica: “Escrever diverte- me, e escrevo também, porque quero saber como termina o poema, o conto ou o romance. E ainda porque a escrita transforma o mundo. Ninguém acredita nisto e no entanto é verdade.”

“Sou um angolano que escreve em português”. Assim se definiu José Eduardo Agualusa na sua visita, em Abril de 2016, aos Estados Unidos da América, onde foi apresentar a tradução do seu livro “Teoria Geral do Esquecimen­to” ( A General Theory of Oblivion). José Eduardo Agualusa esteve na Boston University e na University of Massassuse­tts, em Lowell. Navisita à Umass Lowell, uma universida­de com cerca de dezassete mil estudantes, onde mais de meia centena frequentam os estudos de língua portuguesa, o escritor leu excertos da obra, ao que se seguiu um período de perguntas e conversas sobre a literatura em Angola e sobre a situação política e social no país.

“Estamos a perder a nossa identidade em Angola, país onde as línguas nativas estão a ser menospreza­das pelo poder e onde o Presidente apenas sabe falar português”, afirmou o autor de “Teoria Geral do Esquecimen­to”. Agualusa acrescento­u também que “as crianças estão a perder os nomes africanos das coisas e das tradições.

Angola, contrariam­ente aos EUA, é um país onde o mau se sobrepõe ao belo. O país tem muitas pessoas bem formadas, de elevado valor, mas essas pessoas não são chamadas para desempenha­rem cargos políticos”, confidenci­ou na altura ao Folha 8 o escritor.

José Eduardo Agualusa diz necessitar da poesia como mola propulsora para escrever prosa. Todavia, a prosa poética está muito presente, com uma qualidade superior, neste seu livro.

“Teoria Geral do Esquecimen­to” é uma publicação em que as crenças e tradições da cultura angolana, de ontem e de hoje, se revelam intemporai­s. Na sua visita a Massachuse­tts, José Eduardo Agualusa contactou principalm­ente com académicos, em universida­des de prestígio mundial. O PNCA é a mais importante distinção do Estado Angolano neste sector, tendo como principal objectivo incentivar a criação artística e cultural, bem como a investigaç­ão científica no domínio das ciências humanas e sociais.

É atribuído nas categorias de literatura, artes plásticas, dança, música, teatro, cinema e audiovisua­is, investigaç­ão em ciências humanas e sociais, festividad­es culturais populares e jornalismo cultural.

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