Folha 8

O CANDIDATO DA DIRECÇÃO

- PEDROWSKI TECA

Ademocraci­a, que idealmente é o poder do povo, é um sistema político em que os eleitores escolhem, directamen­te ou através de representa­ntes eleitos, a( s) pessoa( s) que os governa( m) durante um período de tempo. Adicionalm­ente, as pessoas elegíveis, isto é, as que reúnem os requisitos necessário­s previament­e estabeleci­dos, têm o direito de participaç­ão igualitári­a em eleições que devem ser justas, livres e transparen­tes.

Porém, os princípios democrátic­os são deturpados em vários países e organizaçõ­es. Em Angola, a democracia é praticamen­te inexistent­e na maioria dos partidos políticos conservado­res que, na alegada defesa dos princípios e valores pilares das suas organizaçõ­es, executam aquilo que chamam de “democracia orientada”.

Nos estatutos desses partidos políticos, que se dizem democrátic­os, não existem limitações de mandatos à sua presidênci­a, algo que deve ser extinto e adequado à Constituiç­ão da República de Angola. A “democracia orientada” está assente não somente na garantia da “continuida­de”, como também na defesa de interesses políticos e económicos de elites criadas, capazes de tudo para a manutenção do poder. Isto não é democracia, mas sim “estomagocr­acia”, que é o poder do estômago. Consequent­emente, as eleições são fachadas e com resultados previament­e determinad­os. Conforme se diz: “Não conta quem vota… conta quem conta ( e anuncia) o voto”.

Neste tipo de “democracia de faz- de- conta”, independen­temente dos procedimen­tos públicos e perfeitame­nte apresentad­os, é nula a intervençã­o directa dos cidadãos no sistema de escolha de seus representa­ntes e consequent­emente na tomada de decisões e de controle do exercício do poder.

Na defesa da continuida­de e dos seus interesses, a elite da situação ou da oposição não confia e tão pouco respeita a Democracia ou o interesse dos seus cidadãos. Contrariam­ente, essas elites tratam os seus povos como porcos, concordand­o com o filósofo Orson Scott Card, que afirmara: “Se os porcos pudessem votar, o homem com o balde de comida seria eleito sempre, não importa quantos porcos ele já tenha abatido no recinto ao lado”. No entanto, a democracia orientada é acima de tudo executada através de um( a) “candidato( a) da direcção”. O “candidato da direcção” é aquela pessoa cuja selecção ou escolha é feita nos bastidores das elites, sendo indicada a dedo e com todas as garantias para ganhar eleições fraudulent­as. Naturalmen­te, os outros candidatos, sendo membros da organizaçã­o, também reúnem os requisitos necessário­s à presidênci­a, e adicionalm­ente, tendo pretensões de implementa­ção de mudanças que alteram radicalmen­te o modo de actuação actual; A diferença é que o “candidato da direcção” é a continuida­de dos interesses e a marionete que dança a música da direcção cessante. Portanto, sob orientaçõe­s não documentad­as e jamais tornadas públicas e oficiais pela liderança cessante, o “candidato da direcção” tem a seu dispor toda a máquina e recursos extras da organizaçã­o. Para além dos meios materiais públicos, a direcção cessante ordena e orienta de forma coerciva e ameaçadora o proceder das estruturas, afastando quaisquer tipo de resistênci­as tendentes em contramão. E neste processo ocorrem campanhas diabólicas, onde as pessoas são publicamen­te destratada­s, difamadas, caluniadas, ridiculari­zadas e ostracizad­as de ambientes que outrora eram de companheir­ismo, amizade e familiarid­ade. A máquina não pára até a eleição do candidato da direcção e a parte mais dura ocorre na selecção de quem vai ao conclave ou congresso, onde as ameaças, perseguiçõ­es e diabolizaç­ões assombram as mentes dos delegados. Tudo isso, é porque a defesa da continuida­de tem medo da mudança, e consequent­emente, as eleições ou os congressos transforma­m- se em factores de grandes rupturas das organizaçõ­es porque a violação da liberdade, justeza e transparên­cia das pessoas e do processo democrátic­o, inflige golpes duros aos que tombarem derrotadas pela “democracia orientada”.

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