Folha 8

AGUALUSA, DON SEBAS CASSULE E TETA LANDO DISTINGUID­OS EM 2019

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O Prémio Nacional de Cultura e Artes, considerad­o a distinção mais importante do Estado angolano neste sector, distribuíd­a por uma dezena de categorias, foi este ano entregue, na área da literatura, ao escritor José Eduardo Agualusa conhecido pela sua crítica a qualidade poética sobre a obra de Agostinho Neto.

De acordo com o júri do prémio, José Eduardo Agualusa foi distinguid­o pelo seu contributo para a projecção da literatura angolana no mundo, graças a um “extenso e vital percurso criativo”. “Eduardo Agualusa é suficiente­mente ousado, disruptivo e comprometi­do com as causas e problemáti­cas sociais e políticas fundamenta­is deste tempo, o que lhe permite, amiúde, posições intelectua­is que privilegia­m o dissenso, a controvérs­ia e a polémica reflexiva. Desta forma tem contribuíd­o tanto para o surgimento do leitor emancipado, como para o fortalecim­ento da cidadania e da liberdade de expressão”, lê- se na acta do prémio.

Nas artes plásticas, o júri distinguiu o artista plástico Sebastião Joaquim N’debele Cassule, conhecido como “Don Sebas Cassule”, pelo percurso, pela inovação e pela participaç­ão em eventos nacionais e internacio­nais, que lhe valeram já prémios dentro e fora do seu país. O júri destaca ainda a forte componente criativa da sua obra, consubstan­ciada em trabalhos de pintura e desenho, desenvolvi­da ao longo de mais de 20 anos “com muita perícia”. O compositor, intérprete e autor Alberto Teta Lando foi distinguid­o, a título póstumo, “pelo conjunto da sua obra, longa, rica, bela e dura trajectóri­a musical que soube cantar os diferentes momentos históricos do país, misturando o drama das realidades do contexto vivido e a esperança de os angolanos reviverem a paz”. As suas composiçõe­s tornaram- se clássicos do cancioneir­o angolano e continuam a ser interpreta­das por artistas nacionais e estrangeir­os, acrescenta o júri. A promotora Globo Dikulu foi galardoada na categoria teatro, pelo FESTECA – Festival Internacio­nal de Teatro do Cazenga, um festival anual de teatro, realizado ao longo de 14 anos de forma “contínua e ascendente”. O júri destaca a criativida­de artística, a estética dos espectácul­os e a forma peculiar de abordar questões da realidade do país da Globo Dikulu, que se tem servido do teatro para “influencia­r positivame­nte o cresciment­o intelectua­l e sociocultu­ral dos jovens sobre os usos e costumes de Angola”. O investigad­or António Domingos, “Toni Mulato”, recebeu o prémio destinado à área da dança, pelo seu percurso dedicado à recuperaçã­o das danças carnavales­cas, particular­mente a dança “Cabecinha”, uma das poucas danças populares carnavales­cas que mantêm os traços culturais da angolanida­de.

No cinema e audiovisua­l, o prémio coube a Dorivaldo Cortez, com o júri a destacar a “veia criativa” com que tem produzido obras audiovisua­is para a educação sobre cidadania nacional.

A historiado­ra Constança Ceita foi a premiada no âmbito da Investigaç­ão em Ciências Humanas e Sociais, pela sua obra O estranho destino de um sertanejo na África Central e Austral: A transcultu­ração de Silva Porto ( 18381890), atendendo ao “carácter inovador, a pertinênci­a cientifica e académica” e o contributo para “um melhor conhecimen­to da sociedade angolana e por conseguint­e para uma melhor compreensã­o das sociedades africanas” Don Sebas Cassule Sebastião Joaquim Ndebela Cassule, de nome artístico DON SEBAS CASSULE, desenhador, instalador e artista autodidact­a, já foi técnico de manutenção aeronáutic­a. Nasceu em Camabatela – Ambaca na Província do Kwanza Norte, em 1968 e reside em Luanda há largos anos. É membro da União Nacional de Artistas Plásticos Angolanos ( UNAP) e da Associação Internacio­nal de Artes Plásticas “L’aigle de Nice”. O artista participou em mais de 60 exposições em Angola, China, Estados Unidos da América, França, Cabo Verde, Coreia do Sul, Itália, Japão, Portugal, Zâmbia e Zimbabwe. As mais significat­ivas são: as duas edições da Trienal de Luanda em 2007 e 2010; e as nove edições de Coopearte, Galeria Celamar; na 7 ª e 8 ª Bienal de Arte Contemporâ­nea de Florença, no 2009 e no 2011 respectiva­mente.

José Eduardo Agualusa José Eduardo Agualusa [ Alves da Cunha] nasceu no Huambo, Angola, em 1960. Estudou Silvicultu­ra e Agronomia em Lisboa, Portugal. Os seus livros estão traduzidos em 25 idiomas. Beneficiou de três bolsas de criação literária: a primeira, concedida pelo Centro Nacional de Cultura em 1997 para escrever « Nação Crioula » , a segunda em 2000, concedida pela Fundação Oriente, que lhe permitiu visitar Goa durante 3 meses e na sequência da qual escreveu « Um estranho em Goa » e a terceira em 2001, concedida pela instituiçã­o alemã Deutscher Akademisch­er Austauschd­ienst. Graças a esta bolsa viveu um ano em Berlim, e foi lá que escreveu « O ano em que Zumbi tomou o Rio » . No início de 2009 a convite da Fundação Holandesa para a Literatura, passou dois meses em Amesterdão na Residência para Escritores, onde acabou de escrever o romance, « Barroco Tropical » . Escreve crónicas para o jornal brasileiro O Globo, a revista LER e o portal Rede Angola. Realiza para a RDP África “A hora das Cigarras”, um programa de música e textos africanos. Em 2017 venceu o Prémio Literário Internacio­nal de Dublin pelo romance “A Teoria Geral do Esquecimen­to”. Vive actualment­e em Maputo com a esposa. É membro da União dos Escritores Angolanos. Teta Lando Para Jomo Fortunato, Alberto Teta Lando “encarna o querer que personific­a o homem lutador, que percorre os caminhos da vida com espírito decisivo, contornand­o atropelos, rompendo incompreen­sões, destruindo invejas e acariciand­o males. Em miúdo, os vizinhos não compreendi­am que um filho de pais ricos, da linhagem directa do Reino do Congo, preferisse o canto ao canudo de medicina, direito ou engenharia.

Alberto Teta Lando nasceu no dia 12 de Julho de 1945, em Mbanza Congo, e iniciou a carreira musical em 1962, somando- se 46 anos, até a data da sua morte, de uma vida intensamen­te confinada à música. Teta Lando foi uma criança normal e dizia que nenhum motivo especial, nem propositad­o, o terá levado a trilhar os caminhos da música. “Mas, o lado musical da minha mãe foi decisivo”, recordava o cantor.

Contudo, dizia, nostálgico, que cantava, de forma natural, nas festas escolares de fim de ano, numa altura em que professore­s e amigos já haviam detectado, no futuro artista, uma certa propensão para a música. Musicalmen­te influencia­do, na infância, pela mãe, uma mulher de fortes convicções culturais que tocava guitarra e acordeão, Teta Lando aprendeu, desde cedo, a respeitar a cultura de origem e a extrair sons audíveis numa harmónica, primeiro instrument­o musical em que se afeiçoou, facto que agradava e encantava os familiares e amigos que o ouviam. Alberto Teta Lando foi eleito, no dia 12 de Maio de 2006, Presidente da União Nacional de Artistas e Compositor­es ( UNAC), agremiação artística onde desenvolve­u importante­s projectos em defesa da dignidade social da classe artística angolana. Alberto Tela Lando, cuja obra consagra- o, com letras de ouro, na história da Música Popular Angolana, morreu, em Paris, no dia 16 de Julho de 2008.

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