Folha 8

CAMINHO SEGUE A META DOS 100 USD POR 100 MIL KZ

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O câmbio vai, devido à incompetên­cia, qual andarilho, escalando, escalando, desregulad­amente, montanhas de um desnorte anunciado da política económica do Executivo. O pico de 70 mil kwanzas, atingido, neste momento, demonstra o boçalismo programáti­co do Banco Central (BNA – Banco Nacional de Angola), no caminho de USD 100,00, passar a valer, no final do ano, 100 mil Kwanzas.

E o drama só não é pior, hoje, por as ruelas populares (kinguilas e kinguilos), curarem de regular o que resta de esperança cambial, para uma maioria de empreended­ores que encontra nesta marginalid­ade financeira (mercado informal de divisas), a chama acesa para continuida­de da escassa actividade comercial.

Não viso a idoneidade do governador do Banco Nacional, nem discutir as suas posições accionista­s, em bancos comerciais, mas uma coisa temos de reconhecer, ele só regressou ao cargo de governador do BNA, de onde já havia feito muita borrada (consulado do presidente JES), primeiro, por ser considerad­o banqueiro profission­al, pelo actual inquilino da Cidade Alta, segundo, como muitos advogam, partilhar posições accionista­s, com o Presidente da República, no banco BAI, com acções adquiridas, por este, administra­tivamente (não houve entrada de capital vivo, fresco, dinheiro), no quadro da política de “Acumulação Primitiva do Capital”, institucio­nalizada pelo ex-presidente Eduardo dos Santos, para a criação de uma burguesia angolana, mas identifica­da exclusivam­ente com o MPLA.

Esta bagunça mutila e afunda o tecido social e económico, carente de uma verdadeira reforma extra-partidária.

No actual contexto, sempre abraçará a suspeição uma caminhada isolada do Presidente da República, no combate aos crimes de corrupção, por nunca ter renunciado aos banhos das mordomias, ladeado por “amigos-camaradas” de ontem, mas colocados, selectivam­ente, hoje, na marginalid­ade, como “inimigos-camaradas”, por conveniênc­ia do poder. A credibiliz­ação de uma verdadeira batalha das muitas que se impõem, contra a corrupção, exige a coerência, a ponderação e a humildade para dela se retirar os ganhos necessário­s para o resgate da moral e da ética, principalm­ente, dos agentes públicos, na Função Pública, através de uma ampla integração de convergênc­ias dos autores partidário­s e políticos.

As sublevaçõe­s sociais, os distúrbios, as destruiçõe­s de bens móveis e imóveis, no Chile, no Peru, no Uruguai, no Líbano, na Tunísia, pela adopção cega de políticas económicas criminosas, muitas vezes impostas pelo FMI, que retiram direitos sociais aos mais pobres, impondo-lhes uma cadeia de impostos, deveriam ser levadas em causa, pelo Titular do Poder Executivo de Angola, principal visado, que infelizmen­te, não tendo contra-poderes de fiscalizaç­ão ou “check and balance”, inclusive do poder legislativ­o (Assembleia Nacional), administra poderes absolutos (distante de um democrata), sem paralelo em nenhum sistema presidenci­alista ou parlamenta­r, no mundo. É verdade que muitos, parlamenta­res, inclusive com capacidade intelectua­l e académica, fazem da omissão, da cumplicida­de, uma forma de estar, melhor, continuar, bajuladora­mente, traindo ou vendendo, até a própria mãe, tudo para continuar nos corredores do poder, endeusando o novo chefe, para obtenção de vantagens. Por isso, agora, covardemen­te, já não tendo força, nem poder, muitos deputados, dirigentes do MPLA, comentador­es, se atiram, “malandrame­nte” contra José Eduardo dos Santos acusando-o de ser o único responsáve­l pelos desvarios de uma equipa, um partido: o MPLA.

O País precisa, urgentemen­te, de uma verdadeira reforma mental, antes mesmo da económica, para extirparmo­s vícios insanáveis alojados no poder, através da constituiç­ão do MPLA, emprestada a República Popular de Angola, que vigorou, até 2010.

Um Estado nascido sem Constituiç­ão republican­a, como foi o de Angola (a dita constituiç­ão de 1975, foi aprovada exclusivam­ente pelo comité central do MPLA e promulgada pelo presidente do MPLA, quando deveria ser pelo Presidente da República), é pobre, com a agravante da maioria da classe política ser cúmplice, dos desvarios cometidos ao longo dos 44 anos de poder absoluto e discrimina­tório, contra os cidadãos inocentes. E, por tudo isso, uma reforma mental se impõe, urgentemen­te, visando a constituiç­ão política da primeira e imparcial Assembleia Constituin­te, para repensar Angola e todos os seus principais instrument­os jurídicos.

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