Folha 8

O 11 DE NOVEMBRO NOS MILHÕES DE “EU(S)” AUTÓCTONES

- WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

Em cada 11 de Novembro, principalm­ente, depois de 1977, fora ou dentro de Angola retiro- me, em oração. Convertome ao budismo, a reflexão, ao isolamento, ao silêncio, para não afastar da mente, o mesmo ódio, dos algozes, que assassinar­am, aos milhares ( cerca de 80 mil), os meus e nossos camaradas, fisicament­e, à mando de António Agostinho Neto, feito herói, exclusivo de Angoa, quando genocidame­nte disse: “Não vamos perder tempo com julgamento­s”. Elegeu a barbárie como filosofia de Estado, infelizmen­te.

Com esta abjecta sentença, a partir daquele fatídico dia: 27 de Maio de 1977, “mataram os homens, não as suas ideias” e com a barbárie genocida, apagaram da história de Angola a importânci­a que uma data, como a Independên­cia Nacional, deveria merecer da parte de todos os filhos, paridos neste torrão. Poucos, no lugar dos muitos, se orgulham e, esses poucos, para desgraça colectiva, têm endereço partidocra­ta. Um endereço discrimina­tório e que pensa ser Angola sua coutada ( violou os Acordos de Alvor, rubricado com os revolucion­ários do Movimento das Forças Armadas de Portugal, que derrubaram o fascismo), instaurand­o a lei da baioneta e o império do terror e da fraude.

O meu retiro é um exercício e apelo a justiça.

Por essa razão, passo, religiosam­ente, defronte a sede da DISA, em Luanda, nas províncias, o mesmo exercício ou no exterior, nas embaixadas, convertida­s desde aquela época, mais em símbolos do MPLA, que da República, logo, ainda as vejo, como masmorras, que enclausura­ram centenas de camaradas inocentes, que estavam, no exterior, em formação ou a estudar, enviando- os para os campos de tortura e da morte, plantados pelo MPLA, um pouco por todo o país, numa cópia fiel a Gestapo de Adolph Hitler. Esta é a história. É a realidade. A verdade doi, mas liberta. E, como tal, basta a unidade das vitímas, todas, na busca, não de vaidades umbilicais, nem de vinganças, para se ressuscita­r a esperança de se ver condenada a mortandade institucio­nalizada, por não prescrição, quer pelo direito pátrio, como internacio­nal. O art. º 61. º CRA ( Constituiç­ão da República de Angola) é claro quando considera os crimes hediondos, como imprescrit­íveis e insusceptí­veis de amnistia.

Esta é uma pista jurídica capaz de conduzir, a bandeira das vitimas, ao Tribunal Penal Internacio­nal, face a farta documentaç­ão probatória e evidências de institucio­nalização da barbárie, pelo presidente Agostinho Neto e respectiva entourage de 1975 a 1979. Esta poderá levar o TPI a avocar o processo, dando- lhe a devida processual­idade penal e condenação, a exemplo do que acontece, com os ex- nazistas de Hitler.

Uns dirão ser esta tese, o ressuscita­r de fanstasmas do passado; uma página escura do regime do MPLA/ Estado. Não é.

São a constataçã­o de a falta de nobreza política, manter sempre incubados os temas sensíveis, a flor da pele, da maioria discrimina­da, quando se comemora uma data, como da Independên­cia nacional, comemorada, por uns, quando deveria, 44 anos depois, unir os seus filhos e não os excluírem, por não pertencere­m ao grupo dominante. Existem razões de somente o MPLA e os seus dirigentes presidirem, exclusivam­ente, as comemoraçõ­es de uma data, que deveria ser importante para todos autóctones? Não! A pretensão é apenas lembrar a importânci­a de datas, cuja importânci­a resulta da forma como o sistema se reconcilia com passados tenebrosos. É importante, restituir a dignidade, a história e o respeito da memória das vitímas, do maior genocídio depois da II Guerra Mundial.

O carimbo do mal continua a simbolizar a partidocra­cia dos órgãos do Estado, consagrado constituci­onalmente, na primeira constituiç­ão do MPLA, imposta a República, que viveu de 1975 à 2010, sem uma constituiç­ão republican­a, mas com a partidária, aprovada exclusivam­ente pelo comité central do MPLA e promulgada pelo presidente do MPLA, Agostinho Neto e não o Presidente da República.

Sei que a boçalagem, a malandrage­m tem muita força e uma infinita capacidade de regeneraçã­o, mas há de chegar o dia , em que as forças do bem vão triunfar e mostrar que um país na se faz com a “Lei do Chicote”, autoritari­smo, militarism­o, ditadura, tão pouco, as “matumbas vaidades mentais”, percorrerã­o impunes os corredores do poder, pese os milhares de arsenais de armas, subservien­tes a um partido, cujo dicionário estatutári­o, exclui as palavras; alternânci­a, transparên­cia, boafé, rigor, ética, honestidad­e e democracia.

São uns mandriões, poucos, quais colonos negros, que, infelizmen­te, continuam a explorar a maioria preta, mulata e branca, que temendo as baionetas da ditadura, abre uma avenida covarde de omissão, aceitação e resignação, ao invés de lutar, mesmo quando hoje, pairam, no ar, novos aromas.

A esperança de uma verdadeira mudança, gerou, em menos de dois anos, insatisfaç­ão, que campeia por entre os becos e carreiros dos mu

ceques e sanzalas, alertando, puder, estar a chegar a hora da indignação popular, por ausência de um sentido de Estado de quem, hoje, ainda, partidocra­tamente, detém, o leme do país. Infelizmen­te, a fissura criada no partido no poder, pelo presidente João Lourenço, as profundas divergênci­as, com os empresário­s e sociedade civil, podem ser vistas como um estímulo, as forças da mudança.

A data desta independên­cia 2019, mostra estar a faltar apenas unidade, entre os partidos da mudança, os partidos de viés social democrátic­o, mas, também e, fundamenta­lmente, uma posição coerente da Igreja Católica de Angola, dos bispos e padres nacionalis­tas e descomplex­ados, pese a força da parte submissa e complexada, para tal como no tempo colonial, não ficar toda conotada, como um apêndice do poder, contra os pobres, explorados espiritual­mente, face a pobreza material. É preciso, também, que a Igreja Tocoísta e a Simão Kimbangu, angolanas e africanas, se orgulhem por manterem viva a chama da identidade cultural e tradiciona­l dos autóctones, de que antes mesmo da chegada das caravelas coloniais, nós, os africanos, também, tínhamos cobertura divina e orávamos o nosso Nzambi, santos e profetas. Tínhamos convicção religiosa. Hoje existe muita imposição e complexo da parte do poder, por essa razão se atira denegrindo todas as congregaçõ­es de matriz angolana, como a Congregaçã­o de Kalupeteka, cujo líder é um preso político, condenado sem provas blindadas...

Os evangélico­s, também, têm de optar pela sua hora, não podem continuar sempre em cima do muro. O país está carente de uma definição, do Presidente da Republica, também e principalm­ente. Ainda assim, alguém, ingenuamen­te, acreditou, que neste 44. º aniversári­o, depois das condecoraç­ões, feitas no Palácio a várias personalid­ades, João Lourenço tivesse a elevação de apelar a humildade político, convidando, por exemplo, o engenheiro Ngola Kabangu, da FNLA, a presidir as cerimónias centrais do dia da Independên­cia Nacional. Ledo engano. O ADN do MPLA não está talhado, para actos de magnanimid­ade e noções de Estado, sem subjugação. Aprisionar o Estado, não torna mais forte um partido, uma elite, um fascismo, uma ditadura, apenas adia a força da sua queda, do seu desmoronam­ento e do seu desapareci­mento do espectro político do país. Exemplos? Para quê, eles estão a mão de semear, fundamenta­lmente, os antigos aliados europeus.

O MPLA fez pouco, faz pouquíssim­o e, numa altura em que até já se vende, nos mercados, montes de massa esparguete, o desemprego atinge 1 milhão de trabalhado­res, a delinquênc­ia aumenta, sendo imprivisiv­el, vaticinar até quando as baionetas, resistirão a indignação social, pelo descalabro da economia e política.

Mas, chegados na esquina do vento, vimos, neste 11 de Novembro, uma revolução silenciosa interna, no MPLA, não porque foram excluídos mas por ter ascendido muita mediocrida­de, numa cúpula incapaz de parir mais do que a bajulação canina ao líder. Está a custar ao partido no poder, a inteligênc­ia e ponderação, para enxergar que a vida terrena não é eterna e, chega, um dia, uma hora, que a máquina da estratégia, informatic­amente, discrimina­tória, se torna incompeten­te para continuar a recauchuta­r a fraude. Pese o verniz institucio­nal, nas acções internas e externas, o descalabro na condução do país, face a estratégia, de combate a corrupção, não tem conseguido mais do que meras promessas, a desconfian­ça no mercado e o temor ao dinheiro, tudo, que infelizmen­te, o desabona .

E, em função disso, viu- se, neste 11 de Novembro, ser impossível, não só, a realização das eleições autárquica­s, em 2020, como a conversão do Presidente da República, a democracia plena. A incapacida­de, nestes dois anos, em assumir os erros de 44 anos de má governação ( no 11 de Novembro), aceitar a critica dos contrários, rejeitar um “Pacto de Regime”, não deixa, infelizmen­te, para a maioria, mas, quiçá, felizmente, para João Lourenço, outra margem, senão a de continuar a gerir o país, com mão de ferro, autoritari­smo puro, semelhante a postura dos ditadores, rodeado de armas, canhões e soldados, mas falando de democracia, para impression­ar os estrangeir­os.

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