ISABEL É A PECADORA E, OS OUTROS?
Seria para nós fácil continuar a culpar Isabel dos Santos, tornando- a o único bode expiatório dos enormes crimes cometidos em Angola em dezenas de anos, branqueando os principais responsáveis. Para além de fácil dar- nos- ia milhões de felicitações por parte de João Lourenço. Talvez não tivéssemos peito para tantas medalhas…
Isabel dos Santos, enquanto empresária, chegou a ameaçar levar o Estado angolano a tribunal, depois da decisão do Presidente João Lourenço de anular contratos milionários que tinham sido entregues a empresas suas pelo ex- presidente do país, o seu pai. Convenhamos que Isabel dos Santos é suficientemente inteligente para saber que os tribunais angolanos, nesta como noutras matérias, se limitam a encontrar matéria de facto que consubstancie o veredicto que lhe seja ditado antes mesmo de analisar qualquer queixa. Era assim no tempo do seu pai, é assim agora no tempo de João Lourenço. Mais do que levar o Estado ( isto é, o MPLA) a tribunal, Isabel deveria contar- nos ( em livro, por exemplo) tudo o que sabe da promiscuidade criminosa entre dirigentes do partido/ Estado/ Governo, entre o seu pai e João Lourenço, os acordos firmados, o papel dos serviços de informação etc. etc..
Onde estão as cópias dos dossiers sobre o actual Presidente da República, uma espécie de “Paradise Papers of João Lourenço”?
Certo é que quando se perde o Poder a maioria dos acólitos saltam a barricada. Não serão muitos, mas ainda são relevantes, os que consideram que as decisões em catadupa que estão a ser tomadas pelo Presidente da República, João Lourenço, são uma caça às bruxas no MPLA e sobretudo uma lavagem da sua imagem, quase parecendo que ele nada tem a ver com o MPLA e que só agora chegou à política angolana. Isabel dos Santos não gostou, por exemplo, da anulação do contrato de construção do Porto da Barra do Dande, orçamentado em 1500 milhões de dólares, que tinha sido atribuído a uma empresa sua, por decisão do seu pai mas, é claro, apoiada sem hesitações por… João Lourenço, enquanto vice- presidente do MPLA e ministro.
O Estado/ MPLA também anulou o contrato de compra e venda de diamantes brutos que a empresa pública angolana Sodiam tinha com a Odyssey Holding, outra sociedade da empresária que tem sede nos Emirados Árabes Unidos. Outra sociedade “politicamente subscrita e caucionada” por Dos Santos e João Lourenço.
Enfim. Nada nesta novela espanta. Espanta, isso sim, o êxito da estratégia de João Lourenço que, com algumas jogadas de mestre, conseguiu trazer para o seu lado da barricada muitos, quase todos, jornalistas que – tanto quanto parece – só têm por missão acertar ( agora que está prostrado) contas com o clã Eduardo dos Santos, mesmo que tenham de violar a sua mais importante missão: a verdade. Entretanto, o Chefe de Estado, que se faz acompanhar da primeira- dama, Ana Dias Lourenço, visitou oficialmente o líder da Igreja Católica. Teve, com certeza, tempo para, tomar uma hóstia e ser absolvido – sem penitência – de todos os pecados que já cometeu. Mas será que uma só hóstia chegará?
Quando se perde o Poder a maioria dos acólitos saltam a barricada. Não serão muitos, mas ainda são relevantes, os que consideram que as decisões em catadupa que estão a ser tomadas pelo Presidente da República, João Lourenço, são uma caça às bruxas no MPLA e sobretudo uma lavagem da sua imagem, quase parecendo que ele nada tem a ver com o MPLA e que só agora chegou à política angolana”