Folha 8

QUEM MANDA NA ERCA? O MPLA!

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Na verdade, não existe nas linhas de montagem de textos de linha branca ( tão do agrado de quem manda na ERCA e no Ministério da propaganda) nenhuma autonomia editorial e, ou, independên­cia. E não existe sobretudo, mas não só, por culpa dos jornalista­s que, sob a convenient­e ( sinónimo de bem remunerada) capa da cobardia se deixa( ra) m transforma­r em autómatos ao serviço dos mais diferentes protagonis­tas, sobretudo dos ligados ao MPLA, partido no poder há – faz amanhã – 43 anos. Habituados a viver na selva supostamen­te civilizada onde, com o patrocínio e cobertura dos poderes instituído­s, vale tudo, os chefes de posto dessas linhas de produção entendem que a razão da força, dada por alguns milhares de kwanzas, dólares ou euros de avenças ou similares, é a única lei. Dos Jornalista­s esperar- se - ia que lutassem pela força da razão. Não acontece. Não é de agora, mas agora tem mais força e seguidores.

Força da razão? Claro que não. Até porque em Angola, por exemplo, não existem Jornalista­s a tempo inteiro. Na maior parte do tempo útil são cidadãos como quaisquer outros e que, por isso, não precisam de ser sérios nem de o parecer. Nas horas de expediente, sete ou oito por dia, exercem o comércio jornalísti­co, tal como poderiam exercer o enchimento de latas de salsichas. Mas como existe uma substancia­l diferença entre exercer jornalismo e ser Jornalista, entre ser operário de um órgão de comunicaçã­o social ( sobretudo estatal) e ser Jornalista, tal como exercer medicina e ser médico, continuamo­s a dizer que nesta profissão quem não vive para servir não serve para viver. E é por isso que uma bitacaia no presidente do MPLA terá com certeza muito maior cobertura ( ou até mesmo um livro sobre as Notícias do Palácio) do que o facto de Angola ter 20 milhões de pobres, ou de os angolanos serem gerados com fome, nasceram com fome e morrem pouco depois com… fome. É por isso que os operários dos órgãos de comunicaçã­o, tal como quer quem manda na ERCA, lá estão para se servir, para servir os seus capatazes, e não para servir o público, para dar voz a quem a não tem. Infelizmen­te os media estão cada vez mais superlotad­os de gente que apenas vive para se servir, utilizando para isso todos os estratagem­as possíveis: jornalista/ assessor, assessor/ jornalista, jornalista/ cidadão, cidadão/ jornalista, jornalista/ político, político/ jornalista, jornalista/ lacaio, lacaio/ jornalista e por aí fora.

Como diz Gay Talese, cabe ao jornalista procurar incessante­mente a verdade e não se deixar pressionar pelo poder público ou por quem quer que seja. Não interessa se as opiniões são do Secretário- Geral da ONU, da Rainha de Inglaterra ou do “dono” de Angola, de seu nome João Lourenço. Falar hoje da regra basilar do regime angolano ( até prova em contrário todos somos… culpados) é algo que desagrada aos poderes políticos de Angola, os mesmos desde 11 de Novembro de 1975.

Em Angola, 43 anos depois, uma muito grande parte da comunicaçã­o social amplia a voz dos donos do poder, na circunstân­cia o MPLA, esquecendo que a sua função básica é dar voz a quem a não tem, neste caso aos milhões que – pior do que no tempo colonial, continuam a receber “desdém, fuba podre, peixe podre, panos ruins, cinquenta angolares e porrada se refilarem” » .

E não existe sobretudo, mas não só, por culpa dos jornalista­s que, sob a convenient­e (sinónimo de bem remunerada) capa da cobardia se deixa(ra) m transforma­r em autómatos ao serviço dos mais diferentes protagonis­tas, sobretudo dos ligados ao MPLA

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