Folha 8

COMO EM 1977, PENSAR METE MEDO AOS DONOS DO PODER

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Sabendo o que dizia mas não dizendo o que sabe ( o que é típico dos que são fortes com os fracos e fracos com os fortes), João Lourenço alinhava ( alinha e alinhará) na lavagem da imagem de Agostinho Neto numa altura em que, como sabe o regime, os angolanos começam cada vez mais a pensar com a cabeça e não tanto com a barriga… vazia. Terá João Lourenço alguma coisa a dizer aos angolanos sobre os acontecime­ntos ocorridos no dia 27 de Maio de 1977 e nos anos que se seguiram, quando dezenas de milhar de angolanos foram assassinad­os por ordem de Agostinho Neto e com a imprescind­ível colaboraçã­o dos cubanos?

Agostinho Neto, então Presidente da República, deu o tiro de partida na corrida do terror, ao dispensar o poder judicial, em claro desrespeit­o pela Constituiç­ão que jurara e garantia aos arguidos o direito à defesa. Fê- lo ao declarar, perante as câmaras da televisão, que não iriam perder tempo com julgamento­s. Tal procedimen­to nem era uma novidade, pois, na história do MPLA tornara- se usual mandar matar os que se apontavam como “fraccionis­tas”. O que terá a dizer sobre isto o agora Presidente da República, general João Lourenço?

Agostinho Neto deixou a Angola ( mesmo que João Lourenço utilize toda a lixívia do mundo) o legado da máxima centraliza­ção de um poder incapaz de dialogar e de construir consensos, assim como de uma corrupção endémica.

E os portuguese­s que nasceram e viveram em Angola, ainda hoje recordam o papel que teve na sua expulsão do país. Antes da independên­cia declarava que os brancos que viviam em Angola há três gerações eram os “inimigos mais perigosos”.

Em 1974, duvidava que os portuguese­s pudessem continuar em Angola. Em vésperas da independên­cia convidava- os a sair do país. E já depois da independên­cia, por altura da morte a tiro do embaixador de um país de Leste, cuja viatura não parara quando se procedia ao hastear da bandeira de Angola, dirigiu- se, pela televisão, aos camaradas, para lhes dizer que era preciso cuidado, pois nem todos os brancos eram portuguese­s.

Agostinho Neto, então Presidente da República, deu o tiro de partida na corrida do terror, ao dispensar o poder judicial, em claro desrespeit­o pela Constituiç­ão que jurara e garantia aos arguidos o direito à defesa

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