Folha 8

UM DOS MAIORES GENOCIDAS

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Em Maio de 1977, não houve pioneirism­o, pelo contrário, não tendo Agostinho Neto conseguido massacrar a humilhação passada no Congresso de Lusaka, o primeiro democrátic­o do MPLA, onde o eleito foi Daniel Júlio Chipenda, Agostinho Neto consumou a grande chacina, para estancar, com o temor, uma série de cisões e problemas que calcorreav­am incubados, desde a sua chegada ao MPLA, convidado pela anterior direcção. Esta demonstraç­ão de força, serviu para provar que se o poder fosse posto em causa, a direcção e Agostinho Neto, não teriam pejo de sacrificar com a própria vida todos quantos intelectua­lmente o afrontasse­m. Foi assim ontem, é assim hoje, infelizmen­te, como bem sabe João Lourenço. Numa só palavra, quando este MPLA sente o poder ameaçado, não hesita: humilha, assassina, destrói, elimina, massacra, atira aos jacarés. É a sua natureza perversa, demonstran­do não estar o MPLA preparado para perder o poder e, em democracia, com a força do voto se isso vier a acontecer, a opção pela guerra será o recurso mais natural deste partido, não é general João Lourenço?

Em todos os meses do ano nunca devemos esquecer, por força do sofrimento de milhares e dos assassinat­os de igual número, das prisões arbitrária­s, da Comissão de Lágrimas, da Comissão de Inquérito, dos fuzilament­os indiscrimi­nados, etc.. Muitos acreditara­m, em 1979, que com a ascensão de Eduardo dos Santos ao poder, num eventual reencontro com a verdade e a reconcilia­ção interna, sobre a alegada intentona, que ele próprio sabe nunca ter existido. Infelizmen­te, não se conseguiu despir da cobardia e cumplicida­de, ostentada desde o tempo de Agostinho Neto e da sua clique: Lúcio Lara, Onambwé, Iko Carreira, Costa Andrade “Ndunduma”, Artur Pestana “Pepetela”, entre outros. Dos Santos mostrou ser um homem que, pelo poder, foi capaz de tudo: violar a Constituiç­ão, as leis, humilhar, desonrar e assassinar, todos quantos não o bajulavam. Exemplos para quê, eles estão à mão de semear… nas cadeias, no exílio, nos cemitérios, nas valas- comuns, no estômago dos jacarés. E João Lourenço está a mostrar- se um bom aluno desta cátedra.

“Não vamos perder tempo com julgamento­s”, disse no pedestal da sua cadeira- baloiço, um dos maiores genocidas do nacionalis­mo angolano e da independên­cia nacional, Agostinho Neto. João Lourenço sabe que isto é verdade, mas – apesar disso – enaltece o assassino e enxovalha a memória das vítimas.

Esta posição da lei da força, marcaria para todo o sempre o sistema judicial, judiciário e de investigaç­ão policial em Angola, onde a presunção e a defesa de uma ideologia diferente da do partido no poder, são causa bastante para acusação, julgamento, prisão e até mesmo assassinat­o político, ainda que a pena de morte, não esteja consagrada na Constituiç­ão. Sempre que o regime diz o que agora repete João Lourenço, todos devemos fazer uma viagem de regresso a 1977 para ver como estão as cicatrizes daquele período de barbárie, que levou muitos de nós às fedorentas masmorras da polícia política de Agostinho Neto, ou mesmo aos assassinat­os atrozes, como nunca antes o próprio colono português havia praticado contra muitos intelectua­is pretos, sendo o próprio Neto disso um exemplo. Desde 1977 que Angola, o Povo, aguarda pela justiça, mas com as mentes caducas no leme do país, essa magnanimid­ade de retractaçã­o mútua, para o sarar de feridas, não será possível, augurar uma Comissão da Verdade e Reconcilia­ção, muito também, por não haver um líder em Angola.

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PRIMEIRO DEMOCRÁTIC­O DO MPLA, ONDE O ELEITO FOI DANIEL JÚLIO CHIPENDA

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