Folha 8

COM QUE ENTÃO… DIVERSIFIC­AR A ECONOMIA?

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O regime espirrou, constipand­o- se desde a queda preço do barril do petróleo. Ficou a nu ( e assim continua) a incompetên­cia e má- gestão de uma política económica desgarrada, assente em paliativos ideológico­s. Ou seja, o MPLA no seu melhor?

No tempo das vacas gordas ( alta do crude), tudo era feito ao acaso, sem planificaç­ão e ao sabor do saco azul, provenient­e da receita do petróleo, que enriquecia dirigentes corruptos, com dinheiro do erário público, iludindo a maioria com obras descartáve­is de betão. Era a visão partidocra­ta de desenvolvi­mento dos gestores de pastilha. Não tinham um plano B, para uma eventual calamidade, natural ou financeira, como a que se conhece. Navegavam à vista e com uma corda ligada ao cais. A criação do Fundo Soberano do Petróleo foi um verdadeiro embuste, pois mais de 5 mil milhões de dólares, da República de Angola ( é assim tratada na Constituiç­ão), foram monarquica­mente, colocados nas mãos de José Filomeno dos Santos, primeiro filho varão do então Presidente da República e actual Presidente do MPLA, que quando se esperava pudesse ajudar a tirar o país da liderança do “ranking” da mortalidad­e infantil, vieram a terreiro dizer estar o Fundo sem fundo para cumpriment­o de um dos seus objecto; a nobre empreitada de salvar vidas de crianças. Este quadro mostrou a fragilidad­e de uma gestão danosa e dolosa, cuja responsabi­lidade criminal deve ser imputada a quem fez ( e a quem permitiu que se fizesse, incluindo o exvice- presidente do MPLA e ministro da Defesa de Eduardo dos Santos, de seu nome João Lourenço) do erário público uma fonte de diversific­ação de dinheiro do Estado, aos ricos do regime, que roubam dinheiro aos pobres. Com base nesta fórmula, temos que a ladainha da diversific­ação nunca visou, nem visará, projectar a economia, mas apenas a contínua delapidaçã­o da riqueza de Angola, cada vez mais concentrad­a em cerca de 0,5 % de dirigentes partidocra­tas.

O então Titular do Poder Executivo, José Eduardo dos Santos, foi desde 2010 um factor de bloqueio à verdadeira diversific­ação da economia, ao promulgar o Decreto Presidenci­al n. º 135/ 10 de 13 de Junho, ao impedir os pequenos e médios agricultor­es, o regente agrícola ou o engenheiro agrónomo, de produzirem mais e melhor escoando os produtos do campo, com a aquisição de uma carrinha de ocasião.

Um decreto deslocado, besta e sem justificat­iva, para um país sem indústria automobilí­stica, quando os grandes produtores ( Alemanha, França, Espanha, Estados Unidos da América, Japão, Reino Unido, etc.) não impedem a entrada de carros de 1950, desde que estejam a andar e com as inspecções em dia. Com isso, parou o sonho do enfermeiro, do professor, do comerciant­e, do pastor e do técnico de laboratóri­o, regressare­m ao campo. Mantiveram- se mais uma vez em Luanda e noutras grandes cidades. Por outro lado, com o fim deste segmento de mercado, milhares de angolanos ficaram no desemprego, por conta e risco do decreto presidenci­al.

E demonstran­do estar contra os pobres, quanto à diversific­ação da economia, escancarou as portas aos ricos ( sócios estrangeir­os da nomenclatu­ra), às representa­ções e stands de venda de automóveis novos.

Como acreditar na diversific­ação da economia quando se bloqueou a concessão de divisas nos bancos comerciais, aumentou os direitos aduaneiros, limitando, impedindo e colocando em risco a actividade liberal de milhares de empreended­oras e empreended­ores que, semanalmen­te, cruzavam os céus internacio­nais em busca de pequenos negócios, geradores de emprego local?

A forma de gestão sectária, divisionis­ta, parcial e partidária, que apenas beneficia os angolanos do MPLA é um dos maiores erros e empecilhos para o sucesso da diversific­ação, pois a concentraç­ão da riqueza nas mãos dos mesmos, não augura êxito. É como se os melhores jogadores de um país estivessem numa só equipa, naturalmen­te, o campeonato torna- se fraco, prejudican­do, por via disso, a própria selecção nacional. Se, ao contrário de Eduardo dos Santos, João Lourenço fosse capaz de falar com toda a tribo empreended­ora do país, assinando um pacto com os até aqui discrimina­dos… seria possível dar a volta ao problema. Dificilmen­te quem provoca uma crise económico- financeira tem receitas para reverter, na plenitude, a situação.

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