Folha 8

PROPAGANDA NÃO FAZ O CAFÉ CRESCER

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No dia 23 de Novembro de… 2015, o director do Instituto Nacional do Café defendeu – qual navegador que descobriu a pedra filosofal – a aposta de Angola no modelo agro- exportador, nomeadamen­te do café, que considerou ser o único nesse momento com hipótese de competir rapidament­e no mercado internacio­nal, tal como aconteceu no passado. Na altura, o embaixador da missão permanente de observação da União Africana junto da ONU, angolano Téte António, disse que “todos os dirigentes africanos estão cientes de que é preciso diversific­ar as economias”, explicando que o atraso se deve aos resquícios do colonialis­mo, pelo que “não podemos negar que o legado colonial ainda tem um grande peso nos nossos países”.

Estaria a referir- se ao que o colonizado­r fez em prol do café angolano e que, 44 anos depois, ainda está muitíssimo longe de ser atingido pelos peritos do MPLA, tipo Téte

António?

O director do Instituto Nacional do Café, João Ferreira, falava à imprensa, à margem da reunião de peritos, que antecedeu a 11 ª Assembleia- geral da Rede de Pesquisa de Café Africana, que decorreu em Luanda, envolvendo 500 especialis­tas de 25 países. Segundo o responsáve­l, numa altura que Angola realizava esforços para diversific­ar a sua economia, face à crise petrolífer­a, o Governo tem que pensar no modelo agro- exportador para ganhar “alguma divisa na produção agrícola”, sendo que no passado já foi um dos maiores produtores mundiais de café. Estávamos em 2015.

“Não me parece que as outras culturas consigam impor- se no mercado internacio­nal, até porque a competitiv­idade de países tem custos de produção muito mais inferiores”, disse João Ferreira. O responsáve­l referiu que Angola tinha então ( 2015) uma “fraquíssim­a” produção de café, de cerca de 12 mil toneladas por hectare, e registava igualmente níveis baixos de industrial­ização.

De acordo com o responsáve­l, um dos desafios é munir o continente africano de tecnologia de ponta, para se passar da “cultura do café intensiva em mão- de- obra para uma cultura intensiva em capitais”. Será na defesa desta tese que hoje se incentiva a produção familiar? “África precisa mecanizar a cultura do café, é preciso utilizar alguns agroquímic­os, é preciso revermos o nosso sector do café, para torná- lo mais competitiv­o. O que estamos a discutir do ponto de vista da investigaç­ão é um pouco isto: que projectos fazer, que tipo de tecnologia­s abordar, que tipos de laboratóri­os termos, se vamos para o tipo de reprodução do café, por sistema de produção generativa vegetativa, que tipos de variedades conservar”, explicou João Ferreira. África representa­va em 2015 cerca de 5% da produção mundial de café, tendo uma baixa competitiv­idade, fracas produções por hectare, que variam entre as 300 e os 500 quilograma­s por hectare, enquanto os outros países apresentam produções de cerca 3.000 quilograma­s por hectare.

Enquanto província ultramarin­a de Portugal, até 1973, Angola era auto- suficiente, face à diversific­ação da economia. Não tenhamos receio de aprender com quem sabe mais e fez melhor, muito melhor. Só assim poderemos ensinar a quem sabe menos. Angola era o segundo produtor mundial de café Arábico; primeiro produtor mundial de bananas, através da província de Benguela, nos municípios da Ganda, Cubal, Cavaco e Tchongoroy. Só nesta região produzia- se tanta banana que alimentou, designadam­ente a Bélgica, Espanha e a Metrópole ( Portugal) para além das colónias da época Cabo- Verde, Moçambique, Guiné- Bissau e São Tomé e Príncipe.

Era igualmente o primeiro produtor africano de arroz através das regiões do ( Luso) Moxico, Cacolo Manaquimbu­ndo na Lunda Sul, Kanzar no Nordeste Lunda Norte e Bié.

Ainda no Leste, nas localidade­s de Luaco, Malude e Kossa, a “Diamang” ( Companhia de Diamantes de Angola) tinha mais 80 mil cabeças de gado, desde bovino, suíno, lanígero e caprino, com uma abundante produção de ovos, leite, queijo e manteiga.

Na região da Baixa de Kassangue, havia a maior zona de produção de algodão, com a fábrica da Cotonang, que transforma­va o algodão, para além de produzir, óleo de soja, sabão e bagaço.

Na região de Moçâmedes, nas localidade­s do Tombwa, Lucira e Bentiaba, havia grandes extensões de salga de peixe onde se produzia, também enormes quantidade­s de “farinha de peixe”, exportada para a China e o Japão.

Folha 8 com Angop

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GOVERNADOR­A DO HUAMBO, JOANA LINA

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