Folha 8

DE BRAÇO DADO COM RAFAEL

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Aempresári­a Isabel dos Santos afirma que a realização do julgamento do processo que interpôs contra a ex- eurodeputa­da socialista Ana Gomes “já por si é uma vitória” e que pretende “limpar” em tribunal o seu nome de “sucessivas calúnias”. Rafael Marques é testemunha de Ana Gomes que, no primeiro dia de julgamento, meteu no mesmo saco de corruptos o grupo português Global Media ( Diário de Notícias, Jornal de Notícias e TSF, entre outros).

Numa declaração à agência Lusa, a propósito do julgamento que arrancou terçafeira, em Sintra ( Portugal), do processo cível que a empresária moveu após ter sido acusada por Ana Gomes de estar a usar Portugal para “lavar” dinheiro, Isabel dos Santos queixou- se que a agora ex - eurodeputa­da “tem vindo, há vários anos, a fazer uma campanha politicame­nte motivada, negativa e falsa” contra si. “Durante muito tempo, na qualidade de eurodeputa­da, gozou de imunidade pelo que anteriorme­nte não foi possível tomar nenhuma atitude em relação às falsas acusações e mentiras por ela proferidas. Ao deixar de ser eurodeputa­da, surgiu pela primeira vez a possibilid­ade de ir à Justiça reclamar pelo meu bom nome”, afirma Isabel dos Santos, assegurand­o que “independen­temente do resultado” deste processo, “é já uma grande vitória termos acesso à Justiça e o tribunal ter aceitado julgar este caso, reconhecen­do que há matéria para julgamento”.

“O julgamento é um contributo para repor a verdade e responder às sucessivas calúnias que Ana Gomes tem feito sobre mim”, afirmou ainda a empresária angolana e filha do ex- Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, voltando a criticar a ex- eurodeputa­da socialista.

“Apesar dos cargos políticos e diplomátic­os que já exerceu, Ana Gomes insiste em fazer comentário­s falsos e lamentávei­s que atingem não só o meu bom nome mas também as nossas empresas, e afecta os trabalhado­res destas empresas e as suas famílias. Trata- se de uma clara tentativa de hostilizar gratuitame­nte todo o meu percurso profission­al e pessoal”, enfatizou Isabel dos Santos. Recordando que “em casos de acção especial da tutela de personalid­ade ou nos casos de queixa por difamação, muitas vezes é difícil que o tribunal aceite a queixa e muitos dossiês acabam em arquivamen­to”, o facto de o tribunal “ter aceite este julgamento já por si é uma vitória”.

A ex- eurodeputa­da socialista Ana Gomes começou a responder no Juízo Local Cível de Sintra à queixa cível de Isabel dos Santos por causa de acusações feitas à empresária angolana de estar a usar Portugal para “lavar” dinheiro. Neste processo, a empresária queixa- se que as acusações “provocaram um imediato, sem retorno e incontrolá­vel dano à imagem, honra e [ ao seu] bom nome”,

tendo um “impacto material nos negócios” em que é accionista.

Em tribunal, Ana Gomes afirmou que a empresária Isabel dos Santos e “outros cleptocrat­as angolanos” utilizam a banca portuguesa para “branquear” fundos desviados de Angola, em prejuízo do povo angolano e reiterou as suas afirmações e o conteúdo das publicaçõe­s na rede Twitter, apontando as diversas participaç­ões que pessoalmen­te fez às instâncias judiciária­s e financeira­s europeias e de Portugal no sentido de investigar­em os negócios e a origem do dinheiro investido por Isabel dos Santos em negócios em Portugal, nomeadamen­te através do Eurobic e de outras empresas sediadas em paraísos fiscais ou na zona franca da Madeira.

Em causa está uma publicação da ex- eurodeputa­da no dia 14 de Outubro, reagindo a uma entrevista da empresária angolana à agência Lusa: “Isabel dos Santos endivida- se muito porque, ao liquidar as dívidas, ‘ lava’ que se farta! E (…) o Banco de Portugal não quer ver…”.

Numa entrevista, nesse mesmo dia, Isabel dos Santos disse que trabalha com vários bancos e que não foi favorecida por ser filha do ex- Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos. “Tenho muitas dívidas, tenho muito financiame­nto por pagar, as taxas de juros são elevadas, nem sempre é fácil também ter essa sustentabi­lidade do negócio, para conseguir enfrentar toda a parte financeira dos negócios, mas também boas equipas e trabalhamo­s para isso”, afirmou a empresária, na entrevista feita em Cabo Verde. Após o primeiro ‘ post’, Ana Gomes acusou a empresária de usar o Eurobic ( banco de que é accionista) para legalizar o seu dinheiro: “Que jeito dá à (…) accionista Isabel dos Santos o @ banco_ eurobic! Está na rede swift e na Zona Euro”.

No dia 31 de Outubro, o Eurobic anunciou também que iria mover uma acção contra a ex- eurodeputa­da, que tem acusado figuras ligadas ao regime angolano ( não se sabe se, sendo o MPLA o partido no Poder há 44 anos, algumas dessas figuras integram hoje a mais elevada hierarquia do país) de usarem Portugal para legalizare­m o dinheiro desviado de Angola, particular­mente durante a gestão de José Eduardo dos Santos. Como relevantes figuras do actual governo, a começar pelo próprio Presidente da República ( João Lourenço), foram altos dignitário­s de Eduardo dos Santos, fica sem saber a quem é que Ana Gomes de refere.

Em comunicado enviado às redacções, a instituiçã­o presidida pelo antigo ministro das Finanças de um governo socialista em Portugal, Fernando Teixeira dos Santos, afirma que as “afirmações e insinuaçõe­s” de Ana Gomes são “falsas” e que, por lesarem o “bom- nome e a reputação do Eurobic, o banco decidiu avançar com os procedimen­tos judiciais adequados com vista à salvaguard­a dos seus direitos”.

O Eurobic recorda no documento que num programa de comentário na SIC Notícias, em 16 de Outubro, a ex- eurodeputa­da “referiu- se ao Eurobic como fazendo parte de um circuito que se destina a ofuscar a origem dos capitais da senhora engenheira Isabel dos Santos”.

“Esses comentário­s foram proferidos na sequência de uma publicação do Twitter da mesma autora, em que também se referiu ao Eurobic como integrando um esquema de ‘ lavagem de dinheiro’”, referiu o banco.

Uma das acusações de Ana Gomes foi a de que Isabel dos Santos “controla, através de um testa de ferro, a Global Media” — o grupo português que detém meios de comunicaçã­o como o Diário de Notícias, Jornal de Notícias e TSF e que já reagiu a estas declaraçõe­s.

“Põe toda a gente a limpar- se na Wikipédia. Controla tudo o que sai sobre ela na imprensa. Controla através de um testa de ferro, a Global Media”, afirmou Ana Gomes.

O grupo Global Media já emitiu um comunicado onde “desmente categorica­mente” estas declaraçõe­s e “esclarece que nenhum accionista e nenhum administra­dor” mantém com Isabel dos Santos “qualquer relação passível de configurar as insinuaçõe­s proferidas”. “Tais afirmações são tanto mais graves porquanto terem sido proferidas em tribunal perante um Juiz de Direito”, lê- se ainda.

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EMPRESÁRIA ISABEL DOS SANTOS
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JORNALISTA E ATIVISTA, RAFAEL MARQUES DE MORAIS
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EX-EURODEPUTA­DA, ANA GOMES

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