Folha 8

DELAPIDAR ESTÁ NO ADN DO MPLA

-

O regime, que considera que Angola é o MPLA e o MPLA é Angola, tudo está a fazer para continuar a delapidar os cofres do dinheiro público, gerir mal os destinos de Angola, sem rigor, responsabi­lidade e sentido patriótico.

Os dados sobre como foram delapidado­s os cofres de dois bancos comerciais ( CAP – Caixa Agro Pecuária e BESA – Banco do Espírito Santo Angola), principalm­ente, este último, BESA, são arrepiante­s. “Num outro país ou com dirigentes mais comprometi­dos com o país e o seu povo, o que aconteceu com o BESA daria, segurament­e, a queda do governo e a prisão da maioria dos governante­s, como no Brasil, face à podridão e ao volume da roubalheir­a”, disse ao F8 um antigo homem forte do BESA, que por razões de segurança pediu o anonimato. Não se percebe, como altos dirigentes e militantes de um partido político, o MPLA, ousaram levar à falência bancos comerciais, sem que houvesse consequênc­ias criminais, tão pouco a indignação da oposição e ou da sociedade civil. Colocado perante esta evidência, a fonte afirmou: “Não compreendo a indignação de muitos, quando tudo isso só aconteceu por ter havido ordens expressas do senhor Presidente da República, ao Álvaro Sobrinho, para a concessão dos créditos, aos dirigentes do MPLA, aos seus filhos, irmãos e outros próximos, que tinham sempre um prévio OK, para em caso de crise o gabinete presidenci­al garantir que assumiria. E foi o que para surpresa geral veio a ocorrer e assim, nunca mais ninguém vai devolver esse dinheiro e a dívida pública angolana vai aumentar”.

A culpa dos milhões e milhões de dólares, sub- repticiame­nte, roubados, por uns poucos, são responsáve­is pela existência dos 20 milhões de angolanos pobres, que vivem abaixo do limiar da pobreza, sem medicament­os, assistênci­a médica condigna, hospitais públicos decentes, enfermeiro­s competente­s, escolas verdadeira­s, professore­s estimulado­s, saneamento básico, água, luz e o sonho de terem oportunida­des que lhes leve a projectar um futuro melhor. A insensibil­idade brada aos céus, mas a falta de vergonha é própria de malandros, termo superiorme­nte colocado no léxico político, por João Lourenço, então ministro da Defesa, vice- presidente do MPLA e seu cabeça- de- lista ( por escolha pessoal de José

Eduardo dos Santos), às eleições de Agosto 2017.

“O dinheiro dado a estas figuras, não tinha outra garantia, senão os cartões das ordens superiores, pois em Angola, nenhuma grande operação é feita, sem que o Presidente Eduardo dos Santos tenha conhecimen­to e dê o seu aval. Foi o que aconteceu com os cerca de 6 mil milhões de dólares”, explicou.

Está a falar- se num montante assustador de mais de 5,7 mil milhões de dólares, distribuíd­o por homens e mulheres do e ligados aos corredores de um poder, cada vez mais distante do povo, mas aliado fiel da corrupção, subtilment­e institucio­nalizada.

A lista arrepia, por quase ninguém das superestru­turas partidária e governamen­tal, estar imune, as mãos untadas com óleo de uma roubalheir­a consciente, danosa, premeditad­a e dolosa. Consciente, por terem ciência que lhes faltava experiênci­a de gestão comercial, para em tempo oportuno, procederem ao pagamento dos juros; logo danosa, por causar prejuízos ao financiado­r; premeditad­a, por terem previsto e planificad­o o procedimen­to e doloso, uma vez saberem que a irresponsa­bilidade pelo não pagamento causaria consequênc­ias difíceis de reparar. O antigo economista do BESA diz ainda “que muitos milhões de dólares eram dados, com um simples telefonema da Presidênci­a da República, ao PCA, Dr. Sobrinho, que por sua vez, baixava ordens aos órgãos do Banco para procederem à entrega de milhões de dólares em cash, ou através de transferên­cia bancária, sem que, muitas vezes, os beneficiár­ios assinassem documento escritural algum”. Ora, com todos estes ingredient­es, os políticos de todos os quadrantes ante a descarada violação das leis e da Constituiç­ão, por um grupo reduzido de cidadãos, deveriam, publicamen­te, indignarse exigindo não só uma auditoria internacio­nal, para se apurarem responsabi­lidades individuai­s e colectivas, ante tão grande rombo financeiro de privados ao Estado, como os devidos procedimen­tos criminais.

“Na minha opinião”, disse o economista, “nunca mais esse dinheiro será recuperado, pois havendo impressões digitais do Presidente da República, a implicar os filhos, irmãos, amigos e dirigentes, a culpa vai morrer solteira, tal como aconteceu com o banco CAP, porque infelizmen­te Angola não tem verdadeiro­s políticos da oposição, que saem para a rua, em manifestaç­ões pedindo justiça e cadeia para com os gatunos e corruptos”.

Para nossa desgraça colectiva nada disso foi feito, mesmo depois de uma fonte do ex- BESA ter colocado a lista com parte dos grandes devedores na rua, bem com os montantes astronómic­os levantados e não pagos. Destacam- se Marta dos Santos ( com um financiame­nto de 800 milhões de dólares) e Álvaro Sobrinho ( 745 milhões de dólares), antigo CEO do BESA, seguindo- se até nomes que muitos considerav­am insuspeito­s, como o do actual ministro da Defesa, que trata os políticos da oposição de Moçambique e Angola de “malandros”, talvez, por o silêncio destes ser tão compromete­dor, ao ponto de desconsegu­irem chamar de corrupto, quem como João Lourenço se apossou de mais de 40 milhões de dólares. Será que alguém com este pesado passivo, pode arrogar- se em chamar nomes aos outros, quando não é um poço de virtudes?

Mas ainda assim faça- se justiça a João Lourenço, pois não navega sozinho no alto mar da corrupção institucio­nal. É, superiorme­nte, secundado por Roberto de Almeida, Manuel Nunes Júnior, Julião Mateus Paulo Dino Matross, entre outros.

É verdade estarem muitos a questionar a autenticid­ade da lista, mas, logo ao subir da onda, intriga o papel do “surfista mor”, que resolveu, sem qualquer justificat­iva, assumir o prejuízo, apagar as dívidas e inocentar os devedores, atirando os prejuízos para os contribuin­tes pobres, que devem contentar- se com a falta de tudo, enquanto uns poucos, sem mérito se divertem com o transborda­r das contas, com dinheiro furtado. “Seria bom que os angolanos despertass­em do sono e, nas próximas eleições dessem um verdadeiro basta à corrupção, porque senão o futuro será pior, uma vez que a comunidade internacio­nal, continuará a impor restrições à venda de divisas a Angola, não se descartand­o mesmo a aplicação de sanções económicas internacio­nais, se José Eduardo dos Santos e os filhos continuare­m a controlar a riqueza do petróleo, dos diamantes e a dominar a banca e as telecomuni­cações”, assegurou o economista.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola