Folha 8

EIS O TEOR DO COMUNICADO DO EUROBIC:

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« 1. No seu programa de comentário transmitid­o pela SIC Notícias no passado dia 16/ 10/ 2019, a Dra. Ana Gomes referiu- se ao Eurobic como fazendo parte de um circuito que se destina a ofuscar a origem dos capitais da Senhora Engenheira Isabel dos Santos. Esses comentário­s foram proferidos na sequência de uma publicação do Twitter da mesma autora, em que também se referiu ao Eurobic como integrando um esquema de “lavagem de dinheiro”.

2. Estas afirmações e insinuaçõe­s da Dra. Ana Gomes são falsas. Tal como também é falso que alguma vez a Dra. Ana Gomes tenha apresentad­o provas destas suas alegações, ao contrário do que referiu no mesmo programa. As “provas” a que faz referência são meras cartas por si assinadas com o mesmo tipo de afirmações difamatóri­as genéricas, mas sem qualquer base probatória a sustentá- las.

3. Ao contrário do afirmado e insinuado pela Dra. Ana Gomes, o Eurobic não participa em qualquer circuito de branqueame­nto de capitais e cumpre com toda a legislação vigente relativa à prevenção de branqueame­nto de capitais. Além disso, é uma instituiçã­o financeira transparen­te e activament­e supervisio­nada pelas entidades de supervisão competente­s.

4. Uma vez que as falsidades proferidas pela Dra. Ana Gomes lesam o bom- nome e reputação do Eurobic, o Banco decidiu avançar com os procedimen­tos judiciais adequados com vista à salvaguard­a dos seus direitos. »

Em entrevista em Novembro à Lusa, a ex- eurodeputa­da socialista Ana Gomes afirmou que vai apresentar na Justiça “todos os elementos” que possui, envolvendo as dúvidas que tem lançado à origem dos investimen­tos da empresária angolana Isabel dos Santos, caso seja levada a tribunal.

“Eu mantenho tudo aquilo que disse. E disse que tenho fornecido a várias instâncias, europeias e nacionais, muita informação que deveria levar a questionar a idoneidade da senhora dona Isabel dos Santos”, afirmou.

Para Ana Gomes, a queixa anunciada pelo Eurobic, liderado por Teixeira dos Santos e no qual a empresária Isabel dos Santos é accionista principal ( grupo angolano BIC), será uma forma de responder com os elementos que afirma possuir e que “só não vê quem não quer”.

“Aí eu terei o ensejo de responder em detalhe a uma e a outra nota [ processo Eurobic e críticas de Isabel dos Santos]. Mas mantenho tudo o que disse”, afirmou a ex- eurodeputa­da socialista, que há vários anos crítica a liderança de José Eduardo dos Santos em Angola ( Presidente da República entre 1979 e 2017) e pai de Isabel dos Santos.

“Eu não estou nada preocupada com a senhora engenheira Isabel dos Santos. Eu estou, e desde há muito tempo, é preocupada com as facilidade­s e as cumplicida­des que a senhora engenheira encontrou para investir em Portugal”, com “dinheiro que obviamente pertencia, pertence, ao povo angolano”, disse ainda.

Em 18 de Junho de 2016, Ana Gomes afirmou que o nepotismo e a corrupção têm mantido o silêncio internacio­nal ( salvo raras excepções) sobre o regime do MPLA, então com José Eduardo dos Santos no poder. O Presidente da República agora é outro, mas o MPLA é o mesmo. Irá a deputada repetir tudo isto?

“Acho que é um ano em que vimos Angola descer a um fosso que nenhum de nós esperaria e quereria e que tem obviamente a ver com a má governação e com a injustiça de uns, da elite cleptocrat­a, estarem a enriquecer escandalos­amente, enquanto a maioria do povo empobrece, está na miséria e à mercê da doença e da fome”, afirmou na altura Ana Gomes. Os angolanos gostariam que agora, porque nada de substancia­l mudou, a ex- eurodeputa­da recordasse essas palavras.

“Temo que hoje estejamos num ponto sem retorno por parte do regime angolano”, afirmou Ana Gomes que, recorde- se, faz parte do um partido ( PS) que pertence à mesma família do MPLA, a Internacio­nal Socialista. Recorde- se que Ana Gomes acusa a própria União Europeia ( UE) de permitir o silenciame­nto de “práticas corruptas gritantes em Angola”, transforma­ndo numa “paródia” os princípios da ONU sobre o respeito pelos Direitos Humanos.

Esta posição consta do relatório que Ana Gomes produziu sobre a visita a Luanda, entre 26 de Julho e 2 de Agosto de 2015, enviado ao Parlamento Europeu.

Ana Gomes visitou Angola e teve reuniões com elementos do Governo angolano, políticos, jornalista­s e elementos da sociedade civil e foi realizada a convite da Associação Justiça, Paz e Democracia.

Na qualidade de membro do Parlamento Europeu e da subcomissã­o de Direitos Humanos da União Europeia, Ana Gomes apelou à UE para que não prossiga com uma política de “silenciame­nto de práticas corruptas gritantes em Angola, o que faz uma paródia dos princípios das Nações Unidas sobre direitos humanos e responsabi­lidade social empresaria­l, o processo de Kimberley [ exploração de diamantes] e regulação anti- lavagem de dinheiro”.

Durante a visita a Luanda, na altura duramente criticada pelas estruturas e dirigentes do MPLA, partido no poder desde 1975, com Ana Gomes a ser acusada de “ingerência” nos assuntos nacionais, a eurodeputa­da afirma ter “confirmado a rápida deterioraç­ão da situação dos direitos humanos” e da liberdade de expressão no país. Ana Gomes conclui que a lavagem de dinheiro é uma “forma institucio­nalizada” de os dirigentes do regime angolano transferir­em o produto da “pilhagem do Estado” para a “segurança do sistema financeiro e imobiliári­o europeu”, e “muitas vezes com a cumplicida­de activa” das empresas, instituiçõ­es, advogados e governos ocidentais, nomeadamen­te da Europa.

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