A MELHOR DEFESA É O ATAQUE
Oempresário congolês Sindika Dokolo anunciou que interpôs um processo exigindo uma indemnização da diamantífera angolana Sodiam, acusando a administração de ter destruído deliberadamente o valor da joalharia de luxo suíça ‘ De Grisogono’, em que são ambos sócios. Em declarações à Lusa, Sindika Dokolo, casado com a empresária angolana Isabel dos Santos, explicou que o processo deu entrada no dia 18.12 no tribunal arbitral de Londres e visa a Sociedade de Comercialização de Diamantes de Angola ( Sodiam), que, acusou, tornou- se numa “empresa política”.
A Sodiam é visada, explicou, por “‘ hacking’ e roubo de documentos”, relativa a correspondência de colaboradores de Sindika Dokolo, mas também “por violação do princípio de confidencialidade”, ao alegadamente divulgar esses documentos, apesar das regras do acordo parassocial, que também obrigam à arbitragem no tribunal de Londres.
“E por ter destruído o valor económico do meu investimento. Eu sim, perdi 120 milhões de dólares”, afirmou o empresário e coleccionador de arte congolês e genro de José Eduardo dos Santos, ex - Presidente angolano.
“Há um jogo político a tentar culpar a família dos Santos por todos os problemas em Angola”, criticou, classificando o actual momento como de “caça às bruxas” e com uma “destruição de valor cega e irresponsável” por parte da administração daquela empresa estatal angolana.
“Se a Sodiam quiser destruir valor do seu património o problema é dos seus gestores e dos donos da empresa, que é o Estado angolano. Não aceito é que se destrua património que trabalhei duramente para construir e dinheiro que investi de forma comprovada. E não aceito ser assim alvo de uma campanha política, para sujar os nomes das pessoas atrás de mim, da família dos Santos. Não aceito ser vítima disso sem me defender”, disse. Na origem do diferendo está o anúncio, em Novembro de 2017, pela Sodiam, responsável pela comercialização dos diamantes do país, da saída da
sociedade que controla a holding do grupo ‘ De Grisogono’, a joalharia de luxo suíça detida por Sindika Dokolo e pela empresa angolana ( em partes iguais).
“Vou pedir reparação [ indemnização], não me cabe a mim determinar. Perdi mais do que a Sodiam”, garante Sindika Dokolo, rejeitando as alegações da administração, que se queixa de 200 milhões de dólares perdidos neste negócio. Em Novembro de 2017, a informação foi transmitida em comunicado pelo Conselho de Administração da Sodiam, liderado por Eugénio Bravo da Rosa, alegando que “por razões de interesse público e de legalidade” adoptou “um conjunto de deliberações tendo em vista a sua saída da sociedade de direito maltês Victoria Holding Limited”. Por via desta, a Sodiam detinha de forma indirecta “uma participação societário minoritária na sociedade holding do grupo joalheiro ‘ De Grisogono’”. “A participação da Sodiam EP na Victoria Holding Limited, e indirectamente no grupo ‘ De Grisogono’, gerou, desde a sua constituição, em 2011, exclusivamente custos para a Sodiam, em virtude quer dos financiamentos bancários que contraiu, quer dos resultados negativos que têm sido sistematicamente apresentados pelo grupo, decorrentes de um modelo de gestão adoptado a que a Sodiam EP é e sempre foi alheia”, referia o comunicado de 2017.
O empresário recorda ainda que, minutos antes deste anúncio público, em comunicado enviado à imprensa, em Luanda, tinha estado reunido com a administração para tentar “preparar uma saída estruturada da Sodiam”, para não afectar o valor e reputação da ‘ De Grisogono’.
“Para que se recuperasse o maior montante possível de uma venda (…) Uma declaração dessas mostra que nunca houve realmente vontade de dar uma chance ao negócio, para ser vendido”, atira. Dois anos após este anúncio, a
Sodiam não vendeu a sua posição na sociedade e, além dos vários “entraves”, segundo o empresário congolês, o anúncio que fez também afectou qualquer possibilidade de isso acontecer.
“Se quiser vender o seu carro e num anúncio de jornal escreve que é um carro que não funciona, que dá sempre problema, que dia sim dia não tem de ir à oficina, obviamente que não vai conseguir vender. Ou seja, foi deliberadamente uma destruição de valor”, acusou.
A joalharia ‘ De Grisogono’ comprou em 2016 o maior diamante encontrado em Angola, que foi transformado numa joia rara de 163,41 quilates leiloado pela Christie’s, por 33,7 milhões de dólares ( 28,3 milhões de euros).
O diamante, o 27 º maior em todo o mundo, tinha originalmente 404,2 quilates e sete centímetros de comprimento, quando foi encontrado, em Fevereiro de 2016, no campo do Lulo, na Lunda Norte, no leste de Angola.
Desde que chegou ao poder em Angola, em 2017, o Presidente João Lourenço tem vindo a travar e reverter vários negócios feitos durante a governação anterior, nomeadamente envolvendo os filhos do ex- Presidente José Eduardo dos Santos.
Sindika Dokolo sublinhou que, apesar das dúvidas legais manifestadas pela Sodiam, a empresa angolana não intentou qualquer acção no tribunal arbitral de Londres: “Bastava atacar- me no tribunal, em Londres. Em fórum próprio nunca o fizeram”. Sindika Dokolo garante que face ao acordo cambial que foi feito no âmbito do negócio, pagando em kwanzas, as perdas da Sodiam são actualmente substancialmente reduzidas, tendo de “reembolsar menos de 20 milhões de dólares”.
“Teríamos vendido a empresa talvez por 60 milhões, 70 milhões de dólares, seja o que for. Mas a Sodiam teria recuperado metade deste montante, teria pago a sua dívida bancária e ficado com uma margem financeira”, garante. Sobre o projecto da joalharia de luxo ‘ De Grisogono’, que pretendia impulsionar internacionalmente a venda de diamantes de Angla e, afirma, toda a cadeia de negócio, - criada em 2012 e que cinco anos depois tinha alcançado o equilíbrio das contas - admite que a viabilidade está comprometida pelo abalar das relações com os criadores, trabalhadores, fornecedores e clientes da empresa suíça. “Acho que vai ser muito complicado porque quando um accionista não quer que o projecto avance, não quer dar confiança ou apoio, é muito difícil ter gestores, substituir as vontades dos accionistas”, assume, apontando tratar- se de “um mundo muito pequeno, muito fechado, onde tudo se sabe”.
E eventuais compradores, assegurou, “preferem aguardar que a empresa morra para depois comprar a marca por quase zero”.
“É uma pena para mim, porque eu devo muito a Angola. É um país que me acolheu, custa- me ter que fazer isto, mas não o faço contra a instituição Sodiam, não faço contra o país, mas não posso deixar essas pessoas destruir assim valor, sujar assim nomes e tenta reescrever a história à medida do seu interesse político do momento”, concluiu.
Diz o órgão oficioso do MPLA ( Jornal de Angola) que, de acordo com o chefe da Missão do Fundo Monetário Internacional ( FMI) para país, Mário de Zamaróczy, a luta contra a corrupção em Angola está a produzir resultados depois do Governo a ter adoptado como um dos pilares da sua política.
Mário de Zamaróczy apontou como evidência dos resultados, numa entrevista publicada no site do FMI, a retoma do controlo dos activos do Fundo Soberano de Angola ( FSDEA) pelo Governo, assim como a adopção de um plano anticorrupção que levou ao fortalecimento os vários órgãos encarregados de combater a corrupção. O responsável do FMI indica, ainda, a assistência técnica do FMI na preparação de uma nova lei contra a lavagem de capitais e financiamento da lei do terrorismo e o facto do sistema judicial já ter condenado vários altos funcionários por peculato. Não diz, mas nós acrescentamos, que todos esses altos funcionários são todos do MPLA, o único partido que governou o país desde 1975.
A entrevista foi divulgada com uma actualização do relatório que aprova a terceira revisão do Programa de Financiamento Ampliado ( EFF, sigla inglesa), com a qual o FMI desembolsou, a 5 de Dezembro, uma tranche de 247 milhões de dólares do financiamento de 3,7 mil milhões concedido ao país em no fim de 2018, elevando o valor já pago ao Governo para 1,48 mil milhões.
Mário Zamaróczi definiu o
EFF como um programa estritamente baseado no Plano de Desenvolvimento Nacional 2018– 22, declarando que a instituição financeira está “particularmente satisfeita por o governo ter empenhado esforços no programa, que consiste em gerar as receitas necessárias para a formação de excedentes orçamentais que reduzam a necessidade de contrair dívida adicional. Um marco importante foi alcançado este ano, com a introdução do IVA a 1 de Outubro, disse o chefe de Missão, notando, também, que a política monetária foi reforçada para apoiar a liberalização da taxa de câmbio, além de “uma série de medidas legislativas e estruturais” implementadas para promover o investimento privado e elevar a oferta de infra- estruturas. Apesar dos notáveis progressos, prosseguiu Mário Zamaróczi, há grandes desafios pela frente, como a necessidade de o Governo encontrar formas de amenizar o impacto da transição sobre os mais vulneráveis, redução da dívida e a criação de um ambiente favorável aos negócios que incentive o investimento privado, um dos futuros motores do crescimento.
No passado dia 29 de Março, o FMI assinalou a necessidade de “muita cautela” na contratação de novas dívidas públicas, devido à tendência de aproximação dos 90% do Produto Interno Bruto ( PIB) de
Angola até ao final do ano. A Moody’s, que não percebe patavina do assunto, considerou no passado dia 10 que a dívida pública de Angola deve atingir um pico de 104% este ano. O Departamento de Informação ( e Propaganda) do MPLA estará com vontade de perguntar ao FMI o que eles sabem para dar palpites ao “deus” do regime, João Lourenço. Mas como sabem que o FMI é, nesta fase, o patrão que dá fiado ( embora mais tarde tenhamos todos de pagar a dívida com altos juros) optam por lhe passar a mão pelo pêlo.
A posição foi avançada durante o encontro entre a missão do FMI – que se encontrava em Luanda para a avaliação
periódica do programa entre o Governo de Angola e aquela instituição financeira internacional – e a Comissão de Economia e Finanças da Assembleia Nacional.
Em declarações à imprensa, o chefe da missão do FMI, Mário de Zamaroczy, sublinhou que a dívida pública angolana está “bastante elevada” e que as autoridades estão a trabalhar no sentido de a reduzir, tendo primeiro adoptado “uma abordagem muito prudente e cautelosa” na contratação de dívida adicional, quer no mercado nacional quer no mercado estrangeiro.
Mais uma vez, o problema não está em o Governo/ MPLA publicitar o que quer que seja. Se necessário for até publicitarão a Bíblia, o Alcorão ou a lista telefónica de Malabo. O busílis da questão está apenas, e só, no facto de não cumprir o que promete. Basta ver o que se passa coma Constituição.
Só é cumprida quando isso dá jeito ao Executivo.
“Pensamos que as dívidas podem existir. Não podem ser nem muito altas nem podem ser persistentes e, por isso, há que ter agora alguma cautela, isso é o que nós transmitimos ao executivo”, salientou o FMI. “Sentimo- nos muito optimistas em relação à continuação das discussões”, disse Mário de Zamarocz, salientando que, à medida que o programa for implementado, serão realizadas visitas a Angola, de seis em seis meses, para avaliação do desempenho do programa. “Se as autoridades continuarem a implementar as reformas e a alcançar as metas do programa então haverá mais desembolsos”, explicou. Esta é mesmo uma explicação para matumbos, como o FMI nos considera. Ou seja, se cumprirmos haverá mais dinheiro. Por outras palavras, se continuarmos a dar- lhes porcos bem nutridos, eles continuarão a dar- nos umas salsichas. Por sua vez, a presidente da Comissão de Economia e Finanças da Assembleia Nacional, Ruth Mendes, referiu na altura que um país muito endividado “não é bom nem para o desenvolvimento nem para as gerações futuras”. Isto é cada pérola. Numa altura em que todos pensávamos que estarmos muito endividados era bom… lá vem uma perita dizer o contrário!
Ruth Mendes concordou que “há que ter, de facto, alguma cautela”, quando o país tiver de contrair novos endividamentos, “porque a dívida já está nos 90% do PIB”.
“Isso é, de facto, preocupante para qualquer cidadão. Mas é como ele [ o chefe da missão do FMI] disse e muito bem: há um escalonamento para essa dívida até 2022, 2023, e chega aos 65% do PIB. Penso que há solução, a nossa dívida ainda tem solução, ainda não chegamos a uma situação de insolvência, como a Venezuela ou como a Argentina”, realçou. Na sua opinião, Angola ainda pode travar essa tendência de dívida crescente com base nas medidas que o executivo tomou e que estão explanadas no Programa de Desenvolvimento Nacional 2018- 2022, e que passa pela respectiva redução. Se fosse por um aumento seria uma chatice, não?
“Só assim podemos entender que, no orçamento deste ano, o executivo previu para acima de 50% o reembolso da dívida. Quer dizer que o próprio executivo também está preocupado com o facto de a dívida ser muito elevada”, referiu. A prova da boa governança do MPLA estará, provavelmente, no facto, anunciado em Março de 2019 por João Lourenço, de que Angola estava a negociar com o Banco Mundial ( BM) dois empréstimos no valor de 2,7 mil milhões dólares ( 2.350 milhões de euros) com taxas de juro de 2,5% e reembolsável em 30 anos.
Segundo João Lourenço, que discursava na abertura da 7. ª reunião do Comité Central do MPLA, em Luanda, o dinheiro dos dois empréstimos destinam- se a projectos de energia e águas e protecção social, no montante de 1.200 milhões de dólares ( 1.000 milhões de euros), e de apoio à tesouraria, no valor de 1.500 milhões de dólares ( 1.300 milhões de euros).
O líder do MPLA lembrou que Angola está “a reanimar” a economia nacional, dando como exemplo os financiamentos que tem conseguido obter sem a contrapartida do petróleo, “atitude considerada como uma boa prática e, como tal, recomendada pelo Fundo Monetário Internacional e pelo Banco Mundial”. Folha 8 com Lusa
Ogoverno de Luanda assumiu esta semana que a problema do saneamento básico na capital angolana continua a afectar o desenvolvimento da Saúde na província e que grande parte da população ainda consome “água fornecida por cisternas”. E os culpados são, continuam a ser, sempre serão enquanto o MPLA estiver no governo… os portugueses. Segundo o governador de Luanda, Luther Rescova, apesar de algumas melhorias, o actual nível de fornecimento de água potável, 500.000 metros cúbicos/ dia, continua aquém das necessidades da população, que é mais de metade da actual capacidade.
“A província precisa de pelo menos mais de um milhão para atender à procura das populações cuja grande parte consome água de cisternas”, afirmou o responsável, na abertura de uma reunião com o Presidente angolano, João Lourenço.
O Presidente João Lourenço, reuniu- se com os membros do governo da província de Luanda no âmbito de uma visita de trabalho de dois dias que efectua na capital do país, onde se inclui uma reunião do Conselho de Auscultação e Concertação Social. Para Luther Rescova, que apresentava a realidade socioeconómica e de infra- estruturas de Luanda, no domínio da limpeza pública “decorrem esforços” para a província estar mais limpa, mas, realçou, há necessidade de se “reforçar a participação do Estado”.
Em relação à iluminação pública, adiantou, em Janeiro cerca de 20% das vias principais estavam iluminadas, mas o “maior constrangimento é o nível de vandalização desses meios”, lamentou. Rescova avançou que o volume de arrecadação de receita comunitária da província aumentou este ano para 62%, sem especificar o montante, afirmando, por outro lado, que persiste o diferencial entre o Orçamento aprovado e o executado.
Isto, explicou, “comprometeu a realização de muitas tarefas”, sendo que dos cerca de 313 projectos inscritos no Orçamento para 2019 estão apenas em curso 50 projectos”.
Amanhã, o Presidente inaugura o Centro de Hemodiálise do Hospital Geral de Luanda, a Centralidade do Zango 5, município angolano de Viana, e visita o Projecto Integrado de Desenvolvimento Agrícola e Regional da Quiminha, no município de Icolo e Bengo.
Em Dezembro de 2017 ficou a saber- se que o Governo angolano, na tentativa de mostrar que, ao contrário do que se diz, Roma e Pavia se fizerem num dia, vai começar o processo de descentralização administrativa, anunciado anteriormente pelo Presidente da República, João Lourenço, com a área da gestão do saneamento em Luanda, passando competências para o governo provincial.
De acordo com um despacho presidencial de Novembro de 2017, João Lourenço aprovou um reajuste na Unidade Técnica de Gestão do Saneamento de Luanda ( UTGSL), considerando a “necessidade de se aprofundar o processo de desconcentração” da administração do Estado.
No caso das alterações à UTGSL, que fica sob superintendência do governador da província de Luanda – a primeira medida concreta do género aprovada por João Lourenço -, inserem- se na “consolidação das bases do Processo de Descentralização administrativa que conduza à efectiva aproximação dos órgãos de decisão às populações, dotando- as de capacidade institucional para assegurarem com a adequada eficiência e eficácia o serviço público para o qual são vocacionadas”. O Presidente da República assumiu em Outubro de 2017 que a instituição das autarquias locais no país é um “desafio central” para a actual legislatura, que decorre até 2022.
“Um dos desafios centrais que assumimos para esta legislatura é passar as autarquias locais do texto constitucional para a realidade dos factos. É importante assegurar que o Estado esteja mais próximo dos cidadãos”, disse João Lourenço.
Angola continua sem realizar as primeiras eleições autárquicas no país, cujas administrações municipais são nomeadas pelo poder central, perante as fortes e reiteradas críticas dos partidos da oposição.
Entre outras alterações, o despacho assinado por João Lourenço definia que compete ao governador provincial de Luanda nomear e exonerar o director da UTGSL, aprovar o respectivo programa de acção, modelo de organização e funcionamento.
Está também definido que a UTGSL coordena todo o processo da “expansão dos sistemas de drenagem pluvial e recolha, tratamento e rejeição final das águas residuais”, para “garantir- se a funcionalidade e a observância dos padrões de qualidade das novas urbanizações”, de acordo com o programa estratégico para a província de Luanda, actualmente com perto de sete milhões de habitantes. Assume ainda, entre outras competências, a coordenação e execução de eventuais expropriações por utilidade pública, bem como “elaborar e implementar” o projecto de macrodrenagem na cidade de Luanda, além de gerir o programa de saneamento da província.
A 14 de Novembro de 2017, em Luanda, o vice- Presidente da República, Bornito de Sousa, afirmou que o Governo pretende descentralizar competências e meios para os municípios, começando na edução e saúde, antes da realização das primeiras eleições autárquicas.
A posição foi transmitida na abertura da quinta edição do Fórum dos Municípios e Cidades de Angola, que passou a ser um órgão auxiliar da Presidência da República. Na sua intervenção, Bornito de Sousa enfatizou que “implementar gradualmente as autarquias locais é uma promessa eleitoral para cumprir” ( ficamos assim a saber que outras haverá que não são para cumprir) neste mandato, mas que para tal “é fundamental” levar “a sério o processo de desconcentração e a transferência de competências para os municípios”, por serem “pressupostos essenciais para a criação das condições para a materialização das autarquias locais”, nos actuais 164 municípios.
“Os departamentos ministeriais e os governos provinciais devem, neste quadro, evitar substituir- se aos municípios, privilegiando capacitá- los para melhor e mais eficazmente exercerem as suas atribuições”, alertou o vice- Presidente da República. Até à instituição das autarquias locais, o Governo central pretende avançar com a descentralização de funções para as actuais administrações municipais e governos provinciais, âmbito da Reforma do Estado a realizar ao longo da actual legislatura.
Em Março de 2017 morreram pelo menos 11 pessoas em Luanda em resultado das fortes chuvas que inundaram mais de cinco mil casas, o desabamento de algumas e desalojando perto de 400 famílias. A culpa, é claro, é dos portugueses.
As chuvas inundaram ainda duas escolas, sete centros de saúde e uma igreja, sobretudo nos municípios do Cazenga, Cacuaco e Viana. Para tentar minimizar os estragos das chuvas foram realizados trabalhos de sucção das águas, a abertura de valetas. No entanto, as autoridades alertaram para a iminência do enchimento e transbordo de várias bacias de retenção de águas das chuvas, bem como o alagamento da maior parte de ruas secundárias e terciárias da periferia de Luanda. Entendamo- nos. Tudo o que de errado se passa em Angola foi, é e será culpa dos portugueses. A independência poderia ter chegado há 500 anos mas só chegou há 44. A culpa é dos portugueses. Os presidentes de Angola ( todos do MPLA) poderiam ser brancos, mas não isso não aconteceu. A culpa é dos portugueses. Angola poderia ser um dos países menos corruptos do mundo, mas não é. A culpa é dos portugueses.
Em tempos recentes, o ex- Presidente da República ( que só esteve no poder 38 anos) José Eduardo dos Santos considerou que a província de Luanda vivia “graves problemas decorrentes da situação complicada herdada do colonialismo, mormente no domínio das infra- estruturas e saneamento básico”.
Sua majestade, então rei do país e hoje apenas um proscrito ( embora emérito), intervinha na abertura de uma reunião técnica, dedicada à problemática dos constrangimentos sócio- conjunturais da cidade capital, e que juntou alguns membros do Executivo e responsáveis da província em busca de fórmulas mais consentâneas para a implementação dos projectos decorrentes de programas aprovados há alguns anos.
Segundo o então Presidente, os 30 anos de guerra que o país viveu ( por culpa dos portugueses, é claro) não permitiram a mobilização de recursos humanos e financeiros para satisfazer todas as expectativas das populações. Para Eduardo dos Santos, os desafios eram enormes, as despesas cresceram muito e, em certos casos, “superam a nossa capacidade”, daí a necessidade de recorrer- se à sabedoria no domínio da gestão parcimoniosa.
José Eduardo dos Santos disse também ser preciso trabalhar com base em prioridades “atacando os problemas essenciais”, que, por sua vez, permitam a resolução de outros, decorrentes dos eixos fundamentais.
Antes dessa reunião, no Marco Histórico “4 de Fevereiro”, no município do Cazenga, com titulares das pastas da Construção, Transportes, Planeamento e Desenvolvimento Territorial, Urbanismo e Habitação, os secretários de Estado das Águas e do Tesouro, entre outros responsáveis, o “querido líder” cumpriu uma jornada que o levou às obras de intervenção na zona conhecida como da “Lagoa de São Pedro”, na comuna do Hoji- Ya- Henda, assim com a algumas vias rodoviárias, que supostamente iriam conferir melhores condições de vida às populações.
Foi então que, com a impressão digital de um dos seus sipaios ( no caso até é filho incerto de pais portugueses) que dirigia o Pravda do regime, Eduardo dos Santos mandou dizer que “no ano de 2015, de grande significado para os angolanos, a empresa lusa Mota- Engil foi contratada para reabilitar todos os passeios e ruas da cidade de Luanda”. Até aqui tudo normal. Mas seguiu- se a reprodução do argumentário simiesco do sipaio ( José Ribeiro, então director do Jornal de Angola), com o aval do Presidente: “Durante as obras, a construtora vedou com alcatrão toda a rede de esgotos, sarjetas e valas de drenagem das ruas. Quando nesse ano as fortes chuvas chegaram, as ruas ficaram transformadas em rios e no sítio dos esgotos abriramse crateras que ainda hoje se vêem.”
E depois não querem que a rapaziada critique Portugal, mesmo que tenha de se descalçar pra contar até 12. Então a Mota- Engil “vedou com alcatrão toda a rede de esgotos, sarjetas e valas de drenagem das ruas”? Isso é coisa que se faça? A ideia seria dar razão a Eduardo dos Santos quando este falava da “situação complicada herdada do colonialismo, mormente no domínio das infra- estruturas e saneamento básico”. Mas, convenhamos, poderiam não ter vedado “com alcatrão toda a rede de esgotos, sarjetas e valas de drenagem das ruas”.
“Com a acumulação de charcos e lixo, as condições de saúde na capital angolana degradaram- se. A cidade foi assolada por um surto de febre- amarela. A crise só foi ultrapassada com a substituição do governo provincial”, escreveu o Pravda. E escreveu muito bem, ou não estivesse a reproduzir o recado de um líder que até conseguiu pôr o Rio Kwanza a desaguar na foz e não na nascente…
É claro que para além da Mota- Engil há muitos mais culpados, todos portugueses… por culpa de Portugal, país do qual o actual Presidente João Lourenço fez questão de ( supostamente) se afastar. Em Abril de 2016, o Pravda, também em Editorial assinado por José Eduardo dos Santos sob o pseudónimo de José Ribeiro, criticou os “amigos da desgraça” e a “imprensa do Rossio”, referindo- se ao tratamento jornalístico em Portugal do anunciado pedido de apoio do Governo angolano ao Fundo Monetário Internacional ( FMI).
“Foi notória a forma ligeira e pretensiosa como alguma imprensa à margem do Tejo, useira e vezeira em desejar desgraça em casa alheia, saiu à rua para lançar diatribes à volta de um suposto programa de resgate económico monitorado pelo FMI, organização de que Angola é membro de pleno direito”, escreveu o pasquineiro.
Com todo este cenário, é bom de ver que Portugal para se redimir de todos os seus históricos erros em relação a Angola, deve rapidamente pedir desculpas às terças, quintas e sábados e pedir perdão às segundas, quartas e sextas. Aos domingos deve tomar a hóstia que tira todos os pecados. A bem, é claro, da Nação. Da nação do MPLA, entenda- se.