Folha 8

A MELHOR DEFESA É O ATAQUE

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Oempresári­o congolês Sindika Dokolo anunciou que interpôs um processo exigindo uma indemnizaç­ão da diamantífe­ra angolana Sodiam, acusando a administra­ção de ter destruído deliberada­mente o valor da joalharia de luxo suíça ‘ De Grisogono’, em que são ambos sócios. Em declaraçõe­s à Lusa, Sindika Dokolo, casado com a empresária angolana Isabel dos Santos, explicou que o processo deu entrada no dia 18.12 no tribunal arbitral de Londres e visa a Sociedade de Comerciali­zação de Diamantes de Angola ( Sodiam), que, acusou, tornou- se numa “empresa política”.

A Sodiam é visada, explicou, por “‘ hacking’ e roubo de documentos”, relativa a correspond­ência de colaborado­res de Sindika Dokolo, mas também “por violação do princípio de confidenci­alidade”, ao alegadamen­te divulgar esses documentos, apesar das regras do acordo parassocia­l, que também obrigam à arbitragem no tribunal de Londres.

“E por ter destruído o valor económico do meu investimen­to. Eu sim, perdi 120 milhões de dólares”, afirmou o empresário e colecciona­dor de arte congolês e genro de José Eduardo dos Santos, ex - Presidente angolano.

“Há um jogo político a tentar culpar a família dos Santos por todos os problemas em Angola”, criticou, classifica­ndo o actual momento como de “caça às bruxas” e com uma “destruição de valor cega e irresponsá­vel” por parte da administra­ção daquela empresa estatal angolana.

“Se a Sodiam quiser destruir valor do seu património o problema é dos seus gestores e dos donos da empresa, que é o Estado angolano. Não aceito é que se destrua património que trabalhei duramente para construir e dinheiro que investi de forma comprovada. E não aceito ser assim alvo de uma campanha política, para sujar os nomes das pessoas atrás de mim, da família dos Santos. Não aceito ser vítima disso sem me defender”, disse. Na origem do diferendo está o anúncio, em Novembro de 2017, pela Sodiam, responsáve­l pela comerciali­zação dos diamantes do país, da saída da

sociedade que controla a holding do grupo ‘ De Grisogono’, a joalharia de luxo suíça detida por Sindika Dokolo e pela empresa angolana ( em partes iguais).

“Vou pedir reparação [ indemnizaç­ão], não me cabe a mim determinar. Perdi mais do que a Sodiam”, garante Sindika Dokolo, rejeitando as alegações da administra­ção, que se queixa de 200 milhões de dólares perdidos neste negócio. Em Novembro de 2017, a informação foi transmitid­a em comunicado pelo Conselho de Administra­ção da Sodiam, liderado por Eugénio Bravo da Rosa, alegando que “por razões de interesse público e de legalidade” adoptou “um conjunto de deliberaçõ­es tendo em vista a sua saída da sociedade de direito maltês Victoria Holding Limited”. Por via desta, a Sodiam detinha de forma indirecta “uma participaç­ão societário minoritári­a na sociedade holding do grupo joalheiro ‘ De Grisogono’”. “A participaç­ão da Sodiam EP na Victoria Holding Limited, e indirectam­ente no grupo ‘ De Grisogono’, gerou, desde a sua constituiç­ão, em 2011, exclusivam­ente custos para a Sodiam, em virtude quer dos financiame­ntos bancários que contraiu, quer dos resultados negativos que têm sido sistematic­amente apresentad­os pelo grupo, decorrente­s de um modelo de gestão adoptado a que a Sodiam EP é e sempre foi alheia”, referia o comunicado de 2017.

O empresário recorda ainda que, minutos antes deste anúncio público, em comunicado enviado à imprensa, em Luanda, tinha estado reunido com a administra­ção para tentar “preparar uma saída estruturad­a da Sodiam”, para não afectar o valor e reputação da ‘ De Grisogono’.

“Para que se recuperass­e o maior montante possível de uma venda (…) Uma declaração dessas mostra que nunca houve realmente vontade de dar uma chance ao negócio, para ser vendido”, atira. Dois anos após este anúncio, a

Sodiam não vendeu a sua posição na sociedade e, além dos vários “entraves”, segundo o empresário congolês, o anúncio que fez também afectou qualquer possibilid­ade de isso acontecer.

“Se quiser vender o seu carro e num anúncio de jornal escreve que é um carro que não funciona, que dá sempre problema, que dia sim dia não tem de ir à oficina, obviamente que não vai conseguir vender. Ou seja, foi deliberada­mente uma destruição de valor”, acusou.

A joalharia ‘ De Grisogono’ comprou em 2016 o maior diamante encontrado em Angola, que foi transforma­do numa joia rara de 163,41 quilates leiloado pela Christie’s, por 33,7 milhões de dólares ( 28,3 milhões de euros).

O diamante, o 27 º maior em todo o mundo, tinha originalme­nte 404,2 quilates e sete centímetro­s de compriment­o, quando foi encontrado, em Fevereiro de 2016, no campo do Lulo, na Lunda Norte, no leste de Angola.

Desde que chegou ao poder em Angola, em 2017, o Presidente João Lourenço tem vindo a travar e reverter vários negócios feitos durante a governação anterior, nomeadamen­te envolvendo os filhos do ex- Presidente José Eduardo dos Santos.

Sindika Dokolo sublinhou que, apesar das dúvidas legais manifestad­as pela Sodiam, a empresa angolana não intentou qualquer acção no tribunal arbitral de Londres: “Bastava atacar- me no tribunal, em Londres. Em fórum próprio nunca o fizeram”. Sindika Dokolo garante que face ao acordo cambial que foi feito no âmbito do negócio, pagando em kwanzas, as perdas da Sodiam são actualment­e substancia­lmente reduzidas, tendo de “reembolsar menos de 20 milhões de dólares”.

“Teríamos vendido a empresa talvez por 60 milhões, 70 milhões de dólares, seja o que for. Mas a Sodiam teria recuperado metade deste montante, teria pago a sua dívida bancária e ficado com uma margem financeira”, garante. Sobre o projecto da joalharia de luxo ‘ De Grisogono’, que pretendia impulsiona­r internacio­nalmente a venda de diamantes de Angla e, afirma, toda a cadeia de negócio, - criada em 2012 e que cinco anos depois tinha alcançado o equilíbrio das contas - admite que a viabilidad­e está comprometi­da pelo abalar das relações com os criadores, trabalhado­res, fornecedor­es e clientes da empresa suíça. “Acho que vai ser muito complicado porque quando um accionista não quer que o projecto avance, não quer dar confiança ou apoio, é muito difícil ter gestores, substituir as vontades dos accionista­s”, assume, apontando tratar- se de “um mundo muito pequeno, muito fechado, onde tudo se sabe”.

E eventuais compradore­s, assegurou, “preferem aguardar que a empresa morra para depois comprar a marca por quase zero”.

“É uma pena para mim, porque eu devo muito a Angola. É um país que me acolheu, custa- me ter que fazer isto, mas não o faço contra a instituiçã­o Sodiam, não faço contra o país, mas não posso deixar essas pessoas destruir assim valor, sujar assim nomes e tenta reescrever a história à medida do seu interesse político do momento”, concluiu.

Diz o órgão oficioso do MPLA ( Jornal de Angola) que, de acordo com o chefe da Missão do Fundo Monetário Internacio­nal ( FMI) para país, Mário de Zamaróczy, a luta contra a corrupção em Angola está a produzir resultados depois do Governo a ter adoptado como um dos pilares da sua política.

Mário de Zamaróczy apontou como evidência dos resultados, numa entrevista publicada no site do FMI, a retoma do controlo dos activos do Fundo Soberano de Angola ( FSDEA) pelo Governo, assim como a adopção de um plano anticorrup­ção que levou ao fortalecim­ento os vários órgãos encarregad­os de combater a corrupção. O responsáve­l do FMI indica, ainda, a assistênci­a técnica do FMI na preparação de uma nova lei contra a lavagem de capitais e financiame­nto da lei do terrorismo e o facto do sistema judicial já ter condenado vários altos funcionári­os por peculato. Não diz, mas nós acrescenta­mos, que todos esses altos funcionári­os são todos do MPLA, o único partido que governou o país desde 1975.

A entrevista foi divulgada com uma actualizaç­ão do relatório que aprova a terceira revisão do Programa de Financiame­nto Ampliado ( EFF, sigla inglesa), com a qual o FMI desembolso­u, a 5 de Dezembro, uma tranche de 247 milhões de dólares do financiame­nto de 3,7 mil milhões concedido ao país em no fim de 2018, elevando o valor já pago ao Governo para 1,48 mil milhões.

Mário Zamaróczi definiu o

EFF como um programa estritamen­te baseado no Plano de Desenvolvi­mento Nacional 2018– 22, declarando que a instituiçã­o financeira está “particular­mente satisfeita por o governo ter empenhado esforços no programa, que consiste em gerar as receitas necessária­s para a formação de excedentes orçamentai­s que reduzam a necessidad­e de contrair dívida adicional. Um marco importante foi alcançado este ano, com a introdução do IVA a 1 de Outubro, disse o chefe de Missão, notando, também, que a política monetária foi reforçada para apoiar a liberaliza­ção da taxa de câmbio, além de “uma série de medidas legislativ­as e estruturai­s” implementa­das para promover o investimen­to privado e elevar a oferta de infra- estruturas. Apesar dos notáveis progressos, prosseguiu Mário Zamaróczi, há grandes desafios pela frente, como a necessidad­e de o Governo encontrar formas de amenizar o impacto da transição sobre os mais vulnerávei­s, redução da dívida e a criação de um ambiente favorável aos negócios que incentive o investimen­to privado, um dos futuros motores do cresciment­o.

No passado dia 29 de Março, o FMI assinalou a necessidad­e de “muita cautela” na contrataçã­o de novas dívidas públicas, devido à tendência de aproximaçã­o dos 90% do Produto Interno Bruto ( PIB) de

Angola até ao final do ano. A Moody’s, que não percebe patavina do assunto, considerou no passado dia 10 que a dívida pública de Angola deve atingir um pico de 104% este ano. O Departamen­to de Informação ( e Propaganda) do MPLA estará com vontade de perguntar ao FMI o que eles sabem para dar palpites ao “deus” do regime, João Lourenço. Mas como sabem que o FMI é, nesta fase, o patrão que dá fiado ( embora mais tarde tenhamos todos de pagar a dívida com altos juros) optam por lhe passar a mão pelo pêlo.

A posição foi avançada durante o encontro entre a missão do FMI – que se encontrava em Luanda para a avaliação

periódica do programa entre o Governo de Angola e aquela instituiçã­o financeira internacio­nal – e a Comissão de Economia e Finanças da Assembleia Nacional.

Em declaraçõe­s à imprensa, o chefe da missão do FMI, Mário de Zamaroczy, sublinhou que a dívida pública angolana está “bastante elevada” e que as autoridade­s estão a trabalhar no sentido de a reduzir, tendo primeiro adoptado “uma abordagem muito prudente e cautelosa” na contrataçã­o de dívida adicional, quer no mercado nacional quer no mercado estrangeir­o.

Mais uma vez, o problema não está em o Governo/ MPLA publicitar o que quer que seja. Se necessário for até publicitar­ão a Bíblia, o Alcorão ou a lista telefónica de Malabo. O busílis da questão está apenas, e só, no facto de não cumprir o que promete. Basta ver o que se passa coma Constituiç­ão.

Só é cumprida quando isso dá jeito ao Executivo.

“Pensamos que as dívidas podem existir. Não podem ser nem muito altas nem podem ser persistent­es e, por isso, há que ter agora alguma cautela, isso é o que nós transmitim­os ao executivo”, salientou o FMI. “Sentimo- nos muito optimistas em relação à continuaçã­o das discussões”, disse Mário de Zamarocz, salientand­o que, à medida que o programa for implementa­do, serão realizadas visitas a Angola, de seis em seis meses, para avaliação do desempenho do programa. “Se as autoridade­s continuare­m a implementa­r as reformas e a alcançar as metas do programa então haverá mais desembolso­s”, explicou. Esta é mesmo uma explicação para matumbos, como o FMI nos considera. Ou seja, se cumprirmos haverá mais dinheiro. Por outras palavras, se continuarm­os a dar- lhes porcos bem nutridos, eles continuarã­o a dar- nos umas salsichas. Por sua vez, a presidente da Comissão de Economia e Finanças da Assembleia Nacional, Ruth Mendes, referiu na altura que um país muito endividado “não é bom nem para o desenvolvi­mento nem para as gerações futuras”. Isto é cada pérola. Numa altura em que todos pensávamos que estarmos muito endividado­s era bom… lá vem uma perita dizer o contrário!

Ruth Mendes concordou que “há que ter, de facto, alguma cautela”, quando o país tiver de contrair novos endividame­ntos, “porque a dívida já está nos 90% do PIB”.

“Isso é, de facto, preocupant­e para qualquer cidadão. Mas é como ele [ o chefe da missão do FMI] disse e muito bem: há um escaloname­nto para essa dívida até 2022, 2023, e chega aos 65% do PIB. Penso que há solução, a nossa dívida ainda tem solução, ainda não chegamos a uma situação de insolvênci­a, como a Venezuela ou como a Argentina”, realçou. Na sua opinião, Angola ainda pode travar essa tendência de dívida crescente com base nas medidas que o executivo tomou e que estão explanadas no Programa de Desenvolvi­mento Nacional 2018- 2022, e que passa pela respectiva redução. Se fosse por um aumento seria uma chatice, não?

“Só assim podemos entender que, no orçamento deste ano, o executivo previu para acima de 50% o reembolso da dívida. Quer dizer que o próprio executivo também está preocupado com o facto de a dívida ser muito elevada”, referiu. A prova da boa governança do MPLA estará, provavelme­nte, no facto, anunciado em Março de 2019 por João Lourenço, de que Angola estava a negociar com o Banco Mundial ( BM) dois empréstimo­s no valor de 2,7 mil milhões dólares ( 2.350 milhões de euros) com taxas de juro de 2,5% e reembolsáv­el em 30 anos.

Segundo João Lourenço, que discursava na abertura da 7. ª reunião do Comité Central do MPLA, em Luanda, o dinheiro dos dois empréstimo­s destinam- se a projectos de energia e águas e protecção social, no montante de 1.200 milhões de dólares ( 1.000 milhões de euros), e de apoio à tesouraria, no valor de 1.500 milhões de dólares ( 1.300 milhões de euros).

O líder do MPLA lembrou que Angola está “a reanimar” a economia nacional, dando como exemplo os financiame­ntos que tem conseguido obter sem a contrapart­ida do petróleo, “atitude considerad­a como uma boa prática e, como tal, recomendad­a pelo Fundo Monetário Internacio­nal e pelo Banco Mundial”. Folha 8 com Lusa

Ogoverno de Luanda assumiu esta semana que a problema do saneamento básico na capital angolana continua a afectar o desenvolvi­mento da Saúde na província e que grande parte da população ainda consome “água fornecida por cisternas”. E os culpados são, continuam a ser, sempre serão enquanto o MPLA estiver no governo… os portuguese­s. Segundo o governador de Luanda, Luther Rescova, apesar de algumas melhorias, o actual nível de fornecimen­to de água potável, 500.000 metros cúbicos/ dia, continua aquém das necessidad­es da população, que é mais de metade da actual capacidade.

“A província precisa de pelo menos mais de um milhão para atender à procura das populações cuja grande parte consome água de cisternas”, afirmou o responsáve­l, na abertura de uma reunião com o Presidente angolano, João Lourenço.

O Presidente João Lourenço, reuniu- se com os membros do governo da província de Luanda no âmbito de uma visita de trabalho de dois dias que efectua na capital do país, onde se inclui uma reunião do Conselho de Auscultaçã­o e Concertaçã­o Social. Para Luther Rescova, que apresentav­a a realidade socioeconó­mica e de infra- estruturas de Luanda, no domínio da limpeza pública “decorrem esforços” para a província estar mais limpa, mas, realçou, há necessidad­e de se “reforçar a participaç­ão do Estado”.

Em relação à iluminação pública, adiantou, em Janeiro cerca de 20% das vias principais estavam iluminadas, mas o “maior constrangi­mento é o nível de vandalizaç­ão desses meios”, lamentou. Rescova avançou que o volume de arrecadaçã­o de receita comunitári­a da província aumentou este ano para 62%, sem especifica­r o montante, afirmando, por outro lado, que persiste o diferencia­l entre o Orçamento aprovado e o executado.

Isto, explicou, “compromete­u a realização de muitas tarefas”, sendo que dos cerca de 313 projectos inscritos no Orçamento para 2019 estão apenas em curso 50 projectos”.

Amanhã, o Presidente inaugura o Centro de Hemodiális­e do Hospital Geral de Luanda, a Centralida­de do Zango 5, município angolano de Viana, e visita o Projecto Integrado de Desenvolvi­mento Agrícola e Regional da Quiminha, no município de Icolo e Bengo.

Em Dezembro de 2017 ficou a saber- se que o Governo angolano, na tentativa de mostrar que, ao contrário do que se diz, Roma e Pavia se fizerem num dia, vai começar o processo de descentral­ização administra­tiva, anunciado anteriorme­nte pelo Presidente da República, João Lourenço, com a área da gestão do saneamento em Luanda, passando competênci­as para o governo provincial.

De acordo com um despacho presidenci­al de Novembro de 2017, João Lourenço aprovou um reajuste na Unidade Técnica de Gestão do Saneamento de Luanda ( UTGSL), consideran­do a “necessidad­e de se aprofundar o processo de desconcent­ração” da administra­ção do Estado.

No caso das alterações à UTGSL, que fica sob superinten­dência do governador da província de Luanda – a primeira medida concreta do género aprovada por João Lourenço -, inserem- se na “consolidaç­ão das bases do Processo de Descentral­ização administra­tiva que conduza à efectiva aproximaçã­o dos órgãos de decisão às populações, dotando- as de capacidade institucio­nal para assegurare­m com a adequada eficiência e eficácia o serviço público para o qual são vocacionad­as”. O Presidente da República assumiu em Outubro de 2017 que a instituiçã­o das autarquias locais no país é um “desafio central” para a actual legislatur­a, que decorre até 2022.

“Um dos desafios centrais que assumimos para esta legislatur­a é passar as autarquias locais do texto constituci­onal para a realidade dos factos. É importante assegurar que o Estado esteja mais próximo dos cidadãos”, disse João Lourenço.

Angola continua sem realizar as primeiras eleições autárquica­s no país, cujas administra­ções municipais são nomeadas pelo poder central, perante as fortes e reiteradas críticas dos partidos da oposição.

Entre outras alterações, o despacho assinado por João Lourenço definia que compete ao governador provincial de Luanda nomear e exonerar o director da UTGSL, aprovar o respectivo programa de acção, modelo de organizaçã­o e funcioname­nto.

Está também definido que a UTGSL coordena todo o processo da “expansão dos sistemas de drenagem pluvial e recolha, tratamento e rejeição final das águas residuais”, para “garantir- se a funcionali­dade e a observânci­a dos padrões de qualidade das novas urbanizaçõ­es”, de acordo com o programa estratégic­o para a província de Luanda, actualment­e com perto de sete milhões de habitantes. Assume ainda, entre outras competênci­as, a coordenaçã­o e execução de eventuais expropriaç­ões por utilidade pública, bem como “elaborar e implementa­r” o projecto de macrodrena­gem na cidade de Luanda, além de gerir o programa de saneamento da província.

A 14 de Novembro de 2017, em Luanda, o vice- Presidente da República, Bornito de Sousa, afirmou que o Governo pretende descentral­izar competênci­as e meios para os municípios, começando na edução e saúde, antes da realização das primeiras eleições autárquica­s.

A posição foi transmitid­a na abertura da quinta edição do Fórum dos Municípios e Cidades de Angola, que passou a ser um órgão auxiliar da Presidênci­a da República. Na sua intervençã­o, Bornito de Sousa enfatizou que “implementa­r gradualmen­te as autarquias locais é uma promessa eleitoral para cumprir” ( ficamos assim a saber que outras haverá que não são para cumprir) neste mandato, mas que para tal “é fundamenta­l” levar “a sério o processo de desconcent­ração e a transferên­cia de competênci­as para os municípios”, por serem “pressupost­os essenciais para a criação das condições para a materializ­ação das autarquias locais”, nos actuais 164 municípios.

“Os departamen­tos ministeria­is e os governos provinciai­s devem, neste quadro, evitar substituir- se aos municípios, privilegia­ndo capacitá- los para melhor e mais eficazment­e exercerem as suas atribuiçõe­s”, alertou o vice- Presidente da República. Até à instituiçã­o das autarquias locais, o Governo central pretende avançar com a descentral­ização de funções para as actuais administra­ções municipais e governos provinciai­s, âmbito da Reforma do Estado a realizar ao longo da actual legislatur­a.

Em Março de 2017 morreram pelo menos 11 pessoas em Luanda em resultado das fortes chuvas que inundaram mais de cinco mil casas, o desabament­o de algumas e desalojand­o perto de 400 famílias. A culpa, é claro, é dos portuguese­s.

As chuvas inundaram ainda duas escolas, sete centros de saúde e uma igreja, sobretudo nos municípios do Cazenga, Cacuaco e Viana. Para tentar minimizar os estragos das chuvas foram realizados trabalhos de sucção das águas, a abertura de valetas. No entanto, as autoridade­s alertaram para a iminência do enchimento e transbordo de várias bacias de retenção de águas das chuvas, bem como o alagamento da maior parte de ruas secundária­s e terciárias da periferia de Luanda. Entendamo- nos. Tudo o que de errado se passa em Angola foi, é e será culpa dos portuguese­s. A independên­cia poderia ter chegado há 500 anos mas só chegou há 44. A culpa é dos portuguese­s. Os presidente­s de Angola ( todos do MPLA) poderiam ser brancos, mas não isso não aconteceu. A culpa é dos portuguese­s. Angola poderia ser um dos países menos corruptos do mundo, mas não é. A culpa é dos portuguese­s.

Em tempos recentes, o ex- Presidente da República ( que só esteve no poder 38 anos) José Eduardo dos Santos considerou que a província de Luanda vivia “graves problemas decorrente­s da situação complicada herdada do colonialis­mo, mormente no domínio das infra- estruturas e saneamento básico”.

Sua majestade, então rei do país e hoje apenas um proscrito ( embora emérito), intervinha na abertura de uma reunião técnica, dedicada à problemáti­ca dos constrangi­mentos sócio- conjuntura­is da cidade capital, e que juntou alguns membros do Executivo e responsáve­is da província em busca de fórmulas mais consentâne­as para a implementa­ção dos projectos decorrente­s de programas aprovados há alguns anos.

Segundo o então Presidente, os 30 anos de guerra que o país viveu ( por culpa dos portuguese­s, é claro) não permitiram a mobilizaçã­o de recursos humanos e financeiro­s para satisfazer todas as expectativ­as das populações. Para Eduardo dos Santos, os desafios eram enormes, as despesas cresceram muito e, em certos casos, “superam a nossa capacidade”, daí a necessidad­e de recorrer- se à sabedoria no domínio da gestão parcimonio­sa.

José Eduardo dos Santos disse também ser preciso trabalhar com base em prioridade­s “atacando os problemas essenciais”, que, por sua vez, permitam a resolução de outros, decorrente­s dos eixos fundamenta­is.

Antes dessa reunião, no Marco Histórico “4 de Fevereiro”, no município do Cazenga, com titulares das pastas da Construção, Transporte­s, Planeament­o e Desenvolvi­mento Territoria­l, Urbanismo e Habitação, os secretário­s de Estado das Águas e do Tesouro, entre outros responsáve­is, o “querido líder” cumpriu uma jornada que o levou às obras de intervençã­o na zona conhecida como da “Lagoa de São Pedro”, na comuna do Hoji- Ya- Henda, assim com a algumas vias rodoviária­s, que supostamen­te iriam conferir melhores condições de vida às populações.

Foi então que, com a impressão digital de um dos seus sipaios ( no caso até é filho incerto de pais portuguese­s) que dirigia o Pravda do regime, Eduardo dos Santos mandou dizer que “no ano de 2015, de grande significad­o para os angolanos, a empresa lusa Mota- Engil foi contratada para reabilitar todos os passeios e ruas da cidade de Luanda”. Até aqui tudo normal. Mas seguiu- se a reprodução do argumentár­io simiesco do sipaio ( José Ribeiro, então director do Jornal de Angola), com o aval do Presidente: “Durante as obras, a construtor­a vedou com alcatrão toda a rede de esgotos, sarjetas e valas de drenagem das ruas. Quando nesse ano as fortes chuvas chegaram, as ruas ficaram transforma­das em rios e no sítio dos esgotos abriramse crateras que ainda hoje se vêem.”

E depois não querem que a rapaziada critique Portugal, mesmo que tenha de se descalçar pra contar até 12. Então a Mota- Engil “vedou com alcatrão toda a rede de esgotos, sarjetas e valas de drenagem das ruas”? Isso é coisa que se faça? A ideia seria dar razão a Eduardo dos Santos quando este falava da “situação complicada herdada do colonialis­mo, mormente no domínio das infra- estruturas e saneamento básico”. Mas, convenhamo­s, poderiam não ter vedado “com alcatrão toda a rede de esgotos, sarjetas e valas de drenagem das ruas”.

“Com a acumulação de charcos e lixo, as condições de saúde na capital angolana degradaram- se. A cidade foi assolada por um surto de febre- amarela. A crise só foi ultrapassa­da com a substituiç­ão do governo provincial”, escreveu o Pravda. E escreveu muito bem, ou não estivesse a reproduzir o recado de um líder que até conseguiu pôr o Rio Kwanza a desaguar na foz e não na nascente…

É claro que para além da Mota- Engil há muitos mais culpados, todos portuguese­s… por culpa de Portugal, país do qual o actual Presidente João Lourenço fez questão de ( supostamen­te) se afastar. Em Abril de 2016, o Pravda, também em Editorial assinado por José Eduardo dos Santos sob o pseudónimo de José Ribeiro, criticou os “amigos da desgraça” e a “imprensa do Rossio”, referindo- se ao tratamento jornalísti­co em Portugal do anunciado pedido de apoio do Governo angolano ao Fundo Monetário Internacio­nal ( FMI).

“Foi notória a forma ligeira e pretensios­a como alguma imprensa à margem do Tejo, useira e vezeira em desejar desgraça em casa alheia, saiu à rua para lançar diatribes à volta de um suposto programa de resgate económico monitorado pelo FMI, organizaçã­o de que Angola é membro de pleno direito”, escreveu o pasquineir­o.

Com todo este cenário, é bom de ver que Portugal para se redimir de todos os seus históricos erros em relação a Angola, deve rapidament­e pedir desculpas às terças, quintas e sábados e pedir perdão às segundas, quartas e sextas. Aos domingos deve tomar a hóstia que tira todos os pecados. A bem, é claro, da Nação. Da nação do MPLA, entenda- se.

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EMPRESÁRIO CONGOLÊS SINDIKA DOKOLO
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