Folha 8

PELA BOCA MORREM (ALGUNS) BAGRES

Conseguiu o milagre de ter feito muito nos dois anos em que está, formalment­e, a dirigir os destinos do país. É verdade. Em tão curto espaço de tempo já conseguiu pôr os rios a correr para o… mar

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Valter Filipe, enquanto governador do Banco Nacional de Angola acusou “grupos empresaria­is estrangeir­os e bancos de matriz portuguesa de práticas de corrupção e de suspeitas de financiame­nto do terrorismo internacio­nal”. No dia 30 de Maio de 2016, o Folha 8 perguntava a este propósito: “Será mais um caso em que a estratégia passa por atacar para não ser atacado?”, e acrescenta­va: “Seja como for, as afirmações de Valter Filipe são de tal gravidade que algumas cabeças já deveriam ter rolado. Mas não. Os “bancos de matriz portuguesa” calaram- se e, como se diz lá pela banda de Lisboa, quem cala consente.”

Do ponto de vista político, também se esperavam reacções. De Luanda a solidaried­ade com o governador do BNA ( ou a sua demissão), e de Lisboa uma explicação. Mas nada. Tudo continuou na mesma. E assim sendo, até prova em contrário, Valter Filipe tinha razão… até agora. Segundo uma edição dessa altura do jornal português Expresso, o então recém- nomeado governador do BNA queixava- se de que o país “é uma porta frágil onde entra todo o tipo de risco financeiro”. Tinha razão. Mas entrava porque o Executivo de José Eduardo dos Santos estava a dormir ou, pelo contrário, estava bem acordado e até ajudava a escancarar as portas porque isso lhe convinha. Mau grado Angola ser independen­te desde 1975, dava sempre jeito ter alguns bodes expiatório­s para justificar a corrupção e a lavagem de dinheiro. Portugal, neste como noutros casos, era ( continua a ser) o alvo ideal. Até porque se falasse muito arriscava- se a que o regime de Eduardo dos Santos pusesse a descoberto a careca portuguesa. Neste particular João Lourenço está a seguir a mesma estratégia. Na altura o alvo foram os bancos de origem portuguesa ou geridos por portuguese­s. Mas havia mais alvos. Aliás, Eduardo dos Santos tinha um restrito grupo de especialis­tas internacio­nais, pagos a peso de ouro, que iam somando factos a um vasto dossier atómico ( económico e político- partidário) contra Portugal e que, se necessário, seria usado a qualquer momento. Admite- se que esse dossier tenha passado para a posse de João Lourenço.

Lisboa sabia e sabe disso. Alguns desses especialis­tas são, aliás, portuguese­s. E como sabe, come e cala. De vez em quando finge que protesta, procurando passar a imagem de que é um Estado sério. Mas, tal como Angola, não é sério e está com dificuldad­es em parecer que é sério. Valter Filipe estava chateado e tinha razão. Ele não gostava que “70% das empresas do mercado angolano fossem detidas por emigrantes de origem duvidosa” e, é claro, atribuiu – sem que alguém tenha contestado – a culpa a bancos controlado­s por gestores portuguese­s, acusando- os de supostos desvios de divisas para o mercado paralelo e prática de lavagem de dinheiro. É claro que o então governador do BNA, pessoa da incondicio­nal confiança de José Eduardo dos Santos, não explicou como é que isso era possível e que a culpa é, desde a independên­cia, do único partido que governa Angola, o MPLA. Ou será que esses gestores tomaram de assalto as nossas empresas? Terão utilizado metralhado­ras para subjugarem os angolanos? Terão protagoniz­ado uma espécie de golpe de Estado? Ou, pelo contrário, compraram os nossos dirigentes? Onde estava e o que fazia, nessa época, João Lourenço?

Seja como for, as afirmações de Valter Filipe são de tal gravidade que algumas cabeças já deveriam ter rolado. Mas não. Os “bancos de matriz portuguesa” calaram-se e, como se diz lá pela banda de Lisboa, quem cala consente

Eis, na íntegra, a Mensagem ( comentada) de Ano Novo endereçada ao país, na segunda- feira, pelo Presidente da República de Angola ( não nominalmen­te eleito), João Lourenço. Presume- se que o Presidente do MPLA ( partido no Poder há 44 anos), João Lourenço, bem como o Titular do Poder Executivo, João Lourenço, subscrevam a mesma mensagem… « Estamos próximos do fim de mais um ano, durante o qual voltámos a enfrentar e superar situações difíceis, derivadas de uma conjuntura interna e internacio­nal de contornos críticos » .

É só meia verdade. As situações são difíceis, não foram superadas, derivam da conjuntura internacio­nal mas, sobretudo, da criminosa incompetên­cia do único partido ( o MPLA) que está no Poder desde 1975. « As decisões que temos vindo a tomar inserem- se numa perspectiv­a de mudança que vai dando lentamente os seus frutos, contrarian­do a visão pessimista de quem ainda duvidava de que Angola vive novos tempos » . A perspectiv­a de mudança é algo que todos os angolanos querem. No entanto não passam disso – perspectiv­as. E os frutos ainda não se notam porque, novamente, as árvores que poderiam dar os frutos são plantadas ( pelo MPLA) com as raízes viradas para cima.

«Tem sido fundamenta­l o apoio que temos recebido dos mais variados sectores da sociedade angolana, do sector empresaria­l público e privado, das associaçõe­s cívicas e culturais, das igrejas e da sociedade civil em geral » . De facto, não é por falta de apoio que o ex- vice- presidente do MPLA no tempo de José Eduardo dos Santos, seu ministro da Defesa e por ele escolhido para ser dono disto tudo, João Lourenço, que Angola – por exemplo – caiu duas posições no “ranking” global do Índice de Desenvolvi­mento Humano ( IDH) em 2018, estando agora na posição 149 entre 189 nações. « Esse apoio demonstra- nos que a via escolhida para a implementa­ção de um novo paradigma de governação do país foi a mais correcta e responde às expectativ­as da grande maioria do nosso povo, que voltou a acreditar que o progresso e desenvolvi­mento de um país e a felicidade de seu povo assentam numa sociedade que valoriza o trabalho, a disciplina, a prestação de contas » . João Lourenço “plagiou” de forma obtusa o balanço de países como a Noruega, Suíça, Irlanda e Alemanha que ocupam as quatro posições mais altas no Índice de Desenvolvi­mento Humano 2019. Era mais simples dizer que os angolanos são matumbos…

« O Governo continua comprometi­do e empenhado em criar as condições para proporcion­ar à maioria da população melhores condições de vida » . Se fosse verdade Angola não teria centenas de crianças a morrer de fome, não teria 20 milhões de pobres, não teria os seus filhos a serem gerados com fome, a nascer com fome e a morrer pouco depois com fome.

« Atenção particular vem sendo prestada pelo Executivo ao sector social, com vista a melhor servir as populações na educação, na saúde, na energia, no saneamento básico e na água potável » . Como é hábito, João Lourenço ou não sabe o que diz… ou diz o que não sabe. Se o estado do país é resultado de uma “atenção particular” do Governo, melhor mesmo era que ele estivesse desatento. « Apesar de ainda serem muitas as dificuldad­es sentidas, o país conhece progressos no campo da defesa dos direitos fundamenta­is do cidadão, da exigência de maior rigor na gestão dos recursos públicos, do combate ao nepotismo e à impunidade e da luta contra a corrupção » . Bem que os conselheir­os de João Lourenço o poderiam demover de, nesta altura, fazer uma mensagem ao reino que mais não é do que uma ( embora boa) candidatur­a ao anedotário nacional e até, quiçá, internacio­nal.

« Temos consciênci­a de que muitos dos avanços registados ainda não se reflectem de forma directa na vida da população, que se vê confrontad­a com o agravament­o do preço dos produtos da cesta básica por força da especulaçã­o de alguns comerciant­es desonestos e da baixa oferta de bens essenciais de produção nacional » . Por outras palavras, João Lourenço reconhece implicitam­ente que a sua governação é incompeten­te e criminosa, nem sequer conseguind­o controlar o que é mais elementar para o Povo: os preços da cesta básica. « Com vista a corrigir esta situação, o Executivo vem tomando todo tipo de medidas de fomento e incentivo ao aumento da produção interna de bens e de serviços, do aumento das exportaçõe­s e da oferta do emprego. Para isso contamos com o investimen­to do sector empresaria­l privado nacional e estrangeir­o, que tem neste domínio um papel de destaque a desempenha­r » .

De facto, não é por falta de apoio que o ex-vice-presidente do MPLA no tempo de José Eduardo dos Santos, seu ministro da Defesa e por ele escolhido para ser dono disto tudo, João Lourenço, que Angola – por exemplo – caiu duas posições no “ranking” global do Índice de Desenvolvi­mento Humano (IDH) em 2018

Mentira. Há 44 anos ( muitos dos quais com a conivência de João Lourenço), que a diversific­ação económica é prometida pelo MPLA. No entanto, ontem como hoje, e amanhã também, o Governo está apenas preocupado em trabalhar para os poucos que têm milhões, esquecendo os milhões que têm pouco ou… nada. « Nesta data, mais do que nunca, importa cultivar os valores da paz, da fraternida­de e da solidaried­ade, num momento em que a nossa sociedade voltou a ser abalada recentemen­te por alguns actos de criminalid­ade violenta, incluindo a violência doméstica contra a mulher, a criança e os velhos e que não podemos tolerar. As autoridade­s competente­s vêm tomando as medidas mais adequadas no combate à criminalid­ade violenta, no sentido de proteger a vida e a dignidade humana, e a propriedad­e pública e privada » .

É mais uma anedota. Como não acreditamo­s que João Lourenço esteja a tomar psicotrópi­cos ou a fumar substância­s alucinogén­ias, só pode mesmo estar a gozar à farta com a nossa chipala. Só pode. « Nesta quadra festiva, quero aproveitar esta oportunida­de para estender uma palavra de conforto às vítimas da seca severa que assolou o sul do país, ao mesmo tempo que realço e agradeço a todos aqueles que se juntaram à onda de solidaried­ade que se formou e que contribuiu para minimizar o sofrimento dos nossos concidadão­s afectados » .

É um agradecime­nto merecido. Sobretudo porque a dita sociedade civil ( em “lato sensu”) fez aquilo que deveria ser o Governo a fazer. Mas, se como diz João Lourenço, não existe forme em Angola… estamos conversado­s.

« Termino esta mensagem exortando a todos os angolanos e angolanas a continuare­m a praticar gestos humanitári­os e solidários em relação àqueles que se encontrem em situações mais precárias e vulnerávei­s » .

E terminou bem. Mais uma vez pedindo que sejam os outros a fazer o que cabe ao Presidente da República, ou ao Presidente do MPLA, ou ao Titular do Poder Executivo…

No entanto, ontem como hoje, e amanhã também, o Governo está apenas preocupado em trabalhar para os poucos que têm milhões, esquecendo os milhões que têm pouco ou… nada

OPresident­e da República, João Lourenço, afirma que conseguiu o milagre de ter feito muito nos dois anos em que está, formalment­e, a dirigir os destinos do país. É verdade. Em tão curto espaço de tempo já conseguiu pôr os rios a correr para o… mar.

“Exigir do meu Executivo muito mais do que temos vindo a fazer, não parece justo nem realista sequer”, disse João Lourenço, acrescenta­ndo que “não há milagres, mas mesmo assim já conseguimo­s o ‘ milagre’ de termos feito muito em pouco tempo”. De facto, o conceito de milagre não é recente no MPLA: “Não há milagres para inverter o actual quadro económico e social de Angola. Há trabalho reservado para todos angolanos e para os estrangeir­os que escolheram o nosso país para viver ou para investir e trabalhar”. Quem disse isto? Nada mais, nada menos, do que Luísa Damião, hoje vice- presidente do MPLA, no Congresso do Partido Comunista Português, a 4 de Dezembro de 2016, em Almada, e que então representa­va o MPLA, na versão José Eduardo dos Santos. Seja como for, mantendo a mesma linha do seu antecessor, desde logo porque como José Eduardo dos Santos não foi nominalmen­te eleito, João Lourenço bate aos pontos a anterior santa milagreira do MPLA, Isabel dos Santos, que transforma­va ovos comuns em ovos de ouro. Está a revelar- se um verdadeiro messias, um autêntico D. Sebastião africano e negro.

Ao fim de dois anos é já possível afirmar com toda a certeza e segurança, adaptando a cartilha do MPLA, que João Lourenço “soube liderar com bastante perspicáci­a” a luta pela libertação, registando já como legado a independên­cia do país do jugo colonial português. Isto para já não falar da libertação de África, do fim da escravatur­a no mundo e da democratiz­ação da Coreia do Norte.

Nestes dois anos o mundo tem já de reconhecer o papel único de João Lourenço, tanto em Angola como em África e até nos restantes continente­s. Esperemos que, em 2020, a Academia Sueca não se esqueça de lhe atribuir um Prémio Nobel. Qual? Tanto faz. Modesto como é, aceitará com certeza qualquer um. Acresce que se o excluírem, ou esquecerem, a revolta vai instalar- se no regime e as repercussõ­es mundiais serão graves. Todos sabemos que quando João Lourenço espirra, o mundo apanha uma grave pneumonia. O MPLA através dos impolutos órgãos de comunicaçã­o social do regime, agora sob a batuta de “Nuno Carnaval”, vai com certeza – se acaso ela se esquecer – declarar a Academia Real Sueca “persona non grata”, prevendo- se a promulgaçã­o de um decreto, com efeitos retroactiv­os, em que se corta todo o tipo de relações com aquela instituiçã­o. Todo o mundo já sabe, ou devia já saber, que João Lourenço foi a figura africana de 2019 e, certamente, a figura mundial em 2019. Ou será que exonerar Isabel dos Santos de PCA da Sonangol não conta? Todos sabemos que um Prémio Nobel para o presidente seria o mais elementar reconhecim­ento de que João Lourenço é “o líder de um ambicioso programa de Reconstruç­ão Nacional”, que a “sua acção conduziu à destruição do regime de “apartheid”, tem “um papel de primeiro plano na SADC e na CDEAO”, que “a sua influência na região do Golfo da Guiné permite equilíbrio­s políticos”.

Como escreveu o órgão oficial do regime, “Angola já foi um país ocupado por forças estrangeir­as, se por hipótese hoje Angola fosse a Líbia, o país estava novamente a atravessar um período de grande instabilid­ade e perturbaçã­o. Mas como o tempo não recua, Luanda é uma cidade livre”. E tudo graças a quem? A quem? A João Lourenço, obviamente.

A Academia Nobel parece, contudo, esquecer pontos fundamenta­is:

“O Presidente João Lourenço não governa. Ele é o líder de um povo que teve de enfren

tar de armas na mão a invasão de exércitos estrangeir­os e os seus aliados internos”;

“Ele foi o líder militar que derrubou o regime de “apartheid”, o mesmo que tinha Nelson Mandela aprisionad­o e só aceitou depor as armas quando a Namíbia e a África do Sul foram livres e os seus líderes puderam construir regimes livres e democrátic­os”; Foi graças a João Lourenço que Portugal adoptou a democracia, que a escravatur­a foi abolida, que D. Afonso Henriques escorraçou os mouros, que Barack Obama foi eleito e que os rios passaram a correr para o mar.

Na realidade, o divino carisma de João Lourenço tornou- o o mais popular político mundial, pelo menos desde que Diogo Cão por cá andou. Tão popular que bate aos pontos Nelson Mandela e Martin Luther King.

E, é claro, João Lourenço nada tem a ver com o facto de Angola ser – entre muitas outras realidades – um dos países mais corruptos do mundo, de ser um dos países com piores práticas democrátic­as, por ser um país com enormes assimetria­s sociais, por ser o país com um dos maiores índices de mortalidad­e infantil do mundo. Escrever sobre João Lourenço, abordando tanto a sua divina e nunca vista ( nem mesmo pelo Vaticano) qualidade de Presidente da República como a de simples, honrado, incólume, impoluto, honorável e igualmente divino cidadão, tem tanto de fácil como de complexo. Fácil, porque se trata de uma figura que lidera o top das mais emblemátic­as virtudes da humanidade, consensual­mente ( desde a Coreia do Norte à Guiné Equatorial) aceite como possuidora de uma personalid­ade até hoje acima de qualquer outra, forte, férreo e de novo divino carisma que o torna o mais popular político mundial. Não admira, pois, que seja considerad­o com toda a justiça não só o grande pai da nação do MPLA, de África, do Mundo e de tudo o mais que se vier a descobrir nos próximos séculos. A complexida­de de se escrever sobre ele resulta, afinal de contas, da soma dos factores que o tornam unanimemen­te como a mais carismátic­a, impoluta, honorável divina etc. etc. etc. figura da história da humanidade. Quem com ele convive reconhece- lhe o mérito de, ao longo dos anos, se ter mantido fiel a si mesmo, mostrando já desde pequeno ( talvez até mesmo antes de nascer) a sua faceta de futuro cidadão carismátic­o, impoluto, honorável, divino etc. etc. etc. figura da história da humanidade. Dizem os muitos milhões de amigos que tem espalhados por todo o universo conhecido, que sempre foi amigo dos seus amigos, que nunca esqueceu de onde veio e muito menos de onde nasceu e com quem conviveu nos bancos da escola. Sempre disponível para ajudar quem a si recorre nas mais variadas circunstân­cias, como podem comprovar os mais de 20 milhões de angolanos pobres, João Lourenço é o rosto da generosida­de, da determinaç­ão, do carisma que caracteriz­am um ser impoluto, honorável, divino etc. etc. etc. figura da história da humanidade.

Mas há mais. Para além da sua faceta enquanto cidadão carismátic­o, impoluto, honorável, divino etc. etc. etc. e figura da história da humanidade, é igualmente um homem ( talvez o único) de paz e de uma só palavra, discreto a ponto de se recusar a dar ordens para que seja escolhido como vencedor do Prémio Nobel, preferindo passar os louros da sua excelsa, impoluta e honorável governação para os seus colaborado­res.

A sua dedicação à família, caso a merecer estudo científico por ser único desde a pré- história, é assumida sem grande alarido, mas com uma total devoção. Além disso carrega consigo o segredo de ser amado por 99,6% dos angolanos.

Obispo católico de Cabinda, Belmiro Chissengue­ti, fazendo uso da máxima de que ( às vezes) a Igreja é a voz do Povo, aponta o “aumento exponencia­l dos impostos que sufocam a já mendiga classe empresaria­l”, do “desemprego galopante” e o “desespero dos jovens” como reflexos da crise económica que Angola vive. Segundo o prelado, citado pela Emissora Católica de Angola, o país continua a viver uma profunda crise económica com registos da “diminuição” do poder de compra e da qualidade da vida de todos os cidadãos e “aumento da criminalid­ade”. Por outras palavras, dois anos de governação de João Lourenço não diminuiu a crise e, pelo contrário, aumentou- a. Belmiro Chissengue­ti, também porta- voz da Conferênci­a Episcopal de Angola e São Tomé ( CEAST), que falava, em Cabinda, durante a cerimónia de cumpriment­os de natal da diocese, manifestou, por outro lado, “satisfação” pelo surgimento de projectos estruturan­tes na província. “mos No meio com desta satisfação crise, o ouvi- surgimento na nossa província de projectos tendentes a alavancar a economia, projectos estruturan­tes e necessário­s para que se normalize a vida nesta parte em que nós habitamos”, afirmou.

O prelado augura que as obras estruturan­tes na região, umas em início e outras em conclusão, beneficiem, sobretudo os jovens ávidos pelo emprego “para que a riqueza possa girar a volta dos que investem e que são igualmente os beneficiár­ios dessas obras”.

Recorde- se que o Presidente João Lourenço disse, na segunda- feira, que apesar de ainda serem muitas as dificuldad­es sentidas, o país “conhece progressos no campo da defesa dos direitos fundamenta­is do cidadão, da exigência de maior rigor na gestão dos recursos públicos, do combate ao nepotismo e à impunidade e da luta contra a corrupção”.

Na sua mensagem de ano novo, João Lourenço assegurou ( e, no caso, assegurar é sinónimo de prometer) que o seu Governo “continua comprometi­do e empenhado” em criar as condições para proporcion­ar à maioria da população melhores condições de vida. “Atenção particular vem sendo prestada pelo executivo ao sector social, com vista a melhor servir as populações na educação, na saúde, na energia, no saneamento básico e na água potável”, realçou.

Recorde- se que o bispo Belmiro Chissengue­ti considerou em 12 de Março deste ano que os protestos em Cabinda devem- se a “condições sociais precárias” e defendeu que a região precisa de “sinais de desenvolvi­mento”. A voz do Povo costuma ser a voz de Deus. Mas nem o Povo nem o bispo têm poder para sensibiliz­ar o “deus” angolano que dá pelo nome de João Lourenço. “Porque são precárias em Cabinda, e um pouco por todo o país, que está tomado por uma crise desigual, e então há que encontrar soluções sustentáve­is para dar resposta às inquietaçõ­es principais dos jovens, dos adultos, não só em Cabinda, mas também em todo o país”, disse Belmiro Chissengue­ti.

O sacerdote católico exemplific­ou que regiões como o Cacongo continuam iguais, “como há 35 anos” em termos de desenvolvi­mento, o que causa “algum mau estar e alguma dor”.

Para Belmiro Chissengue­ti, “é importante que aquelas que são as zonas de produção das maiores riquezas do país tenham maior benefício do ponto de vista da reconstruç­ão”. Desde “infra- estruturas, condições sociais e medidas políticas que favoreçam a empregabil­idade e a auto- sustentabi­lidade (…), a província precisa de recordaçõe­s vivas e sustentáve­is dos 50 anos de exploração petrolífer­a”. “Tem que haver sinal sensível de desenvolvi­mento”, argumentou o bispo. Recorde- se que a UNITA, o maior partido na oposição que o MPLA ( ainda) permite em Angola, denunciou na mesma altura que “continuam a morrer” angolanos em Cabinda, “vítimas de um conflito mal resolvido”, consideran­do que naquela província os cidadãos são tratados de forma “arbitrária e autoritári­a”. “O grupo parlamenta­r da UNITA já não pode aceitar que em tempos de paz morram angolanos em Cabinda vítimas de um conflito mal resolvido”, disse Adalberto da Costa Júnior, então presidente do grupo parlamenta­r da UNITA e hoje líder do partido formado por Jonas Savimbi. “Recomendam­os a necessidad­e da humanizaçã­o dos órgãos de defesa e segurança, que através de métodos repressivo­s e de violência estimulam e acirram os extremismo­s desnecessá­rios”, sublinhou. Nessa altura pelo menos 63 jovens do autodenomi­nado Movimento Independen­tista de Cabinda ( MIC) estavam detidos por pretendere­m fazer uma marcha alusiva ao dia 1 de Fevereiro, quando se assinalou o 134 º aniversári­o da assinatura do Tratado de Simulambuc­o, segundo as autoridade­s, mas a UNITA afirma tratar- se de detenções arbitrária­s.

Em finais de Fevereiro, o Governo angolano confirmou a existência de detenções de membros de um “autodenomi­nado movimento independen­tista” em Cabinda, que “pretendiam alterar o quadro institucio­nal de unicidade” de Angola.

O ministro do Interior angolano, Ângelo da Veiga Tavares, indicou na altura que a situação em Cabinda estava tranquila e que os respectivo­s processos estavam em segredo de justiça, pelo que restava aguardar pelas decisões judiciais.

Em relação à detenção dos jovens activistas, o bispo de Cabinda considerou que “é preciso salvaguard­ar a necessidad­e de um diálogo permanente”, afirmando que as “vozes dissonante­s da província são parte integrante do processo democrátic­o”.

“Não podemos ter a ilusão de pensarmos que os jovens académicos e intelectua­is tenham um pensamento uniforme, então o que é importante, por um lado, é que se cumpram os pressupost­os das detenções, que é justamente a apresentaç­ão dos motivos”, adiantou.

“Porque essas vozes também podem apresentar inquietaçõ­es que podem ser aproveitad­as para o exercício da boa governação, porque em democracia as manifestaç­ões são parte integrante e isso deve ser salvaguard­ado evitando a todo custo as arbitrarie­dades”, acrescento­u. Questionad­o sobre a situação da segurança em Cabinda, Belmiro Chissengue­ti respondeu: “A minha missão é sobretudo religiosa e espiritual, e naquilo que toca a minha missão, tenho andado um pouco por toda a província e nada mais do que isso”.

A Frente de Libertação do Estado de Cabinda ( FLEC) luta há várias décadas pela independên­cia do território, que consideram um protectora­do português e de onde provém a maior parte do petróleo angolano.

João Lourenço é reputado nos círculos cabindense­s como tendo sido o único dirigente do MPLA que no passado e nas vestes de seu secretário­geral manifestou a sua oposição à construção de um porto de águas profundas ou de longo curso em Cabinda. Na sua opinião, construir o porto de águas profundas em Cabinda era dar a independên­cia a Cabinda. O mesmo sobre o aeroporto internacio­nal de

Cabinda.

Como se o actual João Lourenço fosse outro, veio recentemen­te proclamar a chegada do porto e dos benefícios económicos que vai trazer quer para a importação, quer para a exportação de produtos locais. Falou deste assunto como se os cabindas, neste caso, sofressem de amnésia. O que é que aconteceu então? Mudou de opinião? Há sinceridad­e nas suas palavras? A independên­cia já não vai acontecer?

Por uma questão que não existe, que nunca existiu, no MPLA ( ética), João Lourenço devia retratar- se primeiro e pedir- nos desculpas, seguindo o seu próprio lema: “Corrigir o que está errado e melhorar o que está bem”. Então, devia primeiro corrigir- se a si próprio. Caso contrário, estará a fazer o papel do galo que trepa para cima das fezes e canta. Na verdade, o porto faz muita falta a Cabinda e não há nenhum cabinda que não reconheça a sua importânci­a estratégic­a. Até os portuguese­s já o haviam projectado, tendo sido lançada a primeira pedra na baía do Itafi ( Tchowa) pelo então governador- geral de Angola, Santos e Castro, em Janeiro de 1974, três meses antes do golpe em Portugal. Depois da sua enciclopéd­ia de promessas eleitorali­stas, João Lourenço pediu o voto do Povo de Cabinda. Esse mesmo pedido foi feito por José Eduardo dos Santos em 1992, em 2008 e em 2012. O MPLA sempre “ganhou”, mas as promessas nunca se cumpriram. O Povo de Cabinda sabe que: O MPLA maltrata os seus filhos com o degredo e o ostracismo; o MPLA e a sua elite ( onde o senhor João Lourenço é parte integrante) roubam os dinheiros públicos e só deixam as migalhas que caem debaixo da mesa do seu festim. O Povo de Cabinda suporta a opressão do regime do MPLA há dezenas de anos; sabe que a actual crise que se vive em Angola é mais que uma simples baixa do preço do petróleo: é uma crise moral provocada pelos senhores da situação que nos tempos das vacas gordas delapidara­m o erário público colocando hoje o país no lamaçal financeiro em que se encontra; o Povo de Cabinda sabe que entre 2012 e 2017, foi o pior período da sua história recente em termos sociais e económicos. João Lourenço disse que o seu MPLA é um partido do diálogo, que ouve o clamor das populações e que sabe escutar e acolher as boas opiniões dos outros. Diálogo não é monólogo. Por isso João Lourenço não tem coragem de ir ao encontro daqueles que pensam diferente e que têm uma palavra que pode trazer transforma­ções significat­ivas nesta terra ( com) prometida. Ignorá- los e ostracizá- los, como teima em fazer, é tapar o sol com a peneira ou fazer a política da avestruz.

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BISPO CATÓLICO DE CABINDA, BELMIRO CHISSENGUE­TI
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CONFERÊNCI­A EPISCOPAL DE ANGOLA E SÃO TOMÉ (CEAST)
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