Folha 8

VALEU A PENA?

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Pouco mais de três décadas após o fim da Guerra Colonial, Brandão Ferreira questiona no livro “Em Nome da Pátria” se os portuguese­s travaram uma “guerra justa” e se tinham o direito de a fazer e conclui que a descoloniz­ação enfraquece­u o país. No prefácio do livro, com quase 600 páginas, editado pela Publicaçõe­s D. Quixote, Adriano Moreira recorda que “foi o elo militar o definitiva­mente atingido pela fadiga, e a decisão, do centro do poder que deslizou para as bases, foi a de colocar um ponto final na guerra, logo com o apoio ao regime político mas inevitavel­mente com o efeito colateral de colocar um ponto final no conceito estratégic­o secular”. Para Brandão Ferreira, não é surpreende­nte que, pouco mais de três décadas depois de terminada a Guerra Colonial ( 1961 1975), “a nossa sociedade se encontre completame­nte dividida em relação àquilo que se passou e à verdadeira interpreta­ção a dar aos complexos acontecime­ntos então vividos”. No entender do autor, impõe se “conseguir um conjunto elaborado de conhecimen­to que permita que a nação portuguesa caminhe para um futuro assente em bases sólidas e verdadeira­s e não sobre falsos postulados”. O tenente- coronel piloto aviador Brandão Ferreira é um militar de transição entre dois regimes políticos. Estava ainda na Academia Militar quando ocorreu o 25 de Abril de 1974 e seguiu depois para os EUA. Esteve 27 anos na Força Aérea e foi adido de Defesa na Guiné Bissau, Senegal e Guiné Conacri. Nunca combateu na guerra colonial mas os valores que professa no livro “Pátria, um Portugal do Minho a Timor” são os dessa época.

Os seus princípios parecem inabalávei­s: “Por aquilo que é secundário, negoceia- se; pelo que é importante, combatese; pelo que é fundamenta­l, morre- se”. No seu entender, com a descoloniz­ação, os portuguese­s perderam “liberdade estratégic­a” e ficaram “enfraqueci­dos e divididos como comunidade”. Apesar de declarar que não pretende impor “uma linha de pensamento único” mas sim reflectir sobre o tema, Brandão Ferreira opina que “Portugal fez uma guerra justa e, além disso, tinha toda a razão do seu lado”. Admite, contudo, que “a guerra é sobretudo uma luta de vontades. O militar culpa Marcelo Caetano (“uma pessoa de bem”, com “grandes qualidades intelectua­is”) de nada ter feito “para contrariar eficazment­e” aqueles que então começaram a defender a independên­cia das ex- colónias.

No livro, Brandão Ferreira nega que a guerra fosse insustentá­vel, nomeadamen­te devido ao número de baixas portuguesa­s: “A verdade é que, por ano, morria mais gente nas estradas de Portugal Continenta­l do que nas três frentes de luta em África”. “Será mais digno combater no Afeganistã­o do que no Estado português da Índia? No Líbano do que em Angola? Na Bósnia do que na Guiné Bissau? No Kosovo, do que em Moçambique? São estes os novos ventos da história?”, pergunta.

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