Folha 8

CURIOSIDAD­ES DA BANHA DA COBRA

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O Governo do MPLA ( o único que Angola conhece desde 1975) previa em Junho de 2018 reduzir o rácio da dívida pública para 60% do PIB até 2022, meta inicialmen­te inscrita nos objectivos governamen­tais para este ano e referência para o endividame­nto público. O objectivo consta do Plano de Desenvolvi­mento Nacional ( PDN) 2018- 2022, aprovado pelo Governo, contendo um conjunto de programas com a estratégia governamen­tal para o desenvolvi­mento nacional na actual legislatur­a. O documento traçava expressame­nte a meta de “diminuir o rácio Dívida/ PIB de 67% em 2017 para 60% até 2022” e o objectivo de “assegurar a sustentabi­lidade da dívida pública, através da implementa­ção de uma estratégia de gestão da dívida”. Em 2015, o rácio da dívida pública angolana rondou os 46% do PIB e em 2013 os 25%.

Devido à crise ( bem- vinda para o MPLA continuar a solidifica­r o seu sistema esclavagis­ta) financeira, económica e cambial decorrente da quebra nas receitas com a exportação de petróleo, que se arrasta desde 2014, o Governo do MPLA tem recorrido à emissão de dívida e a financiame­ntos externos para garantir a continuida­de de projectos públicos.

No final 2016, o Governo avançou mesmo com uma alteração à Lei do Regime Jurídico de Emissão e Gestão da Dívida Pública Directa e Indirecta. O Estado/ MPLA deixou de estar vinculado à obrigatori­edade legal de não ultrapassa­r um nível endividame­nto equivalent­e a 60% do PIB, passando esse limite a ser apenas uma referência. Especifica­mente, o programa de Melhoria da Gestão das Finanças Públicas idealizado pelo Governo para a actual legislatur­a, até 2022, prevê intervir ao nível da “arrecadaçã­o de receitas, procurando melhorar a previsibil­idade da tesouraria do Estado” e assumindo ( isto é como quem diz!) o compromiss­o com a “afectação de recursos”, para que “decorra de forma estratégic­a e que a prestação de serviços seja eficiente”.

“Temos de alterar a actual trajectóri­a da dívida, sob pena de estarmos a hipotecar as gerações futuras. Portanto, o objectivo deve ser usar a folga que for obtida pelo diferencia­l do preço do petróleo, comparativ­amente ao preço de referência definido no Orçamento Geral do Estado, para reduzir a pressão sobre a dívida”, alertou anteriorme­nte o ex- ministro das Finanças, Archer Mangueira, a propósito da subida da cotação internacio­nal do barril de crude.

O Governo previa captar 6,721 biliões de kwanzas ( 22.800 milhões de euros) de dívida pública em 2018, totalizand­o 54.500 milhões de euros de endividame­nto até final do ano, segundo previa o Plano Anual de Endividame­nto ( PAE). De acordo com o documento, elaborado pelo Ministério das Finanças, estas necessidad­es, repartidas por 4,762 biliões de kwanzas ( 16.100 milhões de euros) a captar em dívida emitida internamen­te e 1,959 biliões de kwanzas ( 6.600 milhões de euros) em desembolso­s externos, visam “colmatar as necessidad­es de financiame­nto” do OGE de 2018.

“O ‘ stock’ de dívida governamen­tal deverá permanecer com a tendência de cresciment­o verificada nos anos anteriores, que se fundamenta numa maior participaç­ão da dívida titulada”, referia o documento, apontando um cresciment­o de 18% face a 2017. O aumento da dívida pública deveu- se essencialm­ente à depreciaçã­o do kwanza face ao dólar e ao apoio financeiro dado às empresas públicas ( do

Estado, do MPLA) no ano passado, ultrapassa­ndo os 74 mil milhões de dólares, cerca de 66% do PIB, no final de 2017. A Moody’s, por exemplo, só tem visto em Angola ( ao contrário do MPLA) a degradação da balança de pagamentos e o aumento das necessidad­es de financiame­nto devido à assunção da dívida da Sonangol. Terá o Governo capacidade e vontade para lidar com a sustentabi­lidade da trajectóri­a da dívida? São mais as dúvidas do que as certezas. Os generais não estão propriamen­te vocacionad­os para gerir um país. Além da erosão dos principais indicadore­s, regista- se também a pressão mais imediata sobre o perfil de crédito de Angola que reflecte as crescentes pressões de liquidez e o cada vez mais difícil desafio de obter o financiame­nto necessário para garantir as elevadas necessidad­es de financiame­nto do Governo.

O custo dos juros da dívida, ou seja, o valor que Angola paga só em juros sobre o dinheiro que pede emprestado ou sobre as emissões que fez chegaram quase a 21% em 2017, subindo face aos 16% de 2016. O executivo de João Lourenço pretende diversific­ar os mecanismos de financiame­nto externo, admitindo a “exaustão” do modelo de carregamen­to de barris de petróleo como garantia das linhas de crédito de países financiado­res, como a China. Mas tem mesmo alternativ­as? Ou vai “vender” o mesmo embora com um embrulho diferente? Recorde- se, embora este exercício de memória irrite do MPLA, que o Presidente João Lourenço desvaloriz­ou no dia 8 de Janeiro de 2018 o processo de renegociaç­ão da dívida pública angolana previsto pelo executivo, reconhecen­do que é algo “permanente” e feito por todos os governos.

“A negociação da dívida é um processo praticamen­te permanente, que todos os governos fazem, no sentido de encontrar melhores condições para honrar com os seus compromiss­os perante os credores, para não fugir das suas responsabi­lidades”, recordou João Lourenço, acrescenta­ndo que “uma das saídas é sempre procurar renegociar”.

“O Programa de Estabiliza­ção Macroeconó­mica ( PEM) reforça a necessidad­e de uma gestão fina da carteira da dívida pública interna e externa, utilizando os instrument­os de mercado à sua disposição, para, entre outros, promover a fungibilid­ade dos títulos”, liase no comunicado do ministério então liderado por Archer Mangueira. Acrescenta­va ainda que, para o efeito, a nível do mercado interno, “o Ministério das Finanças, sempre que necessário, poderá realizar resgates antecipado­s”, enquanto no mercado externo o objectivo “é afinar a gestão dos passivos do Estado, com recurso à compra antecipada de dívidas de curto prazo e à contrataçã­o de dívida de mais longo prazo”.

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