Folha 8

DEVEMOS APAGAR A FIGURA DE JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS ?

- JOSÉ CARLOS DE ALMEIDA*

Não devemos apagar ou ignorar a figura do antigo presidente, José Eduardo dos Santos. A conquista da paz e o facto de ele não ter sido sanguinári­o são factos que enaltecem a sua figura. Os angolanos não se esquecem do espírito pacificado­r do antigo presidente, particular­mente, os angolanos que estava do lado oposto do conflito armado. Cheguei à conclusão de que há muita falsidade no seio de muito dos meus correligio­nários. Que nojo!

O povo angolano não tem nada a ver com o conflito entre o actualment­e presidente e o seu antecessor. Gostava de dizer que o actual presidente e a sua esposa foram governante­s de Angola, ao tempo da liderança de José Eduardo dos Santos, desempenha­do funções nos diferentes governos ( e na Assembleia Nacional), pelo que sempre tiveram conhecimen­to dos actos de corrupção praticados pelos seus pares. Contudo, o antigo deludo e governar, enquanto político e cidadão, nunca bateu com a porta, manifestan­do- se contra os crimes contra a economia - actos de corrupção. Nunca teve, ao menos, uma posição semelhante a do falecido político, Mendes de Carvalho. João Lourenço agiu com uma frieza baseada no egoísmo - a sua intenção de ser Presidente da República. Se ele fosse corajoso e altruísta, defendo o interesse do Povo “roubado e sacrificad­o”, agiria em sua em defesa, combatendo a corrupção. Os políticos devem ser coerentes e devem ter a coragem de criticar o que estiver errado, ao tempo da identifica­ção do que estiver mal. No entanto, agrada- lhe imenso continuar a ser Ministro da Defesa, além da expectativ­a de ser Presidente da República. Isso fê- lo ficar em silêncio, ignorando o sofrimento do Povo, que não tinha assistênci­a médica e medicament­osa, como devia. Por razões egoísticas, não fez o que quer que fosse para lutar contra a corrupção. Pelo contrário, lidou e conviveu alguns corruptos do seu partido. Actualment­e, o todo poderoso e “com muita coragem” levou a justiça alguns dos seus correligio­nários corruptos, sem critérios claros, facto que leva a opinião pública a ter a ideia de que se trata de uma perseguiçã­o selectiva. Muitos cidadãos, entre os quais alguns jornalista­s, criticaram a corrupção que, às claras, ocorria em Angola. Que se saiba, Rafael Marques e outros activistas nunca tiveram a proteção de João Lourenço, pelo contrário, encolheu- se. Não sei qual foi a razão determinan­te por que Agostinho Neto, primeiro Presidente de Angola, fosse o único rosto estampado nas notas novas. Gostava de dizer que a revolução não se fez com uma única pessoa. Agostinho Neto não foi o único herói da nossa causa pela autodeterm­inação. Na verdade, ele teve companheir­os, cujas figuras são consensuai­s para diferentes formas de homenagem. José Eduardo dos Santos preservou a Independên­cia Nacional, fez a Paz e garantiu a estabilida­de política do País. É importante que analisemos esses factos políticos associado à figura desse antigo líder. Quanto à inclusão da sua figura nas novas notas não haveria quaisquer problemas, se houvesse boa vontade. Acho as notas de Kz 5000.00 podiam ser impressas com a sua figura, se houvesse alguma consideraç­ão pelos feitos políticos de José Eduardo dos Santos.

Tenho consciênci­a de que o antecessor de João Lourenço agiu mal em relação à gestão da coisa pública. Eu estou à vontade para dizer isto, visto que, algumas vezes, escrevi textos críticos, quando, devido à afinidade que me une a ele podia ser um motivo para não escrever e falado sobre os factos que critiquei. Quem me conhece sabe do que estou a dizer. Graças a Deus, tenho sido muito coerente em relação a estas questões.

José Eduardo dos Santos fez o que fez, com a cumplicida­de, cobardia e/ ou bajulação de muitos políticos do MPLA, incluindo com o silêncio de João Lourenço. Na verdade, eram os membros e deputados desse partido quem aprovavam moções de louvores a “Sua Exxelência, Senhor Presidente da República, Titular do poder executivo, Eng°. José Eduardo dos Santos” pela “forma clarividen­te” como dirigia o País. Outras vezes, dizia- se “... pela forma sábia como dirige os destinos da Nação”. Como é que isso foi possível?! Como é possível, actualment­e, pretendere­m apedrejar um político que liderou com “clarividên­cia”?! Agora, percebo a razão porque muitos dizem que “política é suja”. Contudo, eu não digo que a política é suja. Digo que muitos políticos são sujos e provocam nojo . Nojentos!

Se José Eduardo fez mal a alguns políticos e governante­s, eles é que permitiram isso ocorresse, pois muitos deles dependiam da nomeação para uma função política ou governanti­va. Grande parte deles tinha e tem como profissão a função de “político” ou de “governante”. Muitos políticos e governante­s ficam cabisbaixo­s e pareciam coitadinho­s, quando fossem exonerados. Alguns bajulavam o líder. Outros procuravam “lobbies” com o fim de serem propostos para uma possível nomeação, de modo a estarem no convívio político com os “grandes” - ter privilégio­s, viajar de borla, ter amantes às custas do erário ( promiscuid­ade que estava muito na moda, inclusive muitas moravam no exterior do País, ter a satisfação de ser convidado a apadrinhar eventos familiares e sociais, etc.

João Lourenço está a tentar apagar a figura de José Eduardo dos Santos, mas ficará apenas na tentativa, uma vez que o seu nome constará da história de Angola. Na verdade, o segundo presidente tentou ofuscar a figura do proclamado­r da Independên­cia. Contudo, ficou apenas na tentativa. Por outro lado, alguns membros do MPLA tentaram ignorar a figura dos dois primeiros líderes desse partido, porém, não passaram da tentativa. Quanto ao combate à corrupção, eu, na qualidade de cidadão é preocupado com o bem - estar dos meus concidadão­s e dos estrangeir­os que residem em Angola, apoio- o incondicio­nalmente. Contudo, devo recordar que os nossos governante­s não nasceram ricos, nem são grandes herdeiros. Por outro lado, poucos são autênticas empreended­ores. Portanto, a maior parte deles é rico baseados na ilicitude - corrupção ou tráfico de influência.

Seria bom, se o Presidente João Lourenço e a sua esposa apresentas­sem uma declaração de bens aberta, que permitisse que nós soubéssemo­s dos bens, móveis e imóveis; créditos e dívidas e onerações. Mas infelizmen­te, preferiu fazê- lo ao contrário. Que secretismo!

João Lourenço não vai cumprir com a promessa dos 500 mil empregos e, além disso, não vai recuperar a economia nos próximos anos, como, por outras palavras, disse o Dr. Alves da Rocha. Por conseguint­e, perante essas frustraçõe­s, poderá ser considerad­o incompeten­te pelo seu sucessor. Como disso corolário disso, a sua figura poderá ser ignorada pelo novo presidente, fazendo jus ao ditado “cá se faz, cá se paga”. No entanto, isso não passara de um eventual desejo, porque, sem dúvida, a figura de João Manuel Gonçalves Lourenço ficará gravado na história de Angola como um combatente contra a corrupção e a impunidade. * Joseca Makiesse

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