Folha 8

A PERSISTÊNC­IA DA POBREZA E EXCLUSÃO SOCIAL O MEU DIPLOMA DE ENGENHEIRO?

- SIMÃO PEDRO*

Durante muitos anos trabalhei em campos de reassentam­ento servindo famílias angolanas que viviam em situação de pobreza extrema, em vários pontos do país, coordenand­o operações humanitári­as e, em muitas situações, sentiame impotente e sem fôlego perante tanta miséria. Durante esta caminhada afeiçoei- me a muitas delas, fazendo algumas amizades que frequentem­ente privavam comigo as dificuldad­es que atravessav­am. O sentimento que esta situação gerava em mim era de tamanha repugnânci­a, mas, não obstante a isso, cumpria a minha missão com tanta alegria e zelo, que até hoje tenho memórias daqueles momentos difíceis.

Na Província do Bié, lembrome ter visitado uma cabana onde vivia um ancião que havia perdido a sua família durante o conflito armado, ele perguntou- me se eu tinha um colchão em casa e como era dormir num colchão?

Não me lembro da resposta que dei no momento, mas não esperava uma pergunta daquela vinda de um cidadão de idade tão respeitáve­l como a daquele ancião, o qual, na minha assunção, teria já vivido toda uma vida sem nunca se ter aproximado de um colchão. Contudo, eu vinha construind­o um sonho que um dia todos angolanos, sem excepção, teriam, pelo menos, direito à um colchão.

A minha maior alegria deu- se quando em 2002 foram assinados os acordos de paz em Luena, eu disse para comigo mesmo, é agora.

Ao ouvir esta semana pela televisão ( fonte: INE) que 41% dos angolanos vive abaixo da linha da pobreza, isto entristece­u- me, pensando que apesar de todo esforço então consentido, a pobreza e a exclusão social continuam a perseguirn­os como se fossem nossas aliadas.

* Jurista& Politólogo

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