MIA COUTO CONSIDERA ESTRANHO O “ESQUECIMENTO” DE AGUALUSA
O escritor moçambicano Mia Couto aproveitou, há dias, em Maputo, a cerimónia de lançamento do livro “O terrorista elegante e outras histórias” para criticar o facto de José Eduardo Agualusa não ter sido laureado com o Prémio Camões, o mais importante de língua portuguesa.
Citado pelo jornal moçambicano “O País”, Mia Couto, que venceu o Camões em 2013, disse que o escritor angolano, autor de 14 romances, já deu provas da qualidade literária, ao ponto de, internacionalmente, pelo menos em espaços de língua inglesa, ser reconhecido, faltando apenas acontecer, ao mais alto nível, no que se considera “lusofonia”. “Não é por ser amigo do Agualusa”, disse Mia Couto, realçando que nunca pensou em dizer tais palavras em público. “Eu preciso de dizer isto. Acho muito estranho que Agualusa nunca tenha ganho o Prémio Camões. Ele foi finalista do Man Booker Prize, que é dos prémios mais importantes do mundo, depois do Nobel; ganhou o International Dublin Literary Award, que é um dos mais prestigiosos do mundo. Ou seja, ele ganhou prémios em vários cantos, mas na comunidade lusófona não há esse reconhecimento? Certamente que há razões de acertos políticos que não deviam estar presentes quando, se faz a avaliação da qualidade literária de uma obra”, avançou Mia Couto. Ainda na cerimónia de lançamento de “O terrorista elegante e outras histórias”, em que os autores conversaram longamente com os leitores, Mia Couto reconheceu que a carreira literária de Agualusa foi mais difícil do que a sua. “Por isso, fico muito feliz que ele tenha vencido o Prémio Nacional de Cultura em Angola, depois de vários anos em que foi uma figura pouco simpática para o regime”. Para Mia Couto, “o regime angolano mudou a ponto de aceitar um filho da terra”
José Eduardo Agualusa
José Eduardo Agualusa [Alves da Cunha] nasceu no Huambo, Angola, em 1960. Estudou Silvicultura e
Agronomia em Lisboa, Portugal. Os seus livros estão traduzidos em 25 idiomas. Beneficiou de três bolsas de criação literária: a primeira, concedida pelo Centro Nacional de Cultura em 1997 para escrever « Nação Crioula», a segunda em 2000, concedida pela Fundação Oriente, que lhe permitiu visitar Goa durante 3 meses e na sequência da qual escreveu « Um estranho em Goa» e a terceira em 2001, concedida pela instituição alemã Deutscher Akademischer Austauschdienst. Graças a esta bolsa viveu um ano em Berlim, e foi lá que escreveu « O ano em que Zumbi tomou o Rio».
No início de 2009 a convite da Fundação Holandesa para a Literatura, passou dois meses em Amesterdão na Residência para Escritores, onde acabou de escrever o romance, «Barroco Tropical». Escreve crónicas para o jornal brasileiro O Globo, a revista LER e o portal Rede Angola. Realiza para a RDP África “A hora das Cigarras”, um programa de música e textos africanos. Em 2017 venceu o Prémio Literário Internacional de Dublin pelo romance “A Teoria Geral do Esquecimento”. Vive actualmente em Maputo com a esposa. É membro da União dos Escritores Angolanos.