ISABEL? SIM. E OS OUTROS?
OLuanda Leaks acrescenta dados novos a suspeitas antigas. Ficam claramente demonstradas as origens corruptas do império de Isabel dos Santos e a forma como acumulou riqueza do povo angolano para enriquecimento pessoal e muitos dos prejuízos que isso causou ao povo angolano, de que o triste episódio da Areia Branca, em Luanda, é talvez o exemplo mais violento.
Mas esta investigação não arranca a máscara apenas a Isabel dos Santos. Estão aqui documentadas as amplas redes de cumplicidade e identificados os capatazes da corrupção que a ajudaram a montar o seu império de sangue em várias respeitáveis capitais europeias, com Lisboa à cabeça.
Esta não é uma história angolana, é uma história global de corrupção, de abuso e de violência praticada sobre um povo – o angolano – mas que beneficia toda uma elite política e económica em vários países, acobertada atrás de grandes escritórios de advogados, gestores, banqueiros e propagandistas de imagem. Os lavadores de dinheiro, os lavadores de leis e os lavadores de reputação trabalharam arduamente, e de forma lucrativa ao longo de muitos anos, para manter a máquina de espoliação de Angola a funcionar.
O que se exige agora, que a verdade foi publicada, é que os respeitáveis países europeus – e Portugal antes de todos – confronte as suas responsabilidades políticas, judiciais e económicas neste esquema indecoroso. Estão em cheque não só os maiorais de Isabel dos Santos mas as autoridades políticas, regulatórias e judiciais de Portugal que têm contribuído para com o seu silêncio cúmplice, ou a sua colaboração activa, para este estado de coisas.
E espera-se que o justificado empenho do Estado angolano na perseguição desta corrupção estrutural se estenda também a outros actores do regime que têm feito negócios semelhantes com a cumplicidade ou cobertura do Estado – a começar por Manuel Vicente que, apanhado em circunstâncias idênticas, teve direito a uma defesa vigorosa por parte do Presidente João Lourenço.
(*) Presidente da Direcção da Transparência e Integridade