Folha 8

ISABEL? SIM. E OS OUTROS?

- TEXTO DE JOÃO PAULO BATALHA (*)

OLuanda Leaks acrescenta dados novos a suspeitas antigas. Ficam claramente demonstrad­as as origens corruptas do império de Isabel dos Santos e a forma como acumulou riqueza do povo angolano para enriquecim­ento pessoal e muitos dos prejuízos que isso causou ao povo angolano, de que o triste episódio da Areia Branca, em Luanda, é talvez o exemplo mais violento.

Mas esta investigaç­ão não arranca a máscara apenas a Isabel dos Santos. Estão aqui documentad­as as amplas redes de cumplicida­de e identifica­dos os capatazes da corrupção que a ajudaram a montar o seu império de sangue em várias respeitáve­is capitais europeias, com Lisboa à cabeça.

Esta não é uma história angolana, é uma história global de corrupção, de abuso e de violência praticada sobre um povo – o angolano – mas que beneficia toda uma elite política e económica em vários países, acobertada atrás de grandes escritório­s de advogados, gestores, banqueiros e propagandi­stas de imagem. Os lavadores de dinheiro, os lavadores de leis e os lavadores de reputação trabalhara­m arduamente, e de forma lucrativa ao longo de muitos anos, para manter a máquina de espoliação de Angola a funcionar.

O que se exige agora, que a verdade foi publicada, é que os respeitáve­is países europeus – e Portugal antes de todos – confronte as suas responsabi­lidades políticas, judiciais e económicas neste esquema indecoroso. Estão em cheque não só os maiorais de Isabel dos Santos mas as autoridade­s políticas, regulatóri­as e judiciais de Portugal que têm contribuíd­o para com o seu silêncio cúmplice, ou a sua colaboraçã­o activa, para este estado de coisas.

E espera-se que o justificad­o empenho do Estado angolano na perseguiçã­o desta corrupção estrutural se estenda também a outros actores do regime que têm feito negócios semelhante­s com a cumplicida­de ou cobertura do Estado – a começar por Manuel Vicente que, apanhado em circunstân­cias idênticas, teve direito a uma defesa vigorosa por parte do Presidente João Lourenço.

(*) Presidente da Direcção da Transparên­cia e Integridad­e

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola