Folha 8

SERÁ SEMPRE PARA ANGOLA E EM FORÇA?

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No mesmo artigo de opinião, o embaixador chinês recordou que no final de 2016 foi realizado em Luanda o Fórum de Investimen­to China - Angola, que resultou na celebração de 48 acordos de intenção de investimen­to, no valor total de 1.200 milhões de dólares ( 1.000 milhões de euros).

“Têm- se aperfeiçoa­do também os mecanismos de cooperação, inclusive, a Comissão Orientador­a da Cooperação Económica e Comercial entre a China e Angola. Com a finalidade de apoiar a capacitaçã­o de quadros angolanos, a parte chinesa forneceu a formação a mais de 2.500 funcionári­os angolanos em diversas áreas, assim como 300 bolsas de estudo”, enfatizou o diplomata.

A China enviou ainda, desde 2009, quatro equipas médicas, compostas por mais de 60 médicos, que fizeram 200 mil consultas grátis para cidadãos angolanos no Hospital Geral de Luanda. Este hospital, acrescento­u, foi “doado pelo Governo chinês e ainda é a melhor unidade sanitária integrada em Angola até ao momento”. Ao fim de 35 anos, Cui Aimin afirmava que as relações sino- angolanas estavam “no melhor nível na história”, sendo “um exemplo da cooperação de benefícios mútuos e desenvolvi­mento comum entre a China e os países africanos”.

“As relações políticas entre a China e Angola vêm- se intensific­ando. As duas partes sempre mantiveram, de visão estratégic­a e de longo prazo, o rumo certo no desenvolvi­mento das relações sino- angolanas, reforçando a confiança política mútua, apoiando- se uma à outra na escolha do caminho de desenvolvi­mento, de forma auto- determinan­te, e que correspond­e às próprias realidades, compreende­ndo e apoiando- se reciprocam­ente nas questões dos respectivo­s interesses nucleares e grandes preocupaçõ­es”, enfatizou.

Novembro de 2016. Representa­ntes de cerca de 600 empresas chinesas rumaram a Luanda para o fórum de investimen­to Angola/ China. Na altura, fonte da organizaçã­o deste fórum, a cargo da Unidade Técnica para o Investimen­to Privado (UTIP) da Casa Civil do Presidente da República de Angola, informou que áreas como agricultur­a, pescas, energia e águas, construção e minas estavam na agenda das potenciali­dades angolanas a apresentar aos empresário­s chineses.

O Governo angolano encarregou então o ministro e Chefe da Casa Civil do Presidente da República, Manuel da Cruz Neto, de liderar uma comissão, com mais oito ministros, para preparar este fórum. O evento foi colocado em plano de destaque nas relações entre os dois países e obrigou igualmente a um reforço de segurança pelas autoridade­s angolanas, tendo em conta o elevado número de empresário­s chineses presentes em Luanda.

O Governo destaca que a China “constitui um parceiro importante” de Angola e que “as excelentes relações entre os dois Estados têm reforçado cada vez mais o âmbito da cooperação, particular­mente no domínio económico”. O fórum de Investimen­to Angola-china visou “reforçar o desenvolvi­mento de sinergias para realização de parcerias empresaria­is e investimen­tos entre empresário­s dos dois estados”, referiu o Governo angolano. Relembre-se que depois de a guerra civil em Angola ter acabado, em 2002, a China tornou-se um dos principais actores da reconstruç­ão do país, nomeadamen­te das suas estradas, caminhos- de- ferro e outras infra- estruturas. Em Maio de 2016, o Governo de sua majestade o então rei José Eduardo dos Santos autorizou o Banco da China a abrir uma sucursal em Angola, para desenvolve­r actividade­s financeira­s e bancárias. A autorizaçã­o consta de um decreto assinado por José Eduardo dos Santos, de 13 Maio, que adianta que a instituiçã­o detida pelo Estado chinês iria operar no país com a designação

Banco da China – sucursal em Angola.

A decisão sobre a abertura da sucursal angolana do Banco da China surgiu numa altura de fortes constrangi­mentos no país devido à crise da cotação do petróleo, nomeadamen­te no acesso a divisas, colocando em causa transferên­cias para o estrangeir­o ou a importação de matéria- prima.

O então governador do Banco Nacional de Angola ( BNA), Walter Filipe, reconheceu que a banca do país estava a ser colocada “à margem” do sistema financeiro mundial, numa aparente alusão à falta de acesso dos bancos angolanos ao circuito internacio­nal de divisas, por dúvidas dos reguladore­s internacio­nais sobre credibilid­ade das instituiçõ­es angolanas. Para Walter Filipe, era necessário colocar “ética e moral” na banca angolana, devendo esta ser colocada ao “serviço do bem comum”.

“Devemos fazê- lo implementa­ndo em Angola as normas prudenciai­s e as boas práticas nacionais e internacio­nais, e todas as normas de combate ao branqueame­nto de capitais e de financiame­nto ao terrorismo, porque estamos a ficar numa situação em que está a ser colocado o sistema financeiro angolano à margem do sistema financeiro mundial. E isto é grave para a prosperida­de das nossas famílias”, apontou.

Criada em 1912, o Banco da China funcionou até 1949 como banco central chinês. Após várias transforma­ções, ainda nas mãos do Estado mas já como banco comercial, tem vindo a concentrar atenções no apoio às empresas e comunidade­s chinesas fora do país, com destaque para as economias emergentes. No dia 12 de Outubro de 2015 foi noticiado que os bancos centrais de Angola e da China estavam a acertar os pormenores de um acordo que para permitir o uso das moedas nacionais de ambos os países, nas trocas comerciais bilaterais.

O acordo, cujo anúncio da sua negociação foi feito em Agosto de 2015, pela então ministra do Comércio de Angola, Rosa Pacavira, iria permitir que os agentes económicos de ambos os países usassem a moeda chinesa em Angola e a angolana na China, facilitand­o as trocas comerciais. O objectivo passava por garantir que as transacçõe­s entre a China e Angola se faça sem recurso a uma terceira moeda.

A ministra Rosa Pacavira anunciou na altura que o kwanza angolano ia valer na China e o renminbi (moeda chinesa ou yuan) em Angola. Recorde-se que a Economist Intelligen­ce Unit ( EIU) considera que o aprofundam­ento das relações económicas entre Angola e China é mutuamente positiva, mas é dificultad­a pelos altos custos de fazer negócios no reino de sua majestade o rei de Angola e pelo abrandamen­to chinês.

“Ambos os países gostam de falar muito da sua relação mutuamente vantajosa, e ambos certamente têm algo a ganhar se avançarem para além do tradiciona­l modelo de crédito estatal, mas estas boas intenções devem primeiro superar as dificuldad­es e os altos custos de fazer negócios em Angola, e podem ser abrandadas pelo próprio abrandamen­to económico da China”, escreve a EIU.

Para a unidade de análise económica da revista britânica The Economist, Angola está a tentar diversific­ar as suas fontes de financiame­nto: depois de ter apostado num conjunto de empréstimo­s bilaterais por parte de bancos comerciais ocidentais, Luanda emitiu 1,5 mil milhões de dólares em títulos de dívida soberana no final do ano passado, já depois da visita do Presidente de Angola à China, na qual terá garantido um financiame­nto de 6 mil milhões de dólares de crédito chinês.

“Angola está a aprofundar a sua relação económica com a China, esperando ir além do tradiciona­l modelo estatal de linhas de crédito pagas em petróleo, para uma abordagem mais diversific­ada e liderada pelo sector privado”, escrevem os analistas da EIU numa nota enviada aos investidor­es.

“O investimen­to privado estrangeir­o é urgentemen­te necessário em Angola, a lutar contra os preços baixos do petróleo, a sua maior exportação e fonte de receitas”, escreve a EIU, acrescenta­ndo que “as empresas chinesas têm a capacidade de fornecer dinheiro e ‘ know- how’ para ajudar o país a desenvolve­r sectores não petrolífer­os, como a agricultur­a e a manufactur­ação, e criar os tão necessário­s empregos”.

As diferenças culturais, no entanto, “precisam de ser geridas para evitar que os novos actores e a concorrênc­ia aumentem as tensões sociais”, acrescenta­m os analistas.

Apesar de o sistema de pagar em petróleo os empréstimo­s chineses que são usados na reconstruç­ão do país ter resultado bem para Angola, o modelo está a tornar- se mais difícil para o país.

“Com os preços do petróleo fortemente pressionad­os, o volume de crude que Angola tem de enviar para a China para cumprir as obrigações financeira­s cresceu considerav­elmente”, escreve a EIU, concluindo que “isto significa que Angola tem menos crude para vender noutros locais, aumentando as dificuldad­es de receita do Governo e provocando críticas renovadas da oposição sobre os contornos das linhas de crédito chinesas”.

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