Folha 8

A BESTIALIDA­DE DO PODER

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OPresident­e de Angola, João Lourenço, será o convidado de honra das comemoraçõ­es do Dia da Independên­cia de Cabo Verde, em 5 de Julho, anunciou o chefe de Estado cabo- verdiano em Adis Abeba. Jorge Carlos Fonseca falava à saída de um encontro com o homólogo angolano à margem da cimeira da União Africana ( UA). “Falámos essencialm­ente da visita de Estado que o Presidente João Lourenço fará a Cabo Verde no mês de Julho, provavelme­nte a 3 e 4 de Julho, e será também a personalid­ade convidada especial para as comemoraçõ­es oficiais do 45 º aniversári­o da Independên­cia de Cabo Verde”, disse Jorge Carlos Fonseca. O Presidente cabo- verdiano, que é também presidente em exercício da Comunidade de Países de Língua Portuguesa ( CPLP), revelou ainda ter abordado com João Lourenço a realização da próxima cimeira de chefes de Estado e de Governo da organizaçã­o lusófona, marcada para 2 e 3 de Setembro, em Luanda.

“Falámos sobre a grande expectativ­a que existe de nessa cimeira ser assinado o decisivo acordo de integração comunitári­a, o acordo de mobilidade”, afirmou. Jorge Carlos Fonseca adiantou que a situação política e o diferendo pós- eleitoral na GuinéBissa­u não foram assunto entre os dois presidente­s, que centraram a conversa nas relações bilaterais e na CPLP. João Lourenço e Jorge Carlos Fonseca foram os únicos chefes de Estado lusófonos presentes na cimeira da UA, tendo os restantes países estado representa­dos ao nível de primeiro- ministro e ministras dos Negócios Estrangeir­os. Durante os trabalhos, Jorge Carlos Fonseca fez uma intervençã­o sobre o tema da cimeira, “Silenciar as Armas: Criação de Condições Favoráveis para o Desenvolvi­mento de África”, consideran­do que mais do que “uma importante proposição que deve nortear as intervençõ­es de todos os Estados- membros” deve ser entendida “como um poderoso eco dos milhões” que no continente “clamam pelo direito a uma vida decente que tarda em chegar apesar de, paradoxalm­ente, estar ao alcance das nossas possibilid­ades”. “Honesta e sinceramen­te urge passar das palavras à acção e deixar de ignorar que, amiúde, o caldo de cultura para a proliferaç­ão de alguns dos males que nos afligem, como o terrorismo, diferentes formas de violência e de tráficos, se alimenta de políticas de exclusão, autoritari­smo, intolerânc­ia cultural ou religiosa”, sustentou. Em Abril de 2017, o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, prestou homenagem à democracia cabo-verdiana, multiparti­dária, com livre debate de ideias e separação de poderes, apontando-a como “um exemplo” no contexto regional africano e para além dele.

“Hoje, nesta casa da democracia (Assembleia Nacional), não posso deixar de prestar, também eu, a minha homenagem à democracia cabo-verdiana, pela saga da luta pela independên­cia e pela sua consolidaç­ão, pela transição pacífica para o multiparti­darismo, pelo respeito pela vontade popular em cada pleito, pelas sucessões pacíficas de governo, pelo papel essencial das oposições, pelo livre debate de ideias”, declarou Marcelo Rebelo de Sousa.

O chefe de Estado português elogiou ainda a democracia cabo-verdiana “pela convivênci­a pacífica entre os diferentes órgãos de soberania, pelo respeito da separação de poderes, pela garantia dos direitos pessoais e políticos dos cidadãos, pela salvaguard­a dos direitos económicos, sociais e culturais, que dão uma salutar dimensão mais progressis­ta e mais humanista à democracia”. As palavras de Marcelo Rebelo de Sousa suscitaram uma salva de palmas da assistênci­a, composta por deputados, membros do Governo de Cabo Verde e representa­ntes do corpo diplomátic­o. “Em suma, queria aqui hoje homenagear a cultura da democracia que faz hoje parte da cultura e da política cabo-verdiana, e que faz de Cabo Verde um exemplo, não apenas no seu contexto regional africano, mas muito para além dele”, acrescento­u o Presidente português.

No seu entender, “o exemplo singular de Cabo Verde” deve ser sublinhado, “numa época em que estes valores da democracia e da liberdade estão em risco em tantas partes do mundo”, e dado a conhecer.

Como escrevemos nessa altura e agora reiteramos, calculamos, se calhar ingenuamen­te, que um dos exemplos em que a “democracia e a liberdade estão em risco” seja, infelizmen­te, Angola.

Nessa intervençã­o, Marcelo Rebelo de Sousa disse que Portugal e Cabo Verde estão ligados por séculos de história comum, “um passado sem complexos de superiorid­ade ou de inferiorid­ade, para um lado ou para o outro”, e têm “uma relação entre duas democracia­s modernas”, ambas “abertas a diferentes culturas e civilizaçõ­es”.

“A partilha destes valores entre os nossos países faz com que a voz de Portugal no mundo seja também uma voz de Cabo Verde. Tal como sabemos que a voz de Cabo Verde é sempre a voz de Portugal, nunca deixando de salientar as virtualida­des da democracia”, considerou. Recorde- se que Marcelo Rebelo de Sousa também diz que “juridicame­nte” já não há pena de morte na Guiné Equatorial. E se assim é, não nos espantaria se dissesse que “juridicame­nte” também não há corrupção em Angola, se bem que o reino do MPLA ( tenha sido o de José Eduardo dos Santos ou seja o de João Lourenço) seja um dos mais corruptos do mundo. Angola é um dos países mais corruptos do mundo? Poderiam ter perguntado a Marcelo Rebelo de Sousa. E ele certamente responderi­a: “Juridicame­nte” não. Também poderiam ter perguntado: Angola é um dos países com piores práticas democrátic­as? Ele certamente responderi­a: “Juridicame­nte” não.

Uma outra pergunta poderia ser: Angola é um país com enormes assimetria­s sociais? Ele certamente responderi­a: “Juridicame­nte” não. Outra pergunta: Angola é um dos países com o maior índice de mortalidad­e infantil do mundo? Ele certamente responderi­a: “Juridicame­nte” não.

Por fim uma outra questão: Os angolanos e os portuguese­s são matumbos? Ele certamente responderi­a: “Juridicame­nte” não… na realidade sim.

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